Museu reúne lixo lançado ao mar

Museu reúne lixo lançado ao mar

Pescador Daniel Silveira demonstra preocupação com o meio ambiente

Chico Izidro

Pescador Daniel Silveira mantém museu em Quintão

publicidade

O pescador Daniel Silveira sempre foi preocupado com o meio ambiente. Morador de Quintão, no Litoral Norte, há alguns anos decidiu, depois de encontrar no mar ou na beira da praia tantas coisas, como animais mortos e dejetos jogados de navios, construir um museu dentro de sua loja de pesca e acessórios. De certa forma, ele visualiza o futuro, pensando nas crianças, como seus dois filhos, Miguel, de 2 anos, e Matheus, de 16 anos. "Eu falo para as crianças que é preciso preservar a natureza. Já tenho 44 anos, mas trabalho pelo futuro delas e dos meus filhos. Se eu colocar na mente de uma criança que a gente tem de preservar, já me sinto um vitorioso", garante.

O museu tem cerca de 500 peças. Daniel também costuma cruzar o Brasil, sendo convidado para palestras e congressos, para falar da sua luta contra o descaso humano com o mar. Ele conta viver da pesca artesanal e profissional, e tem forte atuação nas redes sociais, publicando vídeos e fotografias das suas atividades preservacionistas.

Há alguns anos, Daniel começou postando vídeos no hoje extinto Orkut, mostrando a poluição na orla de Quintão. Porém, confessa que não tinha noção do perigo das redes sociais. "Eu xingava, falava palavrão", relembra. Então, um dia começou a juntar todo o lixo marinho que encontrava e surgiu a ideia do museu. E ainda mantém um canal no YouTube e uma página no Facebook, tendo cerca de 100 mil seguidores.

Daniel reserva um canto onde expõe dezenas de latas e garrafas de plástico provenientes de mais de 30 países e que recolheu na beira da praia ou que caíram em suas redes. "Incrível, os navios passam ao longe e seus tripulantes jogam ao mar tanta coisa", conta Daniel, que se assusta com a quantidade de lixo lançado principalmente de navios japoneses. "Mas tem muita coisa da França, Alemanha, China, Coreia do Sul e, Índia", enumera. "O que está aqui é apenas uma pequena amostra do que já coletei. Se eu fosse juntar todo o material, faltaria espaço. E tem muito material plástico, que é um elemento muito nocivo. Já é considerado uma questão de saúde pública, inclusive sendo encontrado no coração humano", se assusta.

PLÁSTICO

Daniel relata que o plástico, que leva centenas de anos para se decompor afeta muito os animais. "Tartarugas, baleias, aves. Muitos animais comem o plástico e morrem engasgados, outros se enroscam no material e perecem sufocados. Uma tristeza", lamenta.
Em seu museu, ele mostra ainda nas paredes as cabeças de diversos peixes, como tubarões, miraguaia, viola e linguado, que passam por um processo de taxidermia para serem expostos. No chão, ossos de baleias, como a jubarte, e até mesmo partes de um golfinho, além de conchas.

Lá, o visitante pode até ver parte de um galeão português fabricado em 1.500, que foi encontrado na praia e, certamente, deve valer muito dinheiro. O pescador sonha em ampliar o espaço do museu. Ele lembra ainda que, há um tempo, ganhou de um conhecido um enorme dente de um megalodonte (tubarão pré-histórico, que podia alcançar inacreditáveis 18 metros), encontrado na praia. A peça, analisada por especialistas confirmou seu passado de centenas de milhares de anos.

Daniel afirma que ele e outros pescadores, volta e meia fazem a limpeza da praia. "A gente recolhe todo o lixo, mas no dia seguinte está tudo sujo de novo. Encontramos fraldas descartáveis, latinhas de cerveja e sacolas plásticas. O mar sobe, puxa este lixo, que vai parar dentro dos animais", explica. O pescador também faz palestras nas escolas do município de Palmares do Sul. "Não recebo um centavo, mas nunca visei o dinheiro", garante. "Como pescador, quero ver o mar o mais limpo possível, afinal dali sai o meu sustento, e conscientizar as pessoas. A minha coleção destaca o descaso do homem com a natureza", conclui.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895