Dia Mundial da Saúde traz como tema os desafios do acesso universal

Dia Mundial da Saúde traz como tema os desafios do acesso universal

Data celebrada hoje lembra os sucessos da saúde pública na melhoria da qualidade de vida global

Felipe Faleiro

publicidade

Esta sexta-feira marca o aniversário de 75 anos da Organização Mundial da Saúde (OMS), instituição de referência inquestionável em políticas globais sobre o tema. A data marca também o Dia Mundial da Saúde, em que é lembrada tanto a importância dos cuidados preventivos, quanto os diagnósticos e tratamentos precisos e acessíveis a toda a humanidade, sem distinções. “Saúde para Todos” é, justamente, o tema escolhido pela OMS para as celebrações de 2023.

É uma “oportunidade de relembrar os sucessos da saúde pública que melhoraram a qualidade de vida durante as últimas sete décadas”, pontua a organização. O desenvolvimento de novas tecnologias e aperfeiçoamento dos métodos existentes aumentou dramaticamente a expectativa de vida no planeta, de forma mais acentuada a partir do início do século XX. Em 1913, de acordo com a plataforma Our World in Data, citando dados da Organização das Nações Unidas (ONU), um ser humano vivia, em média, 34,1 anos. Em 2021, 71 anos. Para 2099, a ONU projeta 82 anos.

No Brasil, não foi diferente: esperava-se viver 50 anos no país em 1950, e, em 2015, 75 anos. No final deste século, a expectativa é de que um brasileiro viva até uma média de 88,1 anos. Segundo especialistas, as vacinas têm grande papel no avanço presente. “A vacinação trouxe um avanço muito substancial e expressivo na nossa sociedade. Temos uma convivência com elas desde nosso nascimento, e elas trazem muito mais benefícios do que riscos ou eventuais prejuízos, que, estatisticamente, são muito improváveis”, afirma o médico psiquiatra e diretor-geral do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Fernando Uberti Machado.

“O Dia Mundial da Saúde estabelece um momento de reflexão coletiva a respeito da saúde que queremos para nós e também às próximas gerações. A necessidade de uma saúde mais humana e mais próxima, centrada no indivíduo e cada vez mais personalizada deverá estar em equilíbrio com sustentabilidade e inovação”, salienta o diretor técnico do Hospital Divina, da Rede de Saúde da Divina Providência, de Porto Alegre, Willian Dalprá.

Um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU é Saúde e Bem-Estar, por meio do qual a organização busca, junto aos países, reduzir as taxas de mortalidade materna, epidemias de Aids e doenças tropicais, reforçar a prevenção e o tratamento do abuso de substâncias como drogas e álcool, e promover a cobertura universal à saúde, entre outros. “As políticas governamentais precisam ser assertivas e rápidas para equilibrar os desenhos assistenciais e o dinâmico perfil epidemiológico que estamos vivendo”, comenta Dalprá. Atualmente, 30% da população mundial não tem acesso a serviços essenciais de saúde.

O clínico geral Victor Hugo Mengatto e a fonoaudióloga Bruna Mauer, da clínica MedPlus, também de Porto Alegre, salientam que as pessoas estão mais conscientes sobre o cuidado com uma vida mais saudável. “No entanto, mesmo com a maior capacidade de informações disponíveis, é necessário que o paciente seja orientado a buscar por canais confiáveis”, afirmam ambos. Os profissionais também comentam que informação e prevenção são aspectos essenciais neste sentido. “Precisamos ter consciência do cuidado com a nossa saúde e do quanto somos agente principal nesse cuidado”, dizem.

Saúde contra as notícias falsas

Neste contexto, outro desafio é como lidar e combater a desinformação e proliferação de outra pandemia, tão ou mais grave que a Covid-19: a das fake news. Um relatório divulgado no final de março pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NetLab/ECO-UFRJ), identificou mais de um milhão e meio de notícias falsas em apenas 24 dias entre fevereiro e março em redes sociais como WhatsApp, Telegram, Instagram, Facebook, Twitter e TikTok. 

“Entre as principais narrativas de desinformação, destacam-se supostos efeitos colaterais causados pela vacinação e a defesa da imunidade natural”, afirma a publicação, que é clara em dizer que o conteúdo “nega a ciência e espalha conspirações”. “Acho que temos de ter uma postura e, principalmente nas entidades representativas do setor de saúde, evitarmos a politização de assuntos que devem ser discutidos de forma técnica, como é a saúde, especialmente em momentos tão sensíveis como na pandemia”, relata o diretor do Simers.

O diretor de Comunicação da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), Marcos André dos Santos, comenta que as fake news se transformaram em um grave risco à saúde. “Combater este mal passa pela busca de referências que sejam respaldadas cientificamente. No Brasil, além do Ministério da Saúde, há uma série de sociedades de especialidades ou associações e entidades médicas que trazem em suas páginas na internet várias informações com elevada credibilidade”, comenta ele.

Corpo e mente trabalhando em conjunto

Além da saúde física, Machado também chama a atenção para a saúde mental, em que é preciso, nas palavras dele, reduzir o estigma para alterações psicológicas que requerem acompanhamento médico. “Boa parte da sociedade em algum momento terá um episódio depressivo, uma situação de ansiedade mais elevada, alguma alteração no padrão do sono. É uma demanda em saúde como qualquer outra. Temos que trabalhar para que não haja esta diferenciação e para que as pessoas procurem ajuda quando observarem situações neste aspecto”, diz ele.

Há, também, ações voluntárias a pessoas que relatam fragilidades psicológicas, a exemplo do Projeto Help, atuante em todo o país, e que todos os sábados realiza ações em estações do Trensurb em Porto Alegre e Região Metropolitana. “A Health for All [como o tema da ação é chamado no original, em inglês] prevê que todas as pessoas tenham boa saúde para uma vida gratificante em um mundo pacífico, próspero e sustentável”, relata a OMS.

É antiga, mas ainda recorrente, a receita para uma vida plena com mais saúde, e passa por hábitos simples, como alimentação saudável, prática de atividades físicas, boa noite de sono, descanso e visitas regulares ao médico, bem como ingestão frequente de água. E o futuro da saúde, relatam estes profissionais, cada vez mais passa pelo empoderamento e protagonismo do paciente. “O chamado wellness deve estar na agenda da cadeia de cuidados com igual peso com que se tratam doenças graves. Humanização e cuidado amoroso à integridade da pessoa”, explica Dalprá.

O diretor da Amrigs concorda. “Garantir saúde de qualidade para todos requer uma abordagem ampla de uma série de medidas e estratégias. É fundamental investir em infraestrutura, recursos humanos, tecnologia, equipamentos e medicamentos, bem como garantir o financiamento adequado para o sistema de saúde. Também acreditamos muito nos trabalhos de conscientização e a participação da comunidade nos processos”, diz Santos.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895