Hospitais temem sustentabilidade e revelam incertezas sobre atendimento a segurados do IPE Saúde

Hospitais temem sustentabilidade e revelam incertezas sobre atendimento a segurados do IPE Saúde

Portarias estaduais alteram remuneração do plano de saúde a prestadores de serviços a partir de 1º de abril

Cristiano Abreu

Odacir Vicente Binotto Rossato, Julio Flávio Dornelles de Matos e Ricardo Engler expuseram preocupações em visita ao Correio do Povo nesta quinta-feira

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Representantes dos hospitais classificados como estratégicos alertam para riscos de paralisação do atendimento a pacientes vinculados ao IPE Saúde. Além da defasagem de valores pagos por consultas e procedimentos, o novo modelo de remuneração à rede credenciada, que passa a valer a partir da segunda-feira, 1º de abril, causará redução drástica nas receitas dos hospitais, levando as instituições a cancelarem os atendimentos pelos planos, além de operarem com prejuízo.

Um estudo destacado pela Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Rio Grande do Sul (Fehosul) e pelo Sindicato dos Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul (Sindiberf) aponta perdas que variam entre 10% e 33%. De acordo com o superintendente executivo do Hospital Ernesto Dornelles (HD) e vice-presidente da Fehosul, Odacir Vicente Binotto Rossato, as novas portarias aumentam custos e reduzem receitas da instituição, o que inviabilizará as operações a longo prazo.

“A título de comparação, o resultado econômico (receita descontada do custo) gerado pelo atendimento dos pacientes do IPE foi de R$ 8,3 milhões. Se a proposta já estivesse valendo, teríamos registrado resultado negativo de R$ 40,6 milhões”, revela o gestor. Atualmente, 78% do atendimento realizado no HD é de pacientes conveniados ao IPE.

“Não é uma questão de resultado, é uma questão de sobrevivência ao longo do tempo. Não podemos esquecer que estamos falando de vidas. Mais de um milhão de pessoas dependem do IPE no Estado e no momento o atendimento está em risco”, define o diretor-geral da Santa Casa, Julio Flávio Dornelles de Matos.

O dirigente da Santa Casa também aponta impacto no resultado econômico. Quando as regras em vigor a partir de 1º de abril deste ano são aplicadas sobre os números de 2023, os R$ 3 milhões positivos viram prejuízo de R$ 16,7 milhões, de acordo com a instituição. “Este é um levantamento sério, feito e assinado por nossa diretoria financeira, validado por contador e que provam a seriedade da situação que vamos enfrentar. Queremos que o Estado olhe para esta questão não apenas como um balanço contábil, mas como um debate que envolve vidas”, clama Julio Flávio.

O presidente do Sindicato dos Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul (Sindiberf), Ricardo Englert, destaca que entre os hospitais considerados estratégicos para a rede atendimento do IPE, além de Santa Casa de Misericórdia e Ernesto Dornelles, outros nove entidades apresentaram levantamentos indicando perdas a partir das novas portarias. O caso mais significativo é o do Hospital Astrogildo de Azevedo, de Santa Maria, que apresentou resultado negativo de R$ 37,3 milhões em 2023 e que com a nova portaria teria um cenário ainda mais assustador – desempenho negativo na casa dos R$ 68,4 milhões gerado pelo atendimento dos pacientes do IPE.

Entidades que apontam perdas:

  • Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
  • Hospital Ernesto Dornelles, de Porto Alegre
  • Hospital de Clínicas, de Porto Alegre
  • Hospital Divina Providência, de Porto Alegre
  • Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves
  • Hospital de Caridade e Beneficência, de Cachoeira do Sul
  • Hospital Vida e Saúde, de Santa Rosa
  • Hospital de Clínicas de Ijuí
  • Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo
  • Hospital Astrogildo de Azevedo, de Santa Maria
  • Hospital Sapiranga

Atendimento suspenso

Também de Porto Alegre, o Hospital Mãe de Deus comunicou já no mês passado que não atenderá mais pelo IPE Saúde na unidade da Avenida Carlos Gomes a partir da próxima segunda-feira. Alegando reestruturação, a instituição manterá atendimento aos segurados apenas na unidade José de Alencar, no bairro Menino Deus. E pacientes relatam que o IPE Saúde tem negado autorizações para atendimentos no Hospital Astrogildo de Azevedo, de Santa Maria, o que incluiria tratamento oncológico.

Temendo a paralisação dos serviços, um grupo de hospitais e entidades representativas do setor da saúde enviou, em fevereiro, carta ao governador Eduardo Leite afirmando que a situação “chegou a um ponto crítico”. O grupo destacou que, caso as portarias sejam mantidas, as instituições serão forçadas a cancelar atendimentos pelo plano.

Na sequência, foi a vez do Conselho Regional de Medicina (Cremers) pleitear a atualização dos valores de consultas e procedimentos pagos aos médicos credenciados. Em nota, o Cremers se solidarizou com as entidades hospitalares que alegam “pagar para atender” os segurados do IPE Saúde.

Reestruturação polêmica

Além da mudança na remuneração aos hospitais, o IPE promoveu o aumento de alíquota e cobrança aos dependentes. De acordo com o governo do Estado, o sistema IPE Saúde conta com 936.719 segurados ativos, entre titulares e dependentes, sendo 738.341 no Plano Principal, que foi modificado pela lei de reestruturação aprovada em junho de 2023. Conforme o governo do Estado, o déficit mensal no ano passado girou na casa dos R$ 36 milhões.


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