"The Last of Us" e a infeccção por fungos: quais as diferenças entre ficção e realidade

"The Last of Us" e a infeccção por fungos: quais as diferenças entre ficção e realidade

Na série, os organismos causaram uma pandemia que "zumbifica" as pessoas

Lucas Eliel

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Quem está assistindo a série "The Last of Us", novo sucesso da HBO Max, acompanha um cenário verdadeiramente distópico, onde o fungo Cordyceps provocou uma pandemia ao infectar os humanos e os transformar em zumbis. O cenário é semelhantemente ao que foi visto anos antes em na produção de "The Walking Dead". O organismo realmente existe na vida real, mas causa o efeito "zumbificador" somente em alguns animais. Por isso, é importante ressaltar as diferenças entre a atuação dos seres do Reino Fungi na ficção e na realidade.

Devido ao sucesso da série, originada de um game de mesmo nome, a internet está repleta de vídeos mostrando o funcionamento do Cordyceps. Um deles, do National Geographic Portugal, mostra a cadeia de infecção causada pelo organismo em formigas. 

De acordo com o coordenador do curso de Ciências Biológicas da Universidade Feevale, Matheus Weber, as pessoas não devem ficar assustadas com o Cordyceps. Ele "zumbifica" especificamente artrópodes, pequenos animais invertebrados dotados de patas articuladas e que possuem um exoesqueleto nitidamente segmentado.

Além das formigas, compõem a classificação besouros, borboletas, aranhas, centopeias, dentre outros. "Esses animais têm um sistema imunológico bem mais simples e primitivo comparado ao nosso. Somos organismos bem diferentes, pois eles não conseguem controlar essa infecção por fungos. Durante a proliferação, os artrópodes mantêm os instintos primitivos, sem a vontade própria", ressalta. 

Disseminação dos fungos é mais lenta

Em "The Last of Us", uma das teses para a disseminação rápida é de que o Cordyceps tenha infectado alimentos básicos e de grande circulação no mundo, como a farinha. Quem não consumiu o produto num período específico acabou ficando livre da doença. O protagonista Joel (Pedro Pascal), por exemplo, se recusou a comer biscoitos de seus vizinhos na série. Posteriormente, um deles "zumbificou", enquanto o personagem principal continuou se comportando normalmente. 

Conforme Weber, a série é criativa ao montar todas as "explicações científicas". O detalhe é que a disseminação dos fungos ocorre de forma mais lenta. "Um fungo é um organismo muito mais complexo que um vírus. O vírus é muito mais suscetível, devido a sua maquinaria biológica, a mutações. Um fungo é muito menos porque o sistema dele corrige erros, impedindo, dificultando e até impedindo variações, atrasando que ele se dissemine", explica. 

Mesmo com fatores como alterações climáticas, o especialista indica que um cenário como o visto na produção da HBO Max, se acontecesse, levaria centenas ou milhares de anos para se concretizar. Este ponto, e a complexidade do sistema nervoso dos humanos, contribuem para a distopia causada por algum fungo permanecer apenas na ficção. "Na biologia, a gente nunca pode dizer nunca. Mas a gente pode quase descartar, quase impossibilitar uma situação como essa", pontua. 

Outro cenário visto em "The Last of Us" | Foto: HBO Max / Divulgação / CP

Importância dos fungos 

Para o estudioso, é importante que as pessoas não demonizem os fungos após assistir a série, pois os organismos são bastante relevantes. "Eles têm uma importância ambiental muito grande por conta da decomposição. Também fazem a fermentação de cervejas, vinhos, pães e iogurtes. Alguns deles são alimentos, como os cogumelos, e os fungos também originaram a penicilina, que já salvou muitas vidas", enfatiza. 

Porém, alguns fungos também podem ser perigosos e patogênicos. Por serem organismos muito variados, é preciso saber com quais deles estamos lidando. "Alguns são tóxicos e produzem veneno", acrescenta.

Como prevenção, é imprescindível estar sempre em ambientes limpos e manter uma saúde geral boa, levando em consideração o fato de infecções naturais poderem evoluir para quadros mais preocupantes em indivíduos com a imunidade baixa. 

 

 

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