A cidade e a periferia de Elvira Navarro

A cidade e a periferia de Elvira Navarro

Escritora espanhola falou na mesa "A nova literatura espanhola' e concedeu entrevista ao CP

Luiz Gonzaga Lopes

Elvira Navarro é uma das maiores escritoras espanholas da atualidade

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A escritora espanhola Elvira Navarro, de 36 anos, passou pela Feira do Livro esta semana na mesa "A nova literatura espanhola", junto com Care Santos e Javier Montes. A mesa tratou da influência do franquismo, que provocou atraso no país em todas as áreas, o papel da web na recepção do conteúdo, a literatura de ficção, a possibilidade de viver somente do ato de escrever, entre outros.

Escritora premiada e crítica literária, Elvira Navarro tratou de temas como “por que gostamos tanto de ficção”. Segundo Elvira, “o livro tem a função de ajudar a restaurar algo em ti, a ficção me ajuda a solucionar algo em minha vida”. Licenciada em Filosofia, em 2004, ela venceu o concurso Jovens Artistas da cidade de Madrid, e entre 2005 e 2008, recebeu uma bolsa de criação na Residência Estudantil.

Ela já publicou quatro livros: "La ciudad en invierno" (Barcelona, Caballo de Troya, 2007); "La ciudad feliz" (Barcelona, Mondadori, 2009), "El invierno y la ciudad" (RHM Flash ePub, 2012) e "La trabajadora" (Barcelona, Penguin Random House, 2014). Elvira Navarro é criadora do blog Periferia e em 2010, foi incluída na lista dos 22 melhores escritores em língua espanhola com menos de 35 anos da revista Granta, junto com Javier Montes. Acompanhe entrevista com a escritora:

Correio do Povo - Como foi a conversa com o público da Feira do Livro na quarta-feira? Quais as questões tratadas?
Elvira Navarro - A conversa com o público foi muito animada. É a terceira vez que eu encontro o público brasileiro, e ele sempre me surpreende com o desejo de participar e a curiosidade. Especialmente considerando que eu falo espanhol e, provavelmente, muitos dos participantes têm que fazer um esforço para ouvir. Eu acho que é um público de grande generosidade. Foram tratadas questões de como o quanto de autobiográfico tem a ficção ou o que deve ser feito para mudar os currículos que apresentam a leitura como algo acadêmico e obrigatório, ao invés do que realmente é: algo que se faz porque se gosta.

CP - Em que a ficção pode contribuir com o mundo de hoje?
Elvira - As ficções que são cúmplices de um sistema perverso, como por exemplo aqueles romances que condenam mulheres a esperar eternamente por um príncipe azul que as salve de si mesmos, são ficções que não contribuem para fazer um mundo melhor. Tais histórias perpetuam papéis nocivos da submissão. Uma literatura que ajudaria a construir um mundo melhor seria aquela mais crítico com todos os aspectos que nos destroem.

CP - Em que mudou a tua vida ter sido selecionada como uma dos 22 melhores jovens escritores pela Granta ou para editar temporariamente o selo Caballo de Troya?
Elvira - Que Granta tenha me escolhido significou mais prestígio e visibilidade. O fato de editar o selo Caballo de Troya é temporário. Só vou ser editora por um ano, porque eles decidiram que o selo tem um diretor literário diferente a cada ano. Estar decidindo o que se publica me permite aprender sobre o trabalho de um editor e lançar os livros de autores pouco conhecidos que eu julgo interessantes.

CP - Quais as impressões que levas da Feira do Livro e da cidade de Porto Alegre?
Elvira - Tanto a Feira do Livro como a cidade de Porto Alegre me surpreenderam agradavelmente. Pareceu-me que todas as pessoas estão muito vivazes, há muita participação dos moradores da cidade, tanto da feira e da própria cidade. Espero poder voltar logo.

CP - Qual é a tua cidade e a tua periferia? Conte-nos um pouco sobre o teu blog Periferia?  
Elvira - Tenho muitas cidades que eu vivi em lugares diferentes durante toda a minha vida. Agora eu vivo em Madrid, que é definida pelo seu centro, como por sua periferia. Meu blog Periferia dedica-se a explorar a cidade de Madrid, especialmente as áreas que não são abordadas em guias turísticos: os bairros periféricos, ou aspectos do centro não tão óbvios. Por outro lado, faz uns 15 anos que me veio a ideia de fazer um livro que só trata-se sobre a cidade. Onde não havia personagens, nem tramas, nem nada; somente um transcorrer de ruas, como se elas estivessem vivas. Eu não sei se eu vou terminar de fazer esse livro, mas por enquanto o blog atende a essa necessidade.

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