Aumento de casos no RS sinaliza nova onda da Covid-19

Aumento de casos no RS sinaliza nova onda da Covid-19

Circulação da nova subvariante BQ.1 pode estar por trás do crescimento da doença

Felipe Samuel

Em uma semana, houve crescimento de 233,13% dos casos positivos em testes rápidos de laboratório

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A confirmação da circulação da subvariante da Ômicron BQ.1 e o aumento de casos positivos da doença na última semana no Rio Grande do Sul servem de alerta à população. O cenário é semelhante ao observado em países da Europa e nos Estados Unidos, onde a sublinhagem - que apresenta maior transmissibilidade - começa a ganhar força. De acordo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), houve aumento de 8% da taxa de positividade dos testes rápidos notificados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) em farmácias ou hospitais.

Coordenador da Vigilância Genômica do Cevs, Richard Salvato afirma que esse aumento chama atenção por conta da entrada da nova subvariante. “Já conseguimos observar que, ao entrar em outros países, essa nova variante apresentou também um aumento expressivo de casos. Então essa é a nossa preocupação nesse momento, acompanhar essa possível subida de novos casos e uma possível nova onda da doença”, alerta. Salvato explica que o crescimento dos casos positivos ainda não reflete em aumento das hospitalizações.

“Esses indicadores geralmente costumam aparecer um pouco depois do aumento de novos casos, que é o que a gente está começando a observar agora de forma discreta, mas já indicando uma tendência de aumento dos casos, sendo que antes a gente tinha uma tendência de diminuição”, adverte. Salvato alerta que as pessoas com esquema vacinal incompleto estão suscetíveis a contrair e transmitir a doença. “A situação que estamos passando hoje, de baixas hospitalizações, é única e exclusivamente por causa da vacinação que a gente realizou nos últimas meses”, afirma, ressaltando que 3 milhões de gaúchos estão com a dose de reforço em atraso.

“Quando a gente tem uma quantidade de pessoas importantes em atraso com o esquema vacinal, ou seja, sem uma imunidade adequada para Covid-19, a possibilidade de ter casos graves e aumento de hospitalizações é real. E é essa a nossa preocupação do momento”, destaca.

Mais do que completar o esquema vacinal com as doses de reforço, Salvato recomenda o uso de máscaras, especialmente por pessoas dos grupos de risco. “Quem tem uma situação de saúde um pouco mais vulnerável, pacientes mais idosos ou com doenças crônicas, precisam tomar um cuidado adicional e fazer o uso da máscara, principalmente em ambientes fechados, com pouca ventilação e maior aglomeração”, afirma. 

Aumento de testes positivos também na rede privada 

Os resultados positivos para a Covid-19 também apresentaram alta em unidades do laboratório Weinmann no Rio Grande do Sul. De 27 de outubro a 3 de novembro, o percentual de testes rápidos com diagnóstico da doença saltou de 6,67% para 22,22%. Em uma semana, houve crescimento de 233,13% dos casos positivos. Infectologista e diretor Clínico do Grupo Fleury, detentor da marca Weinmann no RS, Celso Granato explica que os resultados positivos dos testes rápidos no Estado estava em 3,5% na primeira quinzena de outubro.

Na última semana daquele mês, o índice passou a 4,9%. “Na primeira semana de novembro foi de 7,5%. Em relação às últimas três semanas, praticamente dobrou a positividade. É para ficar preocupado, porque a gente não sabe onde é que vai parar. Tenho impressão que isso não é uma característica só do RS, porque os números que eu tenho de São Paulo estão mais ou menos nessa direção, estão subindo bastante tanto o número de exames solicitados como de positividade. A impressão que eu tenho é que estamos entrando numa nova onda”, afirma.

Apesar do número reduzido de amostras tipadas, que permite saber qual é a tipagem do vírus, no Brasil, Granato destaca que outras cidades já confirmaram a circulação da subvariante da Ômicron BQ.1. Entre elas, Manaus (AM), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). “Toda vez que a gente teve a entrada de uma variante nova a gente teve um pico de casos confirmados”, observa. E lembra do impacto provocado pela circulação da Ômicron no país, no final do ano passado, e das variantes BA 2 e BA 4, que resultaram em crescimento de casos positivos.

“Todas essas entradas de uma variante nova foram acompanhadas de um aumento do número de casos, que durou mais ou menos dois meses. Como entrou agora essa BQ.1, e ela tem sido associada nos Estados Unidos, em Nova York, mais especificamente, e na Europa, a uma transmissão maior, tenho impressão que essa pode ser uma das explicações para esse pico que a gente está verificando”, compara. Segundo Granato, nos Estados Unidos, a BQ.1 avançou em poucos dias, pulando de 5% dos casos positivos para 25%. “Isso mostra que ela é muito transmissível”, avalia.

Além da circulação da nova sublinhagem, que tem característica de maior transmissibilidade, Granato alerta que a população, de maneira geral, abriu mão do uso de máscaras. “O RS não está diferente de São Paulo, porque aqui ninguém mais está usando máscara, o pessoal liberou geral. No transporte público você não vê mais ninguém usando máscara e a vacinação ainda está abaixo do nível que a gente acha recomendável”, destaca. O infectologista reforça a importância de a população adotar medidas preventivas para evitar a disseminação do vírus.

“Está todo mundo cansado de usar máscara. Só que a máscara tem a vantagem de ser uma proteção universal, independente da variante que você tem, a máscara vai ter um papel importante”, destaca, alertando que as baixas temperaturas registradas no Estado oferecem um ambiente favorável à transmissão do vírus. “A tendência é de as pessoas fecharem mais as janelas, fecharem mais as portas e ficarem mais próximas uma das outras. E usar máscara nessa hora é fundamental”, completa. “As pessoas deviam pensar em tomar as doses que ainda não tomaram e voltar a usar máscaras. Vamos dar um passo para trás para evitar que a coisa piore”, alerta.


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