Suinocultura sofre perdas nos vales e na Serra

Suinocultura sofre perdas nos vales e na Serra

Apesar da morte de animais e dos danos à infraestrutura de propriedades causados pela calamidade climática, o Rio Grande do Sul ainda terá produção preservada

Poti Silveira Campos

Produtor de Tupandi perdeu pocilga e 450 porcos

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Quase 20 dias depois do início das chuvas, inundações e enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, a suinocultura gaúcha ainda está longe de encerrar a contabilidade de prejuízos. O setor identificou, no entanto, que as perdas mais trágicas ocorreram nos vales do Rio Taquari, principalmente, do Rio Caí e na Serra, mas sem provocar queda expressiva da produção estadual.

“Há perdas significativas localizadas, pontuais, mas nada que comprometa a produção gaúcha”, diz o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

“A suinocultura gaúcha está razoavelmente bem. No norte e noroeste do Estado, e no Planalto Médio, onde se encontra 70% ou 75% da suinocultura, a chuva danificou estradas, criou dificuldades de acesso, mas não teve grandes perrengues”, afirma o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador.

Os dois dirigentes aguardam que as águas baixem e que termine o isolamento dos produtores, por impossibilidade de comunicação ou de acesso, para obter dados objetivos sobre a extensão dos prejuízos e da destruição. Folador dispõe de estimativas parciais. Nas regiões do Taquari, do Caí e da Serra, 12 mil animais teriam sido perdidos, de acordo com ele.

“É um volume significativo, mas, em relação ao estoque de animais que temos hoje no Rio Grande do Sul, é pouco”, afirma Folador, calculando o rebanho de suínos do Estado entre cinco milhões e seis milhões de cabeças, com percentual entre 20% e 30% localizado naquelas áreas. “Doze mil animais seria a capacidade de abate de uma das plantas integradoras, em Lajeado. Bota cinco dias de abate”, complementa.

Se as perdas são pouco expressivas em relação ao cenário geral, o mesmo não se pode dizer quando considerada a realidade individual do produtor. Além da eventual morte de animais, muitas propriedades sofreram danos consideráveis em infraestrutura.

“Pelo levantamento que a gente tem, parcialmente, estamos falando em 15 mil metros quadrados de área construída para suinocultura que teria sido parcial ou totalmente avariada”, afirma Folador.

É o que ocorreu com o suinocultor Ivo Bernardo Mayer, 60 anos, na localidade do Vale do Reno, em Tupandi, no Vale do Caí. Mayer perdeu toda a pocilga, para a qual, duas semanas antes da tragédia climática, havia recebido um lote de 600 suínos para terminação. De acordo com informações divulgadas pela prefeitura local, somente 150 suínos permaneceram vivos e serão devolvidos à integradora para realocação.

“Nunca imaginei passar por isso, recém havíamos terminado de pagar as dívidas e estávamos felizes que teríamos um lucro maior no fim do mês”, diz Mayer.

A pocilga foi construída em 2010. Em 2022, o produtor investiu R$ 100 mil em automatização. “É triste ver tudo perdido em segundos. Nem sequer teremos o seguro para cobrir a reconstrução. Em nossa idade, não teremos mais condições nem coragem para iniciar todo o processo novamente. Vamos buscar outra atividade”, afirma Mayer.

Entre as boas notícias, Santin salienta que 15 dos 16 frigoríficos da suinocultura gaúcha retomaram suas operações, incluindo empreendimentos localizados na área de maior destruição, no Vale do Taquari. “Está afastado o risco de desabastecimento”, comemora o presidente da ABPA.

Santin também destaca que, em alguns casos, recomeçaram as atividades de exportações. Para as plantas, diz ele, a logística constitui hoje uma das principais dificuldades. O dirigente cita a interdição da ponte entre Nova Petrópolis e Caxias do Sul, na BR-116, como um dos complicadores nas rotas realizadas pelas empresas.

“Para levar uma ração que antes percorria 20 quilômetros, agora está precisando 120 quilômetros. Para levar um contêiner ao porto, antes uns 300 quilômetros, agora são 700 quilômetros. Tem que gastar mais e leva mais tempo”, explica Santin.

A consequência, antecipa, será a queda de rentabilidade das integradoras. “As empresas vão continuar produzindo e exportando, mas não vão conseguir rentabilizar. Esta máquina vai precisar de auxílio governamental”, conclui.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895