Julho Amarelo alerta para a conscientização contra as hepatites virais

Julho Amarelo alerta para a conscientização contra as hepatites virais

Porto Alegre, ao mesmo tempo que lidera a incidência do tipo C entre as capitais, eliminou o vírus do sistema prisional neste ano

Felipe Faleiro

Aumentar número de pacientes em tratamento é objetivo de governo da Capital até 2030

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Julho é o mês em que o combate às hepatites virais é intensificado no Brasil, com a realização do Julho Amarelo. Porto Alegre, que tem, segundo o Ministério da Saúde, a maior incidência do tipo C da doença entre as capitais do país, percorre um longo caminho de testagens à população mais propensa e tratamentos aos contaminados, e está conseguindo resultados promissores, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). 

Este mês, Porto Alegre conseguiu o feito inédito entre as capitais do país de eliminar o vírus de todo o sistema prisional, graças, conforme a SMS, ao projeto Teste e Trate, iniciativa da Prefeitura com apoio de quatro instituições penitenciárias da Capital, inspirada em uma experiência similar feita em Londres. Nele, pessoas privadas de liberdade foram testadas, e quem obteve diagnóstico positivo recebeu medicação, com índice de cura de 100%.

“Neste projeto, invertemos a lógica. Em vez de estas pessoas virem até nós, nós vamos até elas. Iniciamos ele a partir de alguns modelos internacionais visando esta população, que, durante a pandemia, ficou mais distante do sistema de saúde, embora haja um serviço dentro destes espaços”, afirma o médico hepatologista Eduardo Emerim, da Coordenação de Atenção a Infecções Sexualmente Transmissíveis, HIV/Aids, Hepatites Virais e Tuberculose da Secretaria Municipal de Saúde (Caist/SMS).

Combater a hepatite até 2030 é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU), feitos antes da Covid-19, e Porto Alegre tem o mesmo objetivo como meta de governo, dentro do Plano Municipal de Saúde. “Acredito que seja uma das únicas capitais com isto”, comenta Emerim. No entanto, ele opina que esta meta poderá ser revista para 2050, devido aos prejuízos com a Covid-19.

Neste mês, a Caist pretende intensificar cursos de atualização e capacitações para os profissionais da rede primária em saúde, assim como os locais para testagens, que serão feitas todos os dias. Há uma parceria com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Porto Alegre (STICC), para realizar testes em funcionários em canteiros de obras. Em 2022, a região Sul liderou a taxa de detecção da hepatite B entre 2000 a 2021, com 31,1% do total nacional, e do tipo C, com 11,7 casos para cada 100 mil habitantes em 2021, quase o dobro do Sudeste, em segundo lugar, conforme o Ministério da Saúde.

Em fevereiro, nota informativa da Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirmou que, desde 2018, houve um aumento nos casos de hepatite A em homens entre 20 e 39 anos de idade. Com a pandemia, as notificações de hepatites virais caíram, mas voltaram a ter um aumento de 400% em 2022, na comparação com 2021, e 103% comparado a 2019. “Acredito que Porto Alegre é um dos municípios que mais têm casos justamente por haver um projeto de eliminação da doença”, afirma Emerim. A SES respondeu a um pedido de comentário com esta nota.

Existem cinco tipos de vírus causadores de hepatites virais, de A a E, sendo que os tipos A, B e C são os mais comuns no Brasil e os dois primeiros têm vacinação gratuita no Sistema Único de Saúde, e sua detecção é feita pelo teste rápido com coleta de sangue. A hepatite A costuma ser transmitida por más condições de saneamento e ingestão de alimentos mal lavados e água contaminada. Assim, as recomendações são lavar bem as mãos, filtrar e ferver a água antes de consumi-la. A vacina é feita em dose única e recomendada para crianças entre os 15 meses de idade até cinco anos incompletos.

A hepatite B não tem cura na maioria dos casos, e costuma se manifestar sem sintomas, na maioria dos casos, até atingir maior gravidade. Desde 2015, a vacina está disponível para todas as pessoas. Porém, entre 1994 e 2019, o Ministério da Saúde afirma que 68% da população acima de 30 anos não está imunizada. Já no caso da hepatite C, não há vacina, e, conforme o Ministério da Saúde, 400 mil pessoas têm a doença no país e não sabem. 

“A chance de a pessoa ter AVC, infarto ou diabetes aumenta com o diagnóstico da hepatite C”, diz o médico hepatologista. As hepatites B e C, ambas com tratamento pelo SUS, são infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), portanto, o uso de preservativo e o não compartilhamento de itens de uso pessoal, como lâminas de barbear, são formas de prevenção. Emerim ainda alerta que mais de 60% dos casos de câncer de fígado provocado por ambas as hepatites são descobertos em estágio muito avançado, onde não é mais possível um transplante.


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