Para os mais desavisados, o nome de Francis Ford Coppola pode não significar muito. Mas basta dar uma olhada na filmografia e na história deste grande homem do cinema de todos os tempos para entender que tudo que ele realiza merece uma atenção especial.
No caso de seu novo projeto “Megalópolis”, estrelado pelo talentoso Adam Driver, o diretor busca um épico de ficção científica capaz de produzir reflexões sobre passado, presente e futuro. Não necessariamente nesta ordem. “Megalópolis” é o primeiro grande projeto do diretor responsável pelos clássicos “O Poderoso Chefão” (1972) e “Apocalypse Now” (1979) em anos. Sua última grande produção foi em 2011, “Virginia”, um terror estrelado por Val Kilmer e Elle Fanning. Agora, Coppola coloca Driver no papel de Cesar Catilina para viver a trama que explora exatamente o embate entre o Catilina de Driver, um artista que sonha com um futuro utópico, com o Franklin Cicero, de Giancarlo Esposito), o ambicioso prefeito de Nova Roma.
Além destes dois nomes, o elenco do filme conta ainda com as participações de nomes como Nathalie Emmanuel (“Game of Thrones”, “Velozes e Furiosos”) como Julia Cicero e Shia LaBeouf (“Transformers”, “Ninfomaníaca”) interpretando Clodio Pulcher.
A estética apresentada por Coppola une realidade futurista com tecnologias avançadas contrastando com a arquitetura e as “novidades” da Roma Antiga. Isso também vai permeando o roteiro, em quase duas horas e meia de tela. Nas entrelinhas pode-se ler sobre poderosos que tentam impor aos demais sua visão de mundo. Pode-se até encontrar paralelos entre a atualidade dos EUA e a “república decadente que deu passo para o tirânico império romano no passado”.
Mas o filme que já estreou nos EUA e, aqui no Brasil, deve estrear dia 31 deste mês, não alcança nas bilheterias nem perto dos 120 milhões de dólares gastos pelo diretor que autofinanciou sua obra. A produção teve sua estreia mundial no Festival de Cinema de Cannes deste ano, onde disputou a Palma de Ouro. O projeto do filme nasceu no final das gravações do clássico “Apocalypse Now”, há mais de 40 anos e conta com cenários hiper-realistas. Inicialmente, era um projeto sobre o porquê e o sentido da existência, de acordo com o próprio diretor em entrevista concedida para Film Comment em 1983.
O longa só foi sair do papel após mais de quatro décadas por diversas razões. Uma das principais é a importância pessoal do filme para Coppola. “Megalópolis” trata de temas importantes e complexos como política, poder e a condição humana e o diretor desejava ter controle total sobre a produção e a narrativa, evitando a influência de estúdios ou investidores externos que poderiam alterar sua visão criativa. Por isso, para que “seu projeto dos sonhos” saísse do papel como ele desejava que o público o visse, Coppola decidiu autofinanciar o projeto: garantir que o filme refletisse seu ponto de vista pessoal. Assim realizou também o aclamado “Apocalypse Now”. Claro que também, na época, Coppolla não conseguiu mesmo financiamento com a liberdade para produzir o longa. Para que pudesse tirá-lo do papel, o cineasta chegou a vender algumas de suas propriedades, que estão espalhadas pelo mundo, inclusive em solo latino.
Íntimo e pessoal
Durante a divulgação do trailer de “Megalópolis” pelo mundo, Francis Ford Coppola fez uma publicação nas redes sociais afirmando que se trata do melhor trabalho que teve o privilégio de liderar. Não poderia imaginar o que o ano lhe traria ainda. Acabou revelando que o filme é dedicado a sua esposa Eleanor Coppola, que faleceu, aos 87 anos, no dia 12 de abril deste ano. Eles estavam juntos havia 61 anos e são pais de Roman Coppola (escritor e produtor de vários filmes de Wes Anderson) e Sofia Coppola (“Encontros e Desencontros” e “Priscilla”).