Janeiro é marcado por campanhas de conscientização do câncer do colo do útero e da saúde mental

Janeiro é marcado por campanhas de conscientização do câncer do colo do útero e da saúde mental

As ações do Janeiro Branco são focadas na saúde mental

Paula Maia

“As pessoas ainda têm resistência em procurar ajuda", diz médico

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O mês de janeiro não apenas marca o início de um novo ano, mas também representa um período de reflexões e iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade de vida. É nesse contexto que surgem campanhas significativas de conscientização: o Janeiro Branco, focado na saúde mental, e o Janeiro Verde, que ressalta a importância da atenção e prevenção do câncer do colo de útero.

O Janeiro Branco simboliza a oportunidade de iniciar um novo ciclo com projeções positivas para o futuro. Suas ações visam despertar a consciência coletiva sobre a relevância da saúde mental e emocional, direcionando a atenção tanto para as necessidades individuais quanto para as institucionais.

O médico psiquiatra da Santa Casa, Cristiano Brum destaca a persistência do estigma relacionado ao cuidado com a saúde mental. “As pessoas ainda têm resistência em procurar ajuda. Elas sofrem de sintomas depressivos, ansiosos, por tabus, desconhecimento, receios quanto aos tratamentos, dentre eles o medo de que medicações possam causar dependência”, justifica.

Brum destaca a diferença entre os sintomas depressivos do sentimento de tristeza, salientando que a depressão se manifesta por meio de uma tristeza persistente e/ou anedonia – perda de satisfação e interesse por atividades que antes havia prazer. Esses sintomas tendem a ser constantes na maior parte do dia, durante, pelo menos, duas semanas, e são acompanhados por outros sintomas como alterações no sono, mudança de apetite, fadiga, perda de energia, mudança motora – mais lenta ou agitada –, pensamentos de inutilidade, culpas excessivas, baixa autoestima, desesperança, dificuldade de concentração, tomada de decisões e pensamentos recorrentes de morte.

Sobre o uso de medicação, o especialista alerta que ela é indicada após uma avaliação criteriosa. E são indicadas para casos de significativo sofrimento em que ocorrem prejuízos nas atividades laborais ou cotidianas, nas relações interpessoais ou representem riscos à vida do paciente.

“Dentro da psiquiatria nos temos critérios diagnósticos estabelecidos. O bom profissional fará uma avaliação bem criteriosa nesses aspectos e verificará a melhor alternativa terapêutica - medicamentosa e psicoterapia associada. As avaliações também consistem em verificar traços da personalidade do indivíduo que podem prejudicar suas interações com as pessoas, a maneira como enfrentam situações de estresse e suas respostas frentes a estes eventos”, explica.

Por fim, Brum afirma que muitos sofrimentos e dores emocionais podem ser amenizadas com a busca de auxílio. Ele destaca a importância das abordagens multidisciplinares na área da saúde mental. A psicologia na realização de múltiplas formas de psicoterapias, assistentes sociais (no caso de vulnerabilidades no suporte e apoio social e familiar), terapeutas ocupacionais, acompanhantes terapêuticos, educadores físicos e demais profissionais da saúde.

Entre as boas práticas de saúde, o psiquiatra sublinha a importância de evitar uso álcool ou drogas, buscar ter sono adequado, realizar atividades meditativas, manter boas relações de amizades, trabalhos e grupos. “Ter atividades de lazer e descanso são estratégias preventivas na manutenção de uma boa saúde mental”, finaliza.

Janeiro também é marcado por conscientização sobre a prevenção do câncer de colo de útero. Este tipo de câncer é a terceira forma mais incidente entre mulheres, excluindo os tumores de pele não melanoma.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o triênio 2023-2025, estima-se que ocorrerão 17.010 casos novos anualmente, representando uma taxa bruta de incidência de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres. Em 2021, a taxa de mortalidade foi de 4,51 óbitos a cada 100 mil mulheres.

Analisando regionalmente, o câncer de colo de útero ocupa a quarta posição na região Sul (14,55/100 mil) e a terceira na Centro-Oeste (16,66/100 mil). Já as regiões Norte (20,48/100 mil) e Nordeste (17,59/100 mil) exibem as taxas mais elevadas do país.

O exame citopatológico é a principal ferramenta de rastreamento, indicado para mulheres de 25 a 64 anos. Em 2020, a pandemia de Covid-19 impactou a realização desses exames, resultando em uma queda significativa, mas em 2022 já houve um aumento. No Rio Grande do Sul, os números foram de 561.551 exames em 2019; 350.150 em 2020; 492.614 em 202; e 547.738 em 2022.

A ginecologista da Santa Casa, Fernanda Uratani afirma que esse é um câncer 100% prevenível. Ela destaca a importância da vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV), disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). O HPV está associado à quase totalidade dos casos de câncer de colo de útero, além de outros tumores em homens e mulheres.

A vacina quadrivalente no SUS é recomendada para meninas e meninos de 9 a 14 anos, além de imunossuprimidos (como pacientes com câncer, HIV e transplantados) até 45 anos. Fernanda enfatiza que essa vacina tem alta eficácia e que na rede privada também está disponível a vacina nonavalente contra o HPV, inclusive para outras idades.

“A nossa vacinação é muito baixa, por isso ainda temos um número muito alto de casos. Com uma alta taxa de vacinação, conseguiremos uma superproteção no futuro”, ressalta a médica.

Além da vacina, a ginecologista destaca a prevenção secundária por meio de exames como o papanicolau em mulheres e exames urológicos em homens. Ela ressalta que os sintomas geralmente aparecem quando o câncer já está avançado, tornando esses exames preventivos cruciais. A ginecologista também esclarece que nem sempre o contato com o HPV evolui para câncer.

“O HPV é um vírus comum e fácil de ter contato. A maioria das pessoas sexualmente ativas poderá ter contato em algum momento da vida com o HPV, mas o desenvolvimento do câncer está associado a outros fatores de risco como imunidade baixa, tabagismo, deficiência na alimentação e exposição a outras doenças sexuais”, explica.


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