Boatos e medo: especialista explica como as ameaças afetam crianças e como os adultos podem lidar

Boatos e medo: especialista explica como as ameaças afetam crianças e como os adultos podem lidar

Psicólogo Matheus Quadros defende diálogo aberto com as crianças sobre conteúdos que circulam nas redes sociais

Correio do Povo

publicidade

Depois do ataque à creche em Blumenau (SC), que deixou quatro crianças mortas, uma onda de ameaças de possíveis novos atentatos tomou conta das redes sociais e aplicativos de mensagens. Os boatos foram disparados em massa em diversos estados e causaram pânico na população, inclusive no Rio Grande do Sul. Na internet, mais de 160 hashtags relacionadas aos ataques contra escolas foram identificados pelo Ministério da Justiça. 

Para o psicólogo Matheus Quadros, o tema é de uma complexidade bastante grande e reflete “o tamanho da influência digital na vida das pessoas”. Ele lembrou que outras áreas, como a política, também são afetadas, e citou o caso de fake news. “Isso mexe com as pessoas e gera muito engajamento. Aquilo que nos assusta e que nos coloca em perigo merece muita atenção”, afirmou.

Esses episódios colocam a população em uma situação vulnerável, segundo o especialista. "Buscamos o maior número de respostas, ou de conduções, ou de segurança". E as redes sociais são um destes lugares. Mas a recomendação do psicólogo é orientar as pessoas para procurar as informações em locais de maior credibilidade, que abordem a temática também ouvindo especialistas de saúde mental e comportamento. 

Como explicar o que está acontecendo para as crianças?  

As mensagens disparadas em massa sobre possíveis ataques também chegam nas crianças e adolescentes pelas redes sociais. Além disso, é a escola o lugar de ameaça dos episódios mais recentes. “O maior segredo é que a gente [adultos] consiga escutá-los, saber o que eles estão sentindo, quais são as dúvidas que eles estão tendo”, destacou Quadros. Para ele, os pais não devem se sentir responsáveis "em dar conta do medo" ou de todas essas emoções que podem aflorar nas crianças. 

"A gente não sabe como essas crianças vão manifestar isso. Mais do que nunca, os pais precisam ter um canal aberto de conversa, mas também de observação dos filhos”, enfatizou. Ele lembrou que diante de situações traumáticas ou de medo, as crianças podem apresentar sintomas até mesmo físicos, como dificuldade para dormir, ficarem mais agitada, agressiva ou regredirem emocionalmente. O profissional recomendou que os adultos tenham afeto e estejam próximos das crianças nessas situações.

Ao mesmo tempo, Matheus Quadros lembrou que os adultos também precisam trabalhar com os próprios sentimentos para que consigam passar tranquilidade para os menores. "As crianças têm um poder de observação dos pais, de imitação muito grande. Eles sentem que os adultos estão falando uma coisa e se comportando de maneira diferente”.

Quadros considerou ainda que a escola também possui um papel relevante em relação à saúde mental e gestão emocional das crianças ao perceber as mudanças de comportamento dos alunos e ao tratar da questão do bullying. 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895