“Minoria das pessoas que têm EBV desenvolve esclerose múltipla”, garante especialista

“Minoria das pessoas que têm EBV desenvolve esclerose múltipla”, garante especialista

Vírus causador da mononucleose é um dos causadores da doença, mas é apenas um dos fatores de risco, tranquiliza neurologista

Christian Bueller

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A cantora Anitta revelou durante um evento recente que foi diagnosticada com o vírus Epstein-Barr (EBV, segundo a sigla em inglês) causador da mononucleose infecciosa, popularmente conhecida como “a doença do beijo”. A descoberta foi precoce, mas artista carioca confessou que passou “pelo momento mais difícil da [sua] vida” quando a condição foi confirmada. O caso chamou a atenção da população, mas não é motivo para pânico: o vírus é um dos possíveis causadores da esclerose múltipla, mas é apenas um dos fatores, não o preponderante.

Segundo o neurologista do Hospital São Lucas da PUCRS e integrante do Centro de Tratamento de Doenças Autoimunes, Douglas Sato, entre 90% e 95% das pessoas já tiveram contato com a “doença do beijo”, mas a porcentagem da população que se descobre com esclerose múltipla é muito pequena na comparação. “Para se ter uma ideia, um estudo recente da revista Science acompanhou 10 milhões de pessoas que se recrutaram no serviço militar norte-americano. Somente 995 desenvolveram sintomas de esclerose”, informou. “O EBV é um vírus muito comum e, por ser de contato, ainda mais se for por beijo, o arrefecimento da pandemia tende a potencializar um aumento deste contágio. Sim, o risco é aumentado para quem teve o vírus, mas a probabilidade é baixa”, explica o especialista.

Sato reitera que há outros fatores de riscos associados à esclerose múltipla. “Para desenvolver a doença, depende de uma certa suscetibilidade genética, além de outras situações, baixa exposição que reduz a vitamina D, tabagismo, além de do EBV. Há pesquisas que também indicam a obesidade infantil como fator de risco”, relata o neurologista. O médico faz uma analogia para facilitar a compreensão do tema. “Costumo contar a história do copo. Cada fator de risco enche o copo. Se tem a quantidade que vai encher o copo e transbordar, a pessoa terá a esclerose. Se não transbordar, não tem. Mas o que o encheu foi uma porção de situações, não apenas uma”, salienta.

A esclerose múltipla é uma doença crônica e autoimune que ataca a mielina, a membrana que protege os neurônios. Entre os sintomas mais comuns estão a perda de visão, prejuízo nos movimentos, problemas cognitivos e na fala e perda de sensibilidade em partes do corpo.

Apesar de não ter cura, a doença pode ser tratada com medicamentos e mudanças no estilo de vida. “Depende muito de cada sistema imunológico, mas evitar sedentarismo, tabagismo, obesidade e buscar a exposição correta ao sol contribui para uma menor de chance de desenvolver a doença”, frisa Douglas Sato. “A principal mensagem é que a minoria absoluta das pessoas que têm EBV desenvolvem a esclerose”, conclui.


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