Seminário Internacional em Porto Alegre foca em contribuições ao SUS e à plataforma clínica da OMS

Seminário Internacional em Porto Alegre foca em contribuições ao SUS e à plataforma clínica da OMS

Inteligência artificial foi ferramenta crucial para processar volumes massivos de dados de pacientes

Paula Maia

Ricardo Kuchenbecker explicou que a intenção é que esses estudos e análises ajudem os hospitais a desenvolverem estratégias preventivas

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Porto Alegre foi palco do Seminário “Contribuições ao SUS e à Plataforma clinica Global da OMS – Resultados dos estudos Multicêntricos sobre casos de pós-covid e MPOX no Brasil”, promovido pela Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), Organização Mundial da Saúde (OMS), Ministério da Saúde, Hospital de Clínicas e Grupo Hospitalar Conceição. No evento, os integrantes da pesquisa compartilharam os resultados dos estudos multicêntricos sobre casos de pós-COVID e MPOX no Brasil, visando contribuir com o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Plataforma Clínica Global da OMS.

O médico pesquisador e coordenador do setor de Pesquisas do GHC, Fernando Anschau destacou a importância de avaliar sistematicamente a saúde dos afetados pela Covid-19 após o período agudo da doença. Ele salientou que esses dados são cruciais para orientar medidas prioritárias em situações de crise, direcionando tratamentos, reabilitação funcional e apoio social para minimizar os impactos negativos na saúde e qualidade de vida das pessoas e suas comunidades.

Entre os detalhes compartilhados, Anschau revelou que cerca de 40 mil pacientes com Covid foram acompanhados em mais de 60 instituições de saúde. Dentre esses, aproximadamente 9 mil foram analisados após o período de infecção (pós-COVID). O especialista também explicou o trabalho de curadoria dos dados, mencionando a variedade de variáveis investigadas, como idade, hipertensão e sintomas respiratórios, e a precisão da análise feita pela inteligência artificial, destacando uma acurácia de 98 a 99%.

Anschau comentou sobre os desafios futuros da pesquisa, incluindo a análise de casos de outras doenças e a construção de um grande banco de dados para uma compreensão mais abrangente dos pacientes afetados pela COVID-19.

“A gente ganhou uma certa habilidade enquanto grupo, que a gente não tinha antes dessa pesquisa. Isso é muito rico. Mas daqui para diante a gente tem mais perspectivas. Além do que, quando a gente puxa esses dados todos, a gente cria um grande banco de dados. Então, a gente tem um grande data hub”, ressaltou.

O uso da inteligência artificial foi ressaltado pelo gerente de risco HCPA e professor de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, Ricardo Kuchenbecker, como uma ferramenta crucial para processar volumes massivos de dados de pacientes. Kuchenbecker explicou que a intenção é que esses estudos e análises ajudem os hospitais a desenvolverem estratégias preventivas e a se prepararem adequadamente para enfrentar cenários semelhantes no futuro.

Este avanço na pesquisa não só contribui para o entendimento da Covid-19 e suas variantes prolongadas, mas também permite preparar o sistema de saúde para responder de forma mais eficaz a futuras situações pandêmicas.

“E aí é que tem um componente inovador. É a primeira vez que os hospitais universitários brasileiros utilizam ferramentas de inteligência artificial para processamento de grande volume de dados. Estamos diante de uma base de dados que significa um total de mais de 500 mil pacientes desses hospitais universitários, aqui em Porto Alegre, GHC e Hospital de Clínicas, e os hospitais afiliados da empresa brasileira de serviços hospitalares, que é uma empresa do governo federal que dá conta de hospitais universitários”, ressaltou.

A pesquisa também demonstrou o impacto da Covid-19 nas unidades básicas de saúde. A chefe do Serviço de Assistência Primária à Saúde do HCPA, da Unidade Básica de Saúde Santa Cecília, Claunara Mendonça explicou que os pacientes com diagnóstico inicial de Covid-19 continuaram a utilizar os serviços, não apenas na fase aguda, mas também em casos de Covid longa – com sintomas que persistiam a partir do 30 dia da Covid inicial.

Ela destacou que 6% dos pacientes que tiveram Covid-19 permaneceram com os sintomas depois de 90 dias da infecção pelo vírus. Isso gerou o impacto de uma média de sete consultas para cada pessoa na UBS.

Foram analisados os prontuários eletrônicos de 662 pacientes, que faziam parte da área de cobertura da UBS, no período de março de 2020 a dezembro de 2021. Ao todo, 86 pessoas apresentaram sintomas duradouros: 49 mulheres e 37 homens, com média de idade de 53,6 anos.


O diretor de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência do Ministério da Saúde (MS) Nilton Pereira Junior ressaltou a colaboração contínua do Ministério com a OMS, a OPAS e outras entidades nesse amplo projeto colaborativo e multicêntrico envolvendo mais de 60 instituições e 200 pesquisadores.

Ele destacou que a primeira etapa foi avaliar pacientes com Covid internados em hospitais, e a gestão atual tem como prioridade acompanhar os casos de pós-COVID, tanto os pacientes anteriores quanto os novos com complicações da doença.

Junior afirmou que o Ministério da Saúde está buscando embasar suas políticas públicas em evidências científicas, priorizando a ciência e apoiando institutos, universidades e a OMS numa plataforma global.

“O Brasil está contribuindo com a nossa produção de ciência no Brasil, mas também para o mundo. Nós tivemos, nós somos um dos países, acabou de apresentar aqui, que mais conseguiu acompanhar, mais conseguiu inserir pacientes nesse estudo mundial. Então, participação do Brasil é fundamental para a produção de ciência para o mundo todo”, concluiu.

Ele enfatizou a intenção de continuar apoiando essa pesquisa em andamento, reforçando que é essencial cuidar dos pacientes pós-COVID e continuar produzindo conhecimento científico sobre a doença. Destacou a importância de incorporar esses conhecimentos ao Sistema Único de Saúde (SUS) para beneficiar o atendimento das pessoas.


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