Palestinos contra palestinos Israelenses contra Netanyahu

Palestinos contra palestinos Israelenses contra Netanyahu

Jurandir Soares

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A guerra que o Hamas trava em Gaza contra Israel chegou a um ponto tão paradoxal de gerar uma confrontação entre os próprios palestinos. Aliás, uma confrontação que não é nova, colocando de um lado o grupo radical Hamas, que não aceita a existência de Israel, e de outro a Autoridade Nacional Palestina, comandada pelo Fatah, que aceita o Estado de Israel em troca da constituição do Estado da Palestina. Estes dois grupos já se enfrentaram militarmente, em 2007, após Israel se retirar da Faixa de Gaza e a Autoridade Nacional Palestina, sob liderança do Fatah, tentar implantar seu governo naquela área. A ANP acabou sendo corrida dali, num confronto armado travado com o Hamas, que, desde então, se apossou do território. O âmbito da ANP ficou restrito à Cisjordânia, mas é onde vive a maior parte dos palestinos.

Embora sempre tenha buscado o diálogo com Israel – o qual se tornou mais difícil sob o governo de Netanyahu –, a ANP tem se solidarizado com o sofrimento de seus irmãos palestinos em Gaza. E procurou desenvolver ações para minimizar a questão crucial da falta de alimentos. E o que teria acontecido, segundo a revoltada nota emitida pelo Hamas, é que forças da ANP teriam entrado em Gaza, escoltando um comboio de ajuda humanitária enviado desde o Egito pelo Crescente Vermelho, que é o equivalente árabe da Cruz Vermelha. Estas ações do grupo palestino moderado teriam sido coordenadas junto com forças israelenses, que o Hamas chama de forças de ocupação. Daí a revolta.

Mudanças de Governo

A ANP vem sendo criticada, não só entre facções palestinas, mas também em nível internacional, por não fazer eleições e a consequente renovação de seus quadros. Ocorre que o presidente da organização, Mahmoud Abbas, foi eleito em 2005 para um mandato de quatro anos. Reelegeu-se em 2009, porém depois disto nunca mais foi realizada eleição. Aos 86 anos, sem apoio político e sem conseguir fazer avançar o diálogo com Israel, Abbas ainda se sustenta no cargo. Mudou, isto sim, o primeiro-ministro. Assim, na quinta-feira, 28, a ANP anunciou a formação de um novo gabinete sob liderança do já empossado primeiro-ministro, Mohammad Mustafa. A entidade fora criada após os Acordos de Oslo de 1993 como uma espécie de governo provisório até a criação de um Estado palestino.

No fim de fevereiro, o então premiê Mohammed Shtayyeh, que estava no cargo desde 2019, apresentou o seu pedido de renúncia ao governo, alegando a necessidade de uma nova política, levando em conta “a nova realidade na Faixa de Gaza e a escalada na Cisjordânia e Jerusalém”, considerando a “necessidade urgente de um consenso interpalestino”. Mustafá, de 69 anos, presidiu o Fundo de Investimentos para a Palestina (PIF), é conselheiro econômico de Abbas e ocupou altos cargos no Banco Mundial e em Washington por 15 anos. Ele formou-se em Economia pela Universidade George Washington, nos EUA, e é membro independente do comitê executivo da Organização para a Libertação da Palestina, pelo Fatah, partido de Abbas.

Mudanças de Governo 2

Enquanto os palestinos moderados conseguiram pelo menos fazer a troca do seu chefe de governo, os israelenses moderados tentavam a troca de seu comandante. Ou seja, tirar o radical Benjamin Netanyahu da sua cadeira. Neste domingo, 31, enquanto o primeiro-ministro convalescia de uma cirurgia de hérnia, milhares de israelenses tomavam as ruas de Jerusalém exigindo a sua renúncia. Isto porque, no próximo domingo, 7, a guerra completa seis meses e mais de cem reféns ainda seguem em mão do Hamas, sabe-se lá em que condições. Considerando ainda a avaliação de que cerca de 40 outros já morreram. E Bibi é incapaz de conseguir um acordo de cessar-fogo, para a devolução dos reféns, como já foi feito anteriormente.

O fato é que esta prorrogação da guerra, com a possibilidade de invasão da cidade de Rafah, onde se refugiou mais da metade dos 2,3 milhões de palestinos de Gaza, leva a alguns fatores que são completamente adversos a Israel. Nesta segunda-feira, 1°, o Exército de Defesa de Israel anunciou que 600 soldados israelenses já morreram na guerra e outros 1.500 resultaram feridos. Isto, um ponto. Outro, Netanyahu tem a ilusão de acabar com o Hamas. Sabe-se que ele pode matar todas as lideranças atuais do movimento terrorista, porém, enquanto não for resolvida a questão do Estado da Palestina, outras lideranças radicais surgirão. E, por último, as imagens que correm o mundo de crianças, mulheres e homens palestinos morrendo chocam e depõem contra a imagem de Israel. Muito embora se saiba que uma grande parte dos homens que morrem é de militantes do Hamas. Mas tudo pesa contra a imagem de um país cuja boa parte da população já não acredita mais no seu líder.


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