Emergências superlotadas alertam para possível risco de desassistência hospitalar em Porto Alegre

Emergências superlotadas alertam para possível risco de desassistência hospitalar em Porto Alegre

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, 52% das internações hospitalares na Capital são de pacientes da região Metropolitana

Correio do Povo

Saúde de Porto Alegre espera uma ação conjunta com o Estado

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A situação de superlotação nos hospitais e unidades de saúde de Porto Alegre atingiu níveis alarmantes. Na manhã desta terça-feira, os atendimentos de emergência nos hospitais da capital estavam operando a 195% de sua capacidade e nas unidades de saúde a 210%.

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) registrou 160 pacientes recebendo cuidados em um espaço projetado para 56 pessoas. Já o Hospital Conceição contabilizou 90 pacientes hospitalizados para 51 leitos. As duas emergências estão atendendo apenas pacientes com risco de morte.

Adriana Soares contou que o pai de 76 anos teve um mal súbito, na sexta-feira, e a família levou para o Hospital de Pronto Socorro (HPS). Na madrugada de segunda-feira foi transferido para o Hospital Conceição para a realização de exames cardíacos, e ficou até o final da manhã desta terça-feira esperando em cadeiras da emergência antes de ir para o quarto. “Quem não estava nas cadeiras pretas, estava em cadeiras de rodas. Meu pai estava baixado na emergência”, contou.

O Pronto de Atendimento da Bom Jesus registrou 30 pessoas internadas para sete vagas, uma taxa de mais de 420% de lotação. A paciente Tainara Brum, 25 anos, relatou falta de médicos, desgaste das enfermeiras e técnicas de enfermagem, e confusão entre as pessoas que estão esperando.

"Estou esperando demais, o que tem lá dentro tá absurdo. Tem gente em tudo que é lugar. Gente idosa, criança, tá lotado lá dentro. Eles estavam em dois médicos ontem. Lá dentro tem mais de 30 pessoas baixadas. Não tem pediatra, os clínicos é que estavam atendendo as crianças durante a madrugada. Então assim, o quadro está bem horrível, bem conturbado, não está fácil. As pessoas querem ajudar, mas não adianta brigar com eles se a prefeitura não manda gente, né?”, disse.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), os casos mais comuns atendidos nas unidades de saúde e hospitais da Capital incluem agravamentos de pacientes em tratamento oncológico, casos obstétricos, cardíacos, vasculares, além do aumento significativo na procura por atendimento de pessoas com sintomas de dengue. Atualmente mais de 52% das internações hospitalares na Capital são do interior, grande parte de Canoas, Viamão, Cachoeirinha, Alvorada e Gravataí.

O secretário de Saúde, Fernando Ritter, disse que há pelo menos um ano e meio Porto Alegre sofre com a alta demanda da região Metropolitana. “A gente vem sentindo isso há um bom tempo. O ano passado agravou muito essa situação, especialmente com o fechamento de alguns serviços na região metropolitana, como o serviço de traumato-ortopedia, do Hospital de Viamão. Isso trouxe muitos pacientes aqui para Porto Alegre, nas nossas portas de emergência. Houve o fechamento da emergência psiquiátrica, também em Viamão, e as pessoas acabaram procurando as nossas emergências, que ficam ali no Postão da Cruzeiro e também no IAPI. Isso está demorando mais tempo para a gente poder acomodar os pacientes no leito”, explicou.

Ritter também destacou que a dificuldade financeira de parte dos hospitais gerenciados pelo Hospital de Cardiologia de Porto Alegre resultou na redução do atendimento nas maternidades, e, consequentemente, houve um aumento considerável nas Unidades de Tratamento Intensivo de Neonatal, com um aumento de 34%, em setembro de 2023, para 42%, atualmente. “Para um número de leitos que a gente tem impacta diretamente em risco assistencial”, observa o secretário que ainda aponta a necessidade do Estado em organizar o processo de regulação.

“Afinal de contas, o Programa Assistir ampliou o número de serviços, o Estado coloca isso como uma grande conquista desse processo de gestão, de interiorizar mais os casos. Então, esse é o momento de colocar a prova isso, de fazer com que esses pacientes retornem e isso vai desafogar, tranquilamente, muito mais de 100 leitos pacientes de longa permanência que estão ocupando leitos na Santa Casa, no Clínicas, no São Lucas, e no próprio grupo hospitalar Conceição como um todo. Isso vai facilitar com que a gente possa tirar esses pacientes das emergências, diminuir essa taxa de ocupação de 203% da porta neste momento e dar um tempo resposta melhor”, conclui.

A alta demanda nas portas de urgência e emergência de Porto Alegre, e o possível risco de desasistência hospitalar na Capital foi pauta de reunião realizada na segunda-feira, na sede da SMS, com representantes técnicos da pasta, HPS, Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa) e regulação do governo estadual.

Segundo Ritter, na reunião ficou evidenciada a dificuldade de regulação, uma vez que a gestão estadual monitora vagas em apenas 21 hospitais do Estado. A SMS propôs uma revisão da utilização da “vaga zero” na rede de urgência, recurso essencial para garantir acesso imediato aos pacientes com risco de morte ou sofrimento intenso, devendo ser considerada como situação excepcional, especialmente pela falta de capacidade instalada da Capital para suportar a demanda de toda Região Metropolitana e de outros municípios do Estado. O Estado se comprometeu em construir um fluxo para transferir pacientes menos graves que estão em Porto Alegre para que voltem para sua origem.

Uma nova reunião ficou agendada para o dia 4 de na sede da SMS.


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