Fundação Ecarta promove 1º Encontro dos Entrevistadores no Processo de Doação e Transplantes do RS

Fundação Ecarta promove 1º Encontro dos Entrevistadores no Processo de Doação e Transplantes do RS

Evento vai capacitar profissionais que trabalham para obter autorização de famílias para doação de órgãos após óbito de pacientes

Marcel Horowitz

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Uma vez que só podem doar órgãos os pacientes que tiveram morte encefálica, o que representa menos de 2% do total de óbitos, ampliar as autorizações das famílias é um dos grandes desafios para potencializar as doações no Brasil. Tendo em vista que um doador pode salvar até dez vidas, o "1º Encontro dos Entrevistadores no Processo de Doação e Transplantes do Rio Grande do Sul" ocorre com o intuito de capacitar profissionais que trabalham para obter a autorização de familiares e aumentar a conscientização sobre a importância de se doar os órgãos de quem já partiu. 

A comunicação de más notícias e o acolhimento familiar são alguns dos temas abordados no evento, que ocorre neste sábado, das 9h às 17h, em Porto Alegre. A atividade está sendo promovida na sede da Fundação Ecarta, na avenida João Pessoa, nº 943, em referência ao "Setembro Verde", título dado ao mês alusivo a doação de órgãos.

"As equipes entrevistadoras cumprem um papel fundamental. São profissionais que buscam a autorização das famílias para a doação dos órgãos de um ente querido que acaba de falecer. É um grupo que desenvolve um trabalho de protagonismo", explicou o presidente da Ecarta, Marcos Fuhr.

A iniciativa, promovida pelo projeto Cultura Doadora da Fundação Ecarta e pela Organização de Procura de Órgãos da Santa Casa de Porto Alegre (OPO1), tem como público alvo os 45 profissionais da saúde que atuam nas Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) e nas Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdotts), além de funcionários que trabalham em emergências e UTIs.

Segundo a coordenadora do projeto Cultura Doadora, Glaci Salusse Borges, estima-se que no Brasil, cerca de 40% dos familiares de pacientes com morte encefálica não autoriza a doação de órgãos, mesmo com mais de 60 mil pacientes aguardando por transplantes, sendo cerca de três mil no Rio Grande do Sul. “Possibilitar que os profissionais que têm o papel de dialogar com as famílias possam trocar experiências, falar dos desafios de exercer este papel e criar um espaço de escuta é o objetivo central do encontro”, declarou.

Uma das formas de expandir o número de tranplantes, segundo a médica intensivista pediátrica Fernanda Bonow, é registrar do autorização do doador de órgãos em cartórios. "Os cartórios têm um projeto de registrar doadores de órgãos. Isso facilita pois, se o paciente estiver registrado, a família vai saber que a vontade dele era doar", garantiu a doutora, que também coordena a OPO1 da Santa Casa 

Espanha é país que mais doa no mundo


"Não é culpa das famílias”, assegurou a principal palestrante do evento, a enfermeira espanhola Carmen Segovia. Para a ex-coordenadora da Organização Nacional de Transplantes (ONT) da Espanha, é fundamental humanizar a relação e a comunicação terapêutica. “O principal objetivo não é obter a doação. É ajudar a família em luto, acolhê-la e respeitá-la. Trata-se de um tripé muito importante nessa relação: respeito, empatia e autenticidade. Quando crio esse vínculo, estou ajudando a família que inicia o luto. E, de maneira adequada, ofereço a possibilidade da doação. O problema está nos profissionais da saúde, que precisam aprender como transmitir as más notícias”, declarou a palestrante da Espanha, país que mais doa no mundo

Segovia se notabilizou pelos resultados em seu país, reduzindo de 30 para 15% a recusa em autorizar doações. Por conta do trabalho realizado, a enfermeira assessorou o cineasta Pedro Almodóvar, que a contratou para ser consultora em três filmes consagrados: “Tudo sobre minha mãe”, “Fale com ela” e “A flor do meu segredo”.
 

A Espanha é o país com maior número de doadores de órgãos do mundo em relação à quantidade de transplantes por milhão de habitantes,  seguido por Bélgica, Malta, França, República Tcheca,  Finlândia e Noruega. No Brasil, seguindo o modelo espanhol, Santa Catarina e Paraná são os dois estados com o maior índice de doadores. “A qualidade dessa abordagem de forma empática e sensível é a chave para transformar o momento de dor em uma possibilidade de salvar muitas vidas”, afirmou o coordenador da Central de Transplantes de Santa Catarina, Joel de Andrade, estado com a menor negativa, ficando na média de 25%. Ainda segundo ele, nos últimos anos, o estado vizinho tem enviado muitos órgãos captados para transplante ao Rio Grande do Sul, estado que já esteve em primeiro lugar em doações de órgãos, até 2005, e agora ocupa a oitava posição.

Lista cresce e pacientes morrem aguardando

Todos os dias pacientes morrem a espera por uma doação. Apenas no primeiro trimestre deste ano, 491 pacientes que aguardavam por um órgão faleceram no país, sendo 46 no RS. A maioria dos óbitos são de pessoas que não conseguiram resistir ao tempo de espera por um transplante, levando em conta que ingressaram em listas com quase 10 mil cadastrados.

A pandemia de Covid-19 fez despencar o crescimento em doações, verificado em 2019. Critérios ainda mais rígidos após o período também reduziram o potencial dos doadores, conforme diretrizes do SUS estipulando que pessoas diagnosticadas com coronavírus, com menos de 28 dias da regressão completa dos sintomas, não podem doar.

Combater a desinformação e os mitos que envolvem o processo de doação também são fortes desafios mesmo no Brasil, que mantém o maior sistema público de transplantes do mundo. Por conta disso a Fundação Ecarta mantém o projeto educacional Cultura Doadora, há 10 anos, voltado para estimular a doação de órgãos, identificar os empecilhos e contribuir para o aprimoramento dos profissionais e serviços públicos envolvidos no processo entre a doação e o transplante. A iniciativa soma mais de 500 atividades, entre palestras, painéis, formações e reuniões, desde que foi iniciada.


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