Títulos verdes dão seus primeiros passos no Brasil

Títulos verdes dão seus primeiros passos no Brasil

Ministério da Agricultura entende que agropecuária nacional tem muitos atrativos para investidores dispostos a apostar em projetos sustentáveis

Nereida Vergara

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Papéis como o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e a Cédula do Produtor Rural (CPR), aprimorados pela Lei do Agro, em vigor desde o ano passado, poderão no futuro ser enquadrados como títulos verdes e ganhar uma nova dimensão como fonte de financiamento das atividades agropecuárias no Brasil. Os chamados green bonds são títulos de renda fixa, que podem ser emitidos por entes financeiros privados ou governamentais, para serem usados na captação de recursos destinados a financiar exclusivamente projetos sustentáveis, de energia renovável, gestão de resíduos ou desenvolvimento florestal, entre outros.

O assunto foi tratado pela ministra Tereza Cristina em evento conjunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente com a Rede Brasil pelo Pacto Global neste mês. Segundo a ministra, a produção agropecuária brasileira é cada vez mais sustentável, com o plantio de grãos tendo crescido 425% em 40 anos, numa área plantada que aumentou no período apenas 40%. “Queremos aproveitar os mercados financeiros e domésticos ainda com muita liquidez”, ressalta Tereza Cristina. “Existem trilhões de dólares e reais em busca de boas alternativas de investimento, melhores retornos e riscos menores e o nosso agronegócio oferece, com certeza, essas oportunidades.”

Em 2019, o país conseguiu emitir apenas 1,5 bilhão de dólares em títulos verdes, em torno de 0,5% do total de papéis deste tipo em todo o mundo. O empresário Moacir Ferreira Teixeira, proprietário da EcoAgro, securitizadora agrícola, vê um mercado promissor para o agro neste formato. A empresa realizou no ano passado uma operação de R$ 25 milhões com a empresa Rizoma, produtora de milho orgânico, a primeira do Brasil a emitir este tipo de papel dentro dos critérios de agricultura sustentável. Teixeira afirma que o processo de habilitação do produtor para captar este tipo de investimento é complexo, mas menos do que se possa imaginar, e pode ser concluído ao longo da operação e não necessariamente antes de ela começar. “O Brasil tem o melhor código florestal do planeta e há muitos investidores interessados em financiar projetos voltados à preservação”, complementa.

O economista chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, diz que esse tipo de operação ainda deve demorar a chegar no Rio Grande do Sul, pela alta complexidade e pela exigência de certificações de sustentabilidade da produção. “O produtor recém começou a aprender como fazer operações de crédito estruturado”, pondera.


Correio do Povo
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