Calor e chuva formam combinação perfeita para a proliferação do mosquito transmissor da dengue

Calor e chuva formam combinação perfeita para a proliferação do mosquito transmissor da dengue

Previsão de temperaturas elevadas intercalada com precipitações nos próximos dias pode contribuir para agravamento da epidemia da doença no Estado, alerta especialista

Cristiano Abreu

Maior atividade do mosquito e condições de reprodução favoráveis podem ampliar circulação do vírus

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A previsão de temperatura elevada e de chuva nos próximos dias é mais um sinal de alerta para um possível agravamento da dengue no Rio Grande do Sul. Confirmados os prognósticos, serão quatro dias intercalando temperaturas acima dos 30ºC, chegando a 38ºC em diferentes regiões do Estado, e precipitações, combinação ideal para a proliferação do mosquito transmissor da doença, já declarada epidemia pelo governo gaúcho.

“A condição ideal vem a partir da boa disponibilidade de água, quer dizer, as fêmeas do colocam seus ovos em locais com água limpa e devidamente protegidos da luz. E a temperatura alta auxilia a geração das larvas, e, portanto, a geração de mais mosquitos adultos”, explica o virologista e professor da Universidade Feevale, Fernando Spilki.

O especialista, que também coordena o Instituto Nacional de Vigilância Genômica de Vírus e Saúde Única (INCT-One), órgão estratégico no monitoramento da evolução de vírus transmitidos por mosquitos no país, afirma que o Aedes aegypti é mais ativo em temperaturas mais altas, o que inclusive retardou, no passado, a chegada do inseto na região Sul do país. Portanto, a combinação de calor e chuva ainda favorece a circulação do vírus. “Além de gerar um ambiente onde eu posso ter muito mais mosquitos, o calor permite que o vírus replique de maneira mais eficiente no próprio organismo do Aedes. E aí temos índices aumentados de transmissão”, detalha.

Para Spilki, caso as previsões climáticas para os próximos dias se confirmem, pode haver um agravamento da epidemia de dengue no Rio Grande do Sul. “Infelizmente, diante do cenário que está colocado, esse período que vem será um definidor da extensão dessa epidemia. Depende de as previsões se confirmarem, do tempo que essa onda de calor se mantiver, da chuva. Certo é que este conjunto seria um dinamizador da epidemia”, reforça.

O virologista alerta que as questões climáticas serão determinantes para o agravamento ou fim da pandemia. “A questão climática pode fazer com que a gente tenha não só a extensão do período da epidemia, uma vez que normalmente o Estado já vivencia um número maior de casos até maio”, diz Spilki, fazendo comparativo a anos anteriores, como 2022, o pior ano da dengue na história do Rio Grande do Sul.

“Pode ocorrer a manutenção ou até o crescimento frente anos passados. Pode haver incremento, sem dúvida, ou até uma situação mais grave, pois, independente da previsão desta onda de calor, a temperatura está acima da média histórica”, avalia.

Alerta para a circulação de novo vírus

Fernando Spilki destaca um perigo extra para a epidemia no RS: a chamada dengue tipo 2. “Outra questão que pode influenciar é que nós temos no Brasil, circulando em quantidades expressivas, mais de um sorotipo da dengue. Por exemplo, nós estamos com muitos casos de dengue 1 e sabemos que há possível circulação também no Rio Grande do Sul de dengue 2. À medida que outros sorotipos entram em novas regiões, podemos ter pessoas infectadas novamente, e por vezes com perfil até mais grave. Isso também dinamiza o número de casos que a gente pode ter”, revela.

Números

Conforme a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS), em 2024 já foram contabilizadas 43.050 notificações, com 20.184 casos confirmados, sendo 17.095 infecções contraídas no Estado, e 21 mortes confirmadas. Por sua vez, o Aedes aegypti está presente em 466 dos 497 municípios gaúchos.

Ainda de acordo com os números oficiais da SES/RS, a progressão de casos é registrada de forma expressiva nos últimos três anos: foram 38.244 em 2023, 67.326 em 2022 e 10.602 em 2021. Os óbitos também aumentam, com 11 em 2021, 66 em 2022 e 54 durante os 12 meses do ano passado.

Situação de emergência decretada

Após confirmar 20 mortes por dengue, o Rio Grande do Sul declarou situação de emergência em saúde pública. Em nota, a Secretaria da Saúde informou que a medida visa o controle, prevenção e a atenção à saúde diante do risco epidemiológico à população pela epidemia de doença, atualmente presente em 94% dos municípios gaúchos.

“Com a declaração de estado de emergência, o governo estadual poderá destinar recursos para combater a dengue com mais agilidade, sem os trâmites demorados e burocráticos de uma licitação, por exemplo”, destacou o comunicado do governo.

Principais sintomas

“A Secretaria da Saúde reforça a importância de que a população procure atendimento médico nos serviços de saúde logo nos primeiros sintomas. Dessa forma, evita-se o agravamento da doença e a possível evolução para óbito”, concluiu a nota. Os principais sintomas da doença, conforme comunicado, são:

  • Febre alta (39°C a 40°C), com duração de dois a sete dias
  • Dor atrás dos olhos
  • Dor de cabeça
  • Dor no corpo
  • Dor nas articulações
  • Mal-estar geral
  • Náusea
  • Vômito
  • Diarreia
  • Manchas vermelhas na pele, com ou sem coceira

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