“Osteoporose é uma doença silenciosa”, afirma endocrinologista

“Osteoporose é uma doença silenciosa”, afirma endocrinologista

Cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com a osteoporose

Felipe Samuel

Tayane indica rastreamento da doença em mulheres com mais de 65 anos ou em homens com mais de 70 anos

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A osteoporose é uma doença silenciosa caracterizada pela perda progressiva de massa óssea. Dados da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF, sigla em inglês) apontam que cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com a osteoporose, mas apenas 20% estão cientes disso. Além de fatores genéticos, a doença atinge principalmente as mulheres a partir da menopausa. Entre os fatores que podem prejudicar a formação da massa óssea estão o tabagismo, consumo excessivo de álcool, falta de atividade física regular e baixa exposição solar - que está relacionada com a síntese de vitamina D.

Professora do Serviço de Medicina Interna do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a endocrinologista Tayane Muniz Fighera destaca a importância de manter hábitos de vida saudáveis e fazer o rastreamento de osteoporose em pessoas que apresentam maior risco. Com área de atuação em densitometria óssea, Tayane lembra que a doença tem influência genética. “É uma condição caracterizada por fragilidade óssea, que resulta de redução da massa óssea e ou da qualidade óssea. Quando a gente perde quantidade de massa óssea ou perde qualidade do osso formado, isso resulta em maior risco de fraturar e de quebrar o osso”, afirma.

Conforme Tayane, normalmente quem tem fratura por fragilidade são pessoas que sofreram acidentes domésticos. “É aquela fratura causada por um trauma que normalmente não se esperaria que causasse uma fratura. Essa é a manifestação clínica de osteoporose, que é a fratura por fragilidade”, explica. Ela frisa que o ideal é identificar a doença antes de uma fratura da vértebra, do braço ou de quadril - considerada a mais grave. “Aproximadamente 20% das pessoas que tem uma fratura de quadril morrem depois dessa fratura. E aproximadamente metade dessas pessoas ficam com algum grau de limitação”, salienta.

Estimativas apontam que ao longo da vida uma em cada duas mulheres terá uma fratura. “É uma doença que afeta mais as mulheres. Os homens também sofrem de osteoporose, só que o homem acaba tendo uma prevalência menor de osteoporose de fraturas, porque eles têm mais massa óssea que as mulheres. E a questão da menopausa na mulher é um ponto que acaba muito relacionado com o risco de fraturas, então as mulheres acabam sofrendo mais. Mas é importante ressaltar que os homens não estão isentos e precisam ficar atentos para a osteoporose”, alerta.

Ela reforça a importância de indicação para rastreamento da doença em mulheres com mais de 65 anos ou em homens com mais de 70 anos ou mesmo antes dessa idade se tiver fatores de risco para osteoporose. É uma doença completamente silenciosa”, pontua.  Ela explica que na maioria das vezes a osteoporose é primária, o que que significa que não tem uma causa. “Simplesmente é decorrente do próprio processo de envelhecimento da pessoa. Então isso é osteoporose primária”, destaca. A osteoporose secundária ocorre quando o paciente tem uma causa além do processo natural do envelhecimento.

“Uma pessoa com artrite reumatoide pode ter uma osteoporose muito cedo na vida. Não é uma coisa que é exclusivamente parte do processo natural do envelhecimento. Existe uma causa, um fator muito bem identificado, provocando a perda óssea e o risco de fratura”, completa. O alerta para hábitos de vida saudáveis, principalmente na infância, ganha importância em 20 de outubro, quando se comemora o Dia Mundial da Osteoporose. “A gente adquire massa óssea até mais ou menos a terceira década de vida. A partir disso a gente só perde”, ressalta.

Conforme Tayane, o momento mais oportuno pra gente prevenir a osteoporose é justamente no início da vida. “Na primeira e segunda décadas de vida, que é quando a gente está formando o osso”, ressalta. Ela reforça que de 60% a 70% da massa óssea é genética e de 30 a 40% são fatores relacionados com o estilo de vida. Para a especialista, a melhor forma de prevenir a osteoporose é alterar hábitos de vida. “Vale a pena mudar e ter estilo de vida saudável a vida inteira, mas aonde a gente vai ter uma influência muito forte é principalmente nesses anos de formação intensa da massa óssea”, frisa.

Entre os fatores que podem prejudicar a massa óssea, ela elenca o tabagismo, consumo excessivo de álcool, falta de atividade física regular, baixa exposição solar, restrição ou baixo consumo de alimentos ricos em cálcio na dieta e uso contínuo de corticoides. Tayane destaca que na maioria das vezes a doença não apresenta sintomas. “As pessoas confundem com artrose, que é uma doença articular que cursa com dor. Quando a gente fala em osteoporose a gente está falando em fragilidade do osso, que aumenta o risco da fratura. Isso não dói, o osso já está um pouco mais fraco, mas ele não dói. A pessoa pode ter dor no momento de uma fratura. A dor da osteoporose está relacionada com a fratura”, explica.

Ela alerta que muitas pacientes têm fraturas diagnosticadas ao 'acaso', porque são micro fraturas da coluna vertebral. Em geral, as principais vítimas são mulheres que sofreram acidente doméstico. “Por exemplo, subiu numa cadeira para pegar alguma coisa e caiu. E aí ela faz uma microfratura, uma fratura pequena na vértebra e, a partir daquele dia, fica com uma dorzinha. Não é uma dor incapacitante, não é uma dor que faz ela correr para a emergência, mas é um desconforto, é uma dorzinha na lombar. E aí quando vai fazer um exame, um raio X, alguma coisa assim, enxerga uma fratura vertebral”, conclui.


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