Nível da Lagoa dos Barros chama a atenção no Litoral Norte

Nível da Lagoa dos Barros chama a atenção no Litoral Norte

Grande faixa de areia emergiu na região

Henrique Massaro

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Cenário tradicionalmente emoldurado pelas janelas de milhões de veículos que cruzam as BRs 290 e 101, a Lagoa dos Barros, popular por suas lendas e histórias sobrenaturais, neste verão tem chamado a atenção por um fato. Em virtude da severa estiagem que se abate sobre o Rio Grande do Sul, o nível da água está visivelmente reduzido, ainda que esteja pouco mais de um metro acima do mais baixo já registrado, segundo dados oficiais. Pela primeira vez em anos, turistas que passam pelo local e moradores das imediações da lagoa, localizada nos municípios de Osório e Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte, têm notado uma grande faixa de areia que emergiu na região.  

O pescador Ubiratan San Martin, 60 anos, mora desde 2011 na beira da Lagoa dos Barros, na Estrada Osório/Capivari, que liga a BR 290 com a BR 101. Ele afirma ter presenciado o nível da lagoa muito acima da média, em 2015, quando, recorda, a água atingiu parte do asfalto. Também já viu o nível diminuir, mas não como está neste verão. “Ela baixa, mas nunca fica assim”, comenta o pescador, que também relata que a situação começou a ser registrada a partir do mês de novembro. Ele diz que a lagoa é uma das poucas próprias para banho na região, lamenta que o turismo não seja mais bem trabalhado no local e culpa, além da estiagem, os produtores de arroz que, do outro lado, em Santo Antônio, bombeiam água para irrigar as lavouras.

A associação entre a diminuição do nível da Lagoa dos Barros com o setor arrozeiro, contudo, é uma falácia, afirma o coordenador da Comissão do Meio Ambiente da Farsul, Domingos Antônio Velho Lopes. Ele cita dados do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Litoral Médio que mostram que, este ano, houve uma redução de 36% de lavouras irrigadas retirando água da lagoa. Lopes ainda menciona que, apesar do nível visivelmente mais baixo do que nos últimos anos, a régua de recomendação para irrigação anual, acordada entre produtores e Fepam desde 1966, mostra que o nível atual é de 8,6 metros, mais de um metro acima do nível mais baixo já registrado, 7,5 metros, em 1990.

“Significa que o produtor seguiu à risca a orientação técnico-científica, porque reduziu a água para que a lagoa atingisse níveis inferiores ao nível histórico negativo”, afirma Lopes. De acordo com o coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Farsul, a população não estava mais acostumada a vê-la tão baixa. O nível considerado natural é de 10,6 metros e, em 2015, por exemplo, chegou a 11,88 metros, o mais alto averiguado desde o início da medição. Porém, nos últimos cinco anos, um déficit hídrico vem sendo registrado, o que se agravou entre o fim de 2021 e o início de 2022. “Não temos dúvida de que esta é a pior estiagem dos últimos 100 anos.”

Estiagem preocupa na região

O nível da Lagoa dos Barros, segundo a Farsul, ainda não chega a ser uma preocupação para os produtores de arroz, mas a estiagem como um todo preocupa a região. O secretário de Meio Ambiente de Osório, Fernando Campani, afirma que diversas lagoas têm apresentado um nível de água muito abaixo do normal em função da falta de chuvas, como é o caso da Lagoa do Peixe, entre Tavares, Mostardas e São José do Norte, mostrado pelo Correio do Povo nas últimas semanas.

“Estamos com a esperança de que a pluviometria melhore e recupere esses mananciais, essa é a nossa torcida, tanto para a manutenção da vida quanto para a economia”, explica Campani, que diz que, apesar de a Lagoa dos Barros não ter um grande potencial piscicultor como outras, dezenas de famílias vivem da pesca no local. Ele também destaca que não há dados que mostrem que as lavouras causem um impacto significativo na redução do nível da água. O setor, segundo o secretário, também tem prejuízos, porque a capacidade de bombeamento é menor.

Outra preocupação é com relação à economia indireta, já que a Lagoa dos Barros atrai turistas que usufruem de seus locais próprios para banho. “Quando a água baixa e chega a um ponto que a areia se mistura com sedimento orgânico, já não fica uma balneabilidade de boa aparência”, explica. Ele também faz um apelo com relação à falta de tratamento de esgoto, realidade da maior parte dos municípios do Litoral Norte, e pede que a população faça bom uso do recurso hídrico. “Temos uma limitação climatológica indicando que a estiagem não vai terminar agora e nem semana que vem, temos um comportamento do usuário de água potável que tem que ser de racionalidade, seja na área urbana ou na rural.”


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895