Um desperdício que desafia a lógica

Um desperdício que desafia a lógica

Sem dúvida, esse tipo de disparidade constitui verdadeira tragédia e atenta contra a paz mundial de forma grave. Não é difícil imaginar o drama de populações inteiras em migrações incertas, numa luta que também é contra a fome.

Correio do Povo

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Nesta quarta-feira, foi divulgado um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) indicando que, no ano de 2022, a humanidade desperdiçou cerca de um bilhão de refeições por dia. Para um cenário em que aproximadamente 800 milhões de pessoas passam o dia sem ter o que comer, essa constatação é chocante e chega a soar despropositada. Segundo a instância, responsável pelo Índice de Desperdício de Alimentos e vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), essa aferição é provisória, podendo haver uma quantidade ainda maior de má aproveitamento de itens alimentícios. Num universo de 8 bilhões de pessoas no planeta, ter 1/8 do seu total passando fome é algo que mostra um enorme desajuste na estruturação socioeconômica de cada uma das nações, incluindo as subdesenvolvidas, onde também foram constatados desequilíbrios na distribuição do acesso à alimentação.

Sem dúvida, esse tipo de disparidade constitui verdadeira tragédia e atenta contra a paz mundial de forma grave. Não é difícil imaginar o drama de populações inteiras em migrações incertas, buscando refúgios em outros lugares e países hostis, vivenciando as vicissitudes desse êxodo em que a busca pela sobrevivência se torna uma demanda quase nunca atendida ou entendida, abrindo os caminhos para uma violência gratuita e para uma xenofobia que representam um verdadeiro aviltamento dos direitos humanos. Muitos morrem nessa peregrinação que, quase sempre, é também uma luta contra a fome.

Em seu levantamento, o Pnuma mostra que o desperdício está presente em restaurantes, refeitórios e hotéis, que respondem por 28% das perdas. Já o comércio varejista, como açougues e mercearias, descartou 12%. A parcela maior pertence aos lares, com 60%, o que corresponde a 631 milhões de toneladas. Esses dados mostram que precisamos, em nível nacional e internacional, de medidas efetivas para equacionar essa questão em que a fartura de um segmento corresponde à insegurança alimentar de uma ampla parcela socialmente vulnerável.


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