Casos de Covid-19 podem estar subnotificados em Porto Alegre

Casos de Covid-19 podem estar subnotificados em Porto Alegre

Número de casos reportados da doença não acompanha a carga do vírus encontrada no esgoto da cidade

Correio do Povo

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Dados coletados e analisados em um trabalho conjunto entre o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) e universidades gaúchas apontam que o número de casos registrados de Covid-19 no Rio Grande do Sul pode estar subnotificado. O estudo monitora a presença do coronavírus no esgoto de Porto Alegre. Nos últimos meses, os dados apontam um aumento expressivo da carga viral no esgoto. A alta não foi acompanhada pelo número de casos notificados.

“A curva do número de casos (em azul no gráfico) não acompanhou a curva da carga viral encontrada nos esgotos (em vermelho), diferente do que vinha acontecendo até então. O fato pode indicar uma subnotificação de casos de covid-19 neste ano, uma vez que historicamente existe uma similaridade entre as duas curvas”, explica o especialista em saúde do da Divisão de Vigilância em Saúde do Cevs, André Jarenkow.

No gráfico, é possível observar que as duas linhas, de casos e de carga viral, costumam ter a mesma tendência de altas e baixas. Este ano, o pico de casos confirmados, foi registrado em 10 de abril, com 242 casos. No dia 5 de abril, ocorreu um pico da carga viral, que chegou a 578,5 mil CG/l (cópias genômicas por litro). Na análise mais recente, de 19 de outubro, a carga viral esteve ainda mais alta, com 588,2 mil CG/l. Já os casos de covid registrados eram apenas 26.

A maior carga viral registrada em 2023 foi de 826,5 mil CG/l, em 26 de setembro. No período, havia apenas oito casos confirmados.

Dados estão disponíveis em painel

O trabalho de monitoramento é realizado desde 2020. Neste mês, os dados passaram a ser disponibilizados em um painel. O painel ainda traz a informação do número de casos confirmados de covid-19 nos últimos sete dias no Rio Grande do Sul, a carga viral encontrada na última amostra e a data da última análise. Pode-se também aplicar um filtro temporal, colocando a data de início e de término para acessar os dados em determinado período. O método é uma das formas de rastrear a situação e a tendência da covid-19 no Estado.

O painel traz as informações da carga viral do coronavírus coletadas na ETE Serraria desde o início do monitoramento, em julho de 2020. No painel, os dados estão dispostos em forma de gráfico, comparando com o número de casos confirmados, e também listados mês a mês. O dado mensal representa uma média para aquele período, uma vez que são coletadas amostras da água duas vezes por semana.

As coletas são enviadas ao laboratório do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e os resultados saem a cada 15 dias. Até o momento, os resultados eram divulgados através de um boletim. A criação do painel tem por objetivo dar mais visibilidade ao trabalho e aos resultados encontrados.

Por enquanto, estão presentes as informações recolhidas na Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) Serraria, em Porto Alegre. Em breve serão adicionadas as coletas de outros sete municípios: Santa Rosa, Caxias do Sul, Passo Fundo, Santa Maria, Torres, Capão da Canoa e São Leopoldo.

Como funciona o monitoramento

A covid-19 não é a única doença monitorada nos esgotos. O Cevs também realiza a vigilância da cólera e há ainda a intenção de ampliar para a poliomielite e o sarampo. De acordo com a chefe da Divisão de Vigilância Ambiental, Aline Campos, “trata-se de uma vigilância moderna, com excelente custo-benefício, já que a representatividade desta análise é comunitária e permite acompanhar a tendência da doença”.

O objetivo do trabalho é complementar a informação obtida através dos dados clínicos (número de casos confirmados), auxiliando o monitoramento e a tomada de decisões para prevenção e enfrentamento da doença.

“Este tipo de análise também traz mais evidências quando temos menor número de pessoas procurando os testes diagnósticos, o que pode levar a incertezas sobre se realmente está ocorrendo grande circulação do vírus”, completa Aline.

São realizadas duas coletas semanais de amostras de esgoto bruto em Estações de Tratamento de Esgoto de oito municípios: Porto Alegre, Capão da Canoa, Torres, Caxias do Sul, Santa Maria, Santa Rosa, São Leopoldo e Passo Fundo. As amostras são encaminhadas ao Laboratório de Virologia da UFRGS onde, através de convênio realizado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES).

No local são realizadas as etapas de concentração viral, extração e transcrição reversa do RNA viral, para detecção e quantificação do vírus por uma metodologia denominada qRT-PCR. Os resultados são atualizados quinzenalmente e migram automaticamente para o painel.

No caso de São Leopoldo, as amostras são analisadas pelo laboratório da Feevale.


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