Serviços de urgência e emergência no Litoral Norte do RS seguem com alta demanda

Serviços de urgência e emergência no Litoral Norte do RS seguem com alta demanda

Secretários de saúde destacam problemas para remoção de pacientes

Felipe Samuel

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A falta de profissionais e a superlotação das emergências dos hospitais referência no Litoral Norte seguem pressionando o sistema de saúde da região. Hospitais referência em Torres, Capão da Canoa, Tramandaí e Osório operam acima da capacidade, num cenário que virou rotina. Além das dificuldades de dar conta do atendimento a uma população que cresceu nos últimos anos, secretários de saúde destacam problemas para remoção de pacientes e escassez de médicos para atender os moradores.  

O secretário municipal de Saúde de Osório, Ângelo Renê da Rosa, explica que o serviço de cardiologia intervencionista está praticamente parado. “Temos pacientes aguardando 60 dias por um cateterismo eletivo. Com isso, o paciente fica ocupando leito e não liberamos o paciente porque tem eminência de morte”, afirma. Representante do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS) do Litoral, Renê ressalta que a remoção para pronto atendimentos é um dos maiores desafios. “No domingo, chegou um jovem com hemorragia digestiva. Conseguimos remover apenas nesta segunda-feira às 9h”, completa.

Por causa da sazonalidade das temperaturas, Renê afirma que é grande o número de pacientes com infecção respiratória, principalmente crianças. “Em Tramandaí está sempre lotado. No Hospital São Vicente de Paulo, em Osório, estávamos com 6 pacientes para serem removidos. Além disso, a sala amarela estava lotada com dois leitos a mais de retaguarda. A sala vermelha também estava lotada”, relata. Ele destaca as dificuldade do setor da regulação em garantir leitos aos usuários, uma vez que há superlotação de hospitais de Porto Alegre.

“Os pacientes ficam aguardando serem removidos para hospitais de alta complexidade da Capital. Isso acaba sendo um entrave de pacientes, que ficam esperando vários dias nos hospitais”, afirma. Conforme Renê, uma portaria do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) determina o fim da testagem para a Covid-19, exceto a pacientes de grupos prioritários. “Não é mais para testar todo mundo. Isso causou estranheza, porque o Estado não vai mais comprar testes. A nota técnica diz que temos que testar idosos, pessoas com comorbidades, puérperas, imunossuprimidos”, destaca.

Por conta da pandemia, a população no litoral também aumentou. E isso teve reflexos no sistema de saúde. “Hoje são moradores que utilizam serviços. Isso provocou aumento de exames, compras de exames de imagem, medicação da farmácia municipal e aumento de demandas que não tinham. Os recursos orçamentários são sempre os mesmos e os municípios vão arcando com os custos”, reforça. Em média, a unidade de pronto atendimento de Osório atende 2,5 mil pacientes por mês, mas em maio foram 5 mil. “Cerca de 40% dos atendimentos foram de crianças com síndrome respiratória”, frisa.

A secretária de Saúde de Torres, Suzana Machado, afirma que o sistema de saúde na região segue pressionado por conta da alta demanda. Em muitos casos, a ocupação total dos leitos reflete na demora da liberação de vagas para outros pacientes. “Os serviços de urgência e emergência sempre estão atuando no nível máximo, extrapolam 130% de capacidade, o que faz nossos prontos atendimentos e UPAs ficarem lotadas”. Nesta segunda-feira, o hospital Nossa Senhora dos Navegantes (HNSN) tinha 9 pacientes, ou seja, ocupação de 90% dos leitos

Com a proximidade do inverno, Suzana alerta que a tendência é de crescimento da procura por atendimento nas unidades de saúde. Conforme Suzana, somente em maio, o pronto atendimento de Torres registrou um total de 6.222 atendimentos. “No inverno isso piora com as crises respiratórias, que aumenta no inverno. Enfrentamos dificuldades no litoral, porque são poucos os hospitais com oferta de leito”, completa, destacando que em alguns casos os pacientes aguardam até 72 horas por um leito. Em outras situações, a demora na desocupação dos leitos se dá pela espera de atendimentos especializados.

Ela destaca que muitos pacientes acabam ficando em UPAs em Torres, Capão da Canoa e Osório à espera de procedimentos. “No Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, um paciente chegou a ficar 60 dias esperando por um cateterismo”, revela. Boa parte dos casos atendidos nas unidades de saúde de Torres estão relacionados a síndromes respiratórias e problemas cardiológicos. Sobre a orientação da SES, que determinou restringir a testagem de Covid-19 a públicos prioritários, ela afirma que o cenário causa incerteza. “É um teste caro, não vamos ter repasse”, completa.

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que com o término da emergência de saúde pública internacional e também pela declaração do Ministério da Saúde de que a patologia se tornou endêmica, houve mudanças nos critérios. O quantitativo de testagem rápida de antígenos para Covid atenderá os grupos que evoluem com maior gravidade para hospitalização, a fim de evitar óbitos.


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