Saúde Mental nas Olimpíadas: por que as mulheres foram as primeiras a se posicionar sobre o assunto?

Saúde Mental nas Olimpíadas: por que as mulheres foram as primeiras a se posicionar sobre o assunto?

Entenda porque casos como de Simone Biles e Naomi Osaka trazem uma discussão ainda maior: a necessidade de prevenção e promoção da saúde mental das mulheres

Correio do Povo

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Grandes eventos esportivos sempre foram marcados por algum momento histórico e, mais recentemente, uma pandemia impactou todo o planeta e a própria lógica das competições. Somado a este fato, a saúde mental também se tornou pauta prioritária nos debates, especialmente com a recente desistência de Simone Biles - considerada a melhor ginasta da atualidade e uma das atletas mais admiradas pelo público - das finais da ginástica nas Olimpíadas de Tóquio. 

Além de Biles, a tenista japonesa Naomi Osaka - vencedora de quatro torneios do Grand Slam e número dois do mundo - também levantou a mesma pauta há pouco menos de dois meses, quando decidiu se retirar do Torneio Roland Garros da França para se concentrar em sua saúde mental. Jovens atletas, negras, submetidas a altos níveis de pressão em busca do desempenho e resultado que garantem seus lugares ao pódio. 

Mesmo em um evento sem público, a exposição promovida pela cobertura midiática e pelas interações diretas com os espectadores pelas redes sociais levam os competidores aos limites do emocional. Desligar o telefone ou não conceder entrevistas não são alternativas capazes de driblar ou vencer os desafios e a sobrecarga mental… E para as mulheres, os entraves podem ser mais profundos. 

Diante dos holofotes, o debate precisa de mais  informação

O levantamento "Caminhos em Saúde Mental", realizado pelo Instituto Cactus, reuniu dados importantes sobre a saúde mental desse grupo. Por exemplo, sobre as taxas de depressão no geral, as mulheres são atingidas, em média, duas vezes mais. O relatório também traz dados que mostram que as mulheres buscam mais ajuda do que homens, tanto por problemas de saúde geral como mental, algo que ajuda a explicar a vanguarda feminina em levantar essa bandeira também no esporte. Ainda é importante notar que os obstáculos são ainda maiores para mulheres negras e periféricas, submetidas a outros contextos de discriminação.

"Precisamos adotar um olhar que vai além da perspectiva biológica e considerar as condições de gênero, que sobrecarregam e impactam a saúde mental. Além do perfil multitarefa, há também outros vieses que implicam diferentes suscetibilidades e exposições a riscos específicos de sofrimento psicológico, como desvantagem socioeconômica, educacional e até mesmo profissional, status social baixo ou subordinado, padrões irreais de estética e outros. Por isso, não podemos falar de saúde mental sem falar das mulheres. Não podemos discutir sobre a decisão de Simone Biles e Naomi Osaka sem antes nos aprofundarmos em todos os aspectos que as levaram a priorizar a sua saúde mental", comenta Maria Fernanda Quartiero, Diretora Presidente do Instituto Cactus. 

A procura (e até mesmo necessidade) da excelência na sociedade está cada vez mais elevada. Para mulheres se destacarem e ganharem visibilidade em ambientes predominantemente masculinos é preciso melhorar o desempenho a qualquer custo, incluindo padrões impostos e também lidar com as desigualdades existentes.  É sob essa perspectiva que o Instituto Cactus desenvolveu o "Caminhos em Saúde Mental", um material que convida à construção de estratégias e políticas públicas de atuação em esforços conjuntos de governos, academia, setores de saúde e assistência, além da sociedade civil. 

O acolhimento em saúde mental precisa ser segmentado e, por isso, demanda um olhar ampliado para outras questões físicas, psicológicas e sociais relacionadas ao gênero e suas condições particulares. 

Sobre o Instituto Cactus

O Instituto Cactus é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para a prevenção e a promoção da saúde mental no Brasil, através da geração de conhecimento, implementação de ferramentas de prevenção, colaboração em políticas públicas, articulação de ecossistemas e conscientização da sociedade sobre o tema. O conselho consultivo do Instituto reúne nomes Christian Dunker, psicanalista, professor Titular em Psicanálise e Psicopatologia do Instituto de Psicologia da USP, Natalia Cuminale, jornalista especializada em saúde e fundadora do Futuro da Saúde, Márcio Bernik, psiquiatra e coordenador do Laboratório de Ansiedade da Faculdade de Medicina da USP, Márcia C. Castro, chefe do Departamento de Saúde Global e População na Faculdade de Saúde Pública de Harvard, e Marina Feffer Oelsner, Co-fundadora do Generation Pledge.

Em parceria com o Instituto Veredas, o Cactus desenvolveu o projeto Caminhos em Saúde Mental, com o objetivo de oferecer um entendimento de fôlego sobre esse campo no Brasil e assim entender melhor em quais campos é preciso uma atuação mais articulada. O estudo pode ser baixado gratuitamente pelo site: 

https://www.institutocactus.org.br/caminhos-em-saúde-mental


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