Balneário Jardim Olívia, em Arroio do Sal, é destino de veranistas paraguaios por décadas

Balneário Jardim Olívia, em Arroio do Sal, é destino de veranistas paraguaios por décadas

Moradores do país fronteiriço viajam por mais de 13 horas para descansar no litoral gaúcho

Christian Bueller

Moradores do país fronteiriço viajam por mais de 13 horas para descansar no litoral gaúcho

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A placa branca do veículo Foton, com letras e números vermelhos e o nome do país impresso, denuncia: este veículo pertence a paraguaios. Pois, toda uma rua sem saída, no balneário Jardim Olívia, em Arroio do Sal, a poucos metros do mar, é visitada por conterrâneos deste país que faz fronteira com o Brasil. Há cerca de 30 anos, o falecido ator, cineasta e professor Lúcio Sandoval fugiu da fama na sua terra natal para cobrir os pés com areias gaúchas no verão, trazendo familiares e amigos, fato que se repete todo ano.

O lugar já recebeu artistas do Paraguai e colegas das universidades onde Sandoval lecionou teatro. É o caso de Antonio Gomes, por muitos anos funcionário do setor administrativo da Universidad Nacional de Villarrica. Relaxando no embalo de uma rede, passa alguns dias em uma casa de esquina, de frente para as dunas. Ele pede, de forma simpática, que o português seja falado devagar para facilitar a compreensão. Ao lado dele, uma cuia de tereré, bebida típica guarani, similar ao nosso chimarrão, só que servida fria. Previsão de ir embora? “Só Deus sabe isso”, sorri. Há sete anos, visita o Estado, acompanhado de casais de amigos.

A viagem, longa, compensa, garante Gomes. “São 900 quilômetros da fronteira com Foz do Iguaçu até aqui, umas 13, 14 horas de duração. Mas aqui está bem tranquilo”, salientou. Ele só achou um pouco cara a “tapa de cuadril” (picanha), mas não deixar de fazer churrascos durante a estada no RS. “Fazer uma costela. É assim como vocês dizem, né? Costela”, questiona, entre uma sorvida e outra no tereré. A cozinha paraguaia vai dar às caras quando eles prepararem o seu chipa guazú, uma espécie de torta de milho verde salgado. Receita milenar, era preparada pelos índios guaranis, servida como acompanhamento, inclusive, de churrasco, ou até como prato principal. “Dá para comer de dia e de noite”, explica Antonio.

Professor de Educação Física no Paraguai, Erik Sosa entrou em casa para buscar a prova de que é apaixonado por futebol. Mais especificamente, pelo Cerro Portenho, time para que torce desde pequeno. A camisa do clube vai com ele onde vai e é mostrada com orgulho, esticada junto ao corpo. “Cerro, Cerro”, canta. Mas o ídolo de Sosa é um brasileiro. E, casualmente, esteve preso recentemente em seu país. “Ronaldinho Gaúcho é um ícone para mim”, frisa. Para ele, valeu mais o título que o craque gaúcho conquistou no torneio entre os detentos do que o motivo da prisão. “Nós amamos os brasileiros”, completa.

 


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