Como as eleições afetam a saúde mental das crianças

Como as eleições afetam a saúde mental das crianças

Especialista explica que relatos de esgotamento mental expõe dificuldade de falar sobre política com crianças

Brenda Fernández

Especialista explica que relatos de esgotamento mental expõe dificuldade de falar sobre política com crianças

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O período de eleições gerais no Brasil tem provocado uma série de tensionamentos políticos na população brasileira, que acabam gerando relatos de cansaço, estresse e esgotamento mental. Esses sinais, no entanto, não estão restritos aos adultos ou a uma parcela mais participativa em uma campanha eleitoral, por exemplo. Esse esgotamento chega também nas crianças, explica o pesquisador de psicologia política Ângelo Brandelli. 

“Esse cenário expõe a dificuldade que temos de perguntar para as crianças questões relacionadas à política, seja na escola ou na família”, aponta. Perguntas simples como “O que você está achando do que está acontecendo?”, “O que estão sentindo?” e “Quais são suas expectativas em relação ao futuro do Brasil?” podem, segundo Brandelli, ajudar a criança a compreender um pouco do momento em que o país vive e, ainda, se sentir parte do processo político em que está inserida.

Alguns sinais também ajudam a identificar se uma criança está passando por um esgotamento mental, seja motivado pelo momento político ou não. São eles: mudanças súbitas de comportamento, a criança deixar de fazer coisas que costumava fazer nas mesmas situações, tristeza excessiva e mudanças repentinas de humor ou hábitos alimentares. 

Quando falar sobre política 

O debate sobre política não precisa ficar restrito ao período eleitoral. Afinal, não falar sobre o assunto afasta as crianças – futuros adultos – de uma relação mais saudável com o tema. Segundo  ngelo Brandelli, o ideal é inserir a discussão desde cedo com os pequenos, em uma linguagem adequada para cada idade. Esse trabalho, inclusive, pode ocorrer no ambiente escolar.

“Eu sinto que existe um certo tabu e uma dificuldade de incluir as crianças nessa discussão. É como se isso acontecesse automaticamente [o ensino], as pessoas aprendessem sobre esses temas de uma maneira espontânea. O que tenho visto é que adolescentes, por exemplo, têm pouquíssima informação sobre a estrutura da política no Brasil”, explica o pesquisador e docente da PUC-RS citando a falta de entendimento, por exemplo, sobre o que faz um deputado ou um presidente. 

Materiais sobre política são vastamente divulgados em mídias digitais, ainda mais em período de eleição. Para alcançar públicos diversos, eles são criados em diferentes formatos e podem hoje ser consumidos, sem muitos filtros sobre a veracidade de suas informações, no Facebook, Instagram, WhatsApp e Tiktok, etc. Importante lembrar que muitos conteúdos sobre política não são verificados ou checados, e se houver a necessidade, retirados do ar, pelas redes sociais. Isso faz com que se crie um ambiente propício de desinformação e de trânsito livre para discursos agressivos. 

“Elas [as crianças] estão inseridas nesse mundo com acesso a rede social, a internet, a mídia. Estão vendo o que está acontecendo. Privar as crianças de uma educação que faça com que elas entendam sobre esses processos, mesmo a partir da sua faixa etária e da sua capacidade cognitiva, é um grande erro”, aponta. 

Essa falta de entendimento sobre política somando ao esgotamento mental criam, ressalta  Ângelo Brandelli, um espaço favorável para a formação de um jovem ou adulto com aversão a política.

5 dicas de como falar sobre política com crianças

• Use linguagem adequada para a idade da criança 
• Tente aplicar o tema a exemplos práticos na vida da criança
• Pergunte como ela se sente em relação à política
• Pergunte à criança quais são as expectativas dela sobre uma eleição
• Explique as atribuições de um cargo político 


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