Moradores relatam esgoto correndo pelas areias da Praia da Cal, em Torres

Moradores relatam esgoto correndo pelas areias da Praia da Cal, em Torres

Mesmo liberada para banho, banhistas ainda identificam pontos de esgoto a céu aberto em uma das mais tradicionais praias da cidade

Chico Izidro

Esgoto a céu aberto provoca revolta em veranistas

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A Praia da Cal, localizada em Torres, vem sofrendo com a explosão imobiliária, o que tem sido associado ao vazamento do esgoto, que corre para o mar, deixando pelo caminho dejetos e muito mau cheiro. Os moradores locais afirmam que o problema vem ocorrendo há muito tempo, sendo que a Corsan tem atendido aos chamados da comunidade, mas não consegue resolver a situação. A praia passou cerca de três semanas, durante o mês de janeiro até o dia 9 de fevereiro, com a classificação imprópria para banho, conforme boletins da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). A praia foi liberada aos banhistas pelo órgão ambiental há pouco mais de duas semanas, porém as reclamações dos moradores continuam.

No último sábado, a equipe de reportagem do Correio do Povo identificou pelo menos um ponto de esgoto a céu aberto na praia. A Corsan, por sua vez, afirma que não há extravasamentos na rede de esgoto cloacal (doméstico), de responsabilidade da Companhia. Em nota, a companhia afirmou que vem fazendo vistorias com frequência para identificar ligações irregulares de água de chuvas à rede de esgoto cloacal. Para isso, é utilizada nos locais de acesso às galerias de esgoto a aplicação de fumaça não tóxica, que indica onde há ligações inadequadas.

Essas irregularidades na rede e o descarte incorreto de dejetos sobrecarregam o sistema, prejudicam o tratamento do esgoto e causam danos ao meio ambiente. Por isso, a Corsan também vem fazendo um trabalho educativo nas comunidades para conscientizar a população sobre a importância de não colocar roupas, panos, fraldas ou outros objetos para serem descartados no sistema de esgotamento sanitário.
A prefeitura de Torres, por meio da assessoria de comunicação, orienta aos moradores que abram protocolo junto à prefeitura caso presenciem casos de esgoto a céu aberto. Dessa forma, a prefeitura pode notificar e eventualmente multar a Corsan, que é responsável pelos reparos.

De acordo com Sandra Prezzi de Queiróz, moradora da região, "a infraestrutura não está acompanhando o crescimento (da cidade)". A Praia da Cal, que se localiza entre o Morro do Farol e o Morro das Furnas, é um um lugar pequeno, com espaço limitado. "E este espaço vem sendo contaminado pelo esgoto a céu aberto, que tem afetado até o calçadão em frente às residências", destaca.

A casa onde ela veraneia com a família, na rua Cruzeiro do Sul, há mais de 60 anos é uma das poucas que sobrou, pois a maioria das residências foi adquirida por construtoras, que as demoliram e começaram a construir prédios em seus lugares. "Apesar da legalidade da aprovação da prefeitura em relação às obras, os edifícios que estão sendo construídos estão fugindo das normas, por exemplo, tendo mais andares do que o permitido por lei. E a parte dos esgotos não vem sendo aprimorada", argumenta Sandra.

Ela ressalta que são perceptíveis, além do vazamento do esgoto, o cheiro forte de dejetos, coliformes fecais mesmo", se desespera. O marido de Sandra, José Mário, começou em 2020, ano do começo da pandemia do novo coronavírus, a pedir providências junto a Corsan e a Prefeitura de Torres para buscar uma solução. "Não posso ser injusta, o pessoal da Corsan tem aparecido com frequência e faz a desobstrução dos canos, mas tem sido uma solução paliativa. Os canos estão muito velhos e se rompendo", afirma.

"A gente pede providências, e caso elas não ocorram, tememos que a Praia do Cal fique inviabilizada. Ninguém poderá mais usar a faixa de areia e muito menos conseguir tomar banho de mar. Eu mesma nem tenho podido aproveitar. Cheguei aqui em meados de dezembro passado, e se fui à beira do mar quatro vezes foi muito", lamenta.


Correio do Povo
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