Taxas de juro limitam acesso de cooperativas a linhas de capital de giro do BNDES

Taxas de juro limitam acesso de cooperativas a linhas de capital de giro do BNDES

Taxas ficam entre 13% e 15% por cooperativas não exportadoras, conforme informou o banco ao Grupo de Trabalho do setor de proteína animal do RS

Thaise Teixeira

publicidade

As taxas de juros do capital de giro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) disponibilizado para cooperativas agropecuárias desde o dia 17 de outubro devem limitar a efetivação das operações. Conforme o diretor do banco Alexandre Abreu informou o Grupo de Trabalho do setor de proteína animal do RS, os juros da linha Crédito Cooperativas situam-se entre 13% a 15% ao ano para as unidades não exportadoras. Para as que atuam no mercado internacional, as taxas vão de 8% a 8,5%, com possibilidade de atrelar a dívida ao câmbio. “As taxas são proibitivas para quem não exporta. E quem exporta tem que ter volume para travar o câmbio. É muito preocupante e, pelo que temos visto, ninguém que vai acessar o crédito com essas taxas. É muito desafiador. O dinheiro não socorre as cooperativas. Fica difícil fazer uma avaliação positiva de todo esse processo.”, lamenta o presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Darci Hartmann. 

Os recursos são disponibilizados no âmbito do BNDES Crédito Rural e têm uma demanda estimada de até R$ 1 bilhão na safra 2023/2024, segundo divulgou a instituição financeira, em nota. As operações protocoladas até o dia 31 de março de 2024 terão um prazo de pagamento de até cinco anos, com carência de até um ano, especialmente se forem efetivadas pelas cooperativas localizadas em municípios cujo estado de calamidade ou de emergência tenha sido reconhecido pelo governo federal desde 1° de janeiro de 2021. “A partir de abril de 2024, a linha irá operar com prazo de pagamento de até dois anos e carência de até seis meses”, informa o BNDES. 

As mesmas projeções de correção são aplicadas ao capital de giro ofertado às indústrias do setor de proteína animal. Porém, segundo interlocutores que participaram da reunião com Abreu, realizada de forma virtual na última sexta-feira, o crédito só poderá ser acessado pelas empresas com faturamento superior a R$ 300 milhões ao ano. “Praticamente, todas as indústrias suinícolas gaúchas têm faturamento maior que R$ 300 milhões. O que se precisa é capital de giro novo para dar suporte às operações atuais. O que as empresas estão solicitando são linhas de crédito para fazer essa travessia de dificuldades”, argumenta o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS (Sips), Rogério Kerber. O dirigente salienta que o setor aguarda retorno do banco sobre a possibilidade de reduzir o patamar das correções para as indústrias não exportadoras. “As avaliações e os debates não se encerraram ainda. Essa reunião foi mais uma entre as que já ocorreram. Vamos continuar insistindo e esperamos uma sinalização do banco nos próximos dias”, comenta. 

Darci Hartmann informa que o Sistema Ocergs/Sescoop deve mobilizar o setor de proteína animal nesta quarta-feira para debater a questão. “Vamos nos reunir com as indústrias e as cooperativas de proteína animal para, então, nos posicionarmos formalmente. O mais importante, agora, é tirar uma posição de todas as cooperativas, já que somos uma organização e não somos tomadores desse crédito”.  

Articulador da reunião com o BNDES, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária Gaúcha da Assembleia Legislativa, deputado Elton Weber, reconhece que aguardava taxas entre 6% ou 7%. “Esperávamos que elas ficassem em menos de dois dígitos”, diz. Contudo, o parlamentar considerou pósitiva a confirmação sobre a terceira repactuação de investimentos contratados nas últimas duas safras no âmbito do Pronaf. “Isso significa que os juros do contrato original se mantêm”, lembra. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895