A renovação do guarda-roupa na era dos brechós

A renovação do guarda-roupa na era dos brechós

Araras de roupas seminovas começam a ganhar a confiança do público

Júlia Endress

Nos bricks você tem todas as opções: de troca-troca a roupas a partir de 10 reais

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Quem presta atenção nas ruas de Porto Alegre ou nos convites de eventos de Facebook certamente já percebeu que há muitas opções de brechós – ou bricks, como preferir - espalhadas por aí. Inseridos em um conceito de troca-troca e de total desapego, esses espaços deixaram de ser vistos apenas como um abrigo de “roupas usadas” e se tornaram “cool”, como afirma Rita Rolim, proprietária do "Me Gusta Brechó", um local especializado em peças seminovas localizado em um bairro nobre da Capital.

O acervo da loja é todo composto por modelitos que outras pessoas não quiseram mais e se apoia sem medo nos movimentos gerais do mundo fashion, que, de uns tempos para cá, passou a agregar com mais força os conceitos ligados à sustentabilidade. Frequentadora convicta desses locais, Melissa Schröder, 24 anos, engrossa o coro daqueles que já se renderam aos encantos e às necessidades do reaproveitamento. “Acho louvável que existam pessoas trazendo isso para moda. Sempre fui a favor desse ciclo, independentemente de ter um brechó no meio. Sempre troquei roupas com amiga, prima, mãe, cunhada. Por que comprar uma peça nova?”.

Com o questionamento, a guria reflete exatamente os novos hábitos que estão chegando até a renovação do guarda-roupa. O consumo desenfreado em fast fashion com parcelamento em até 10 vezes pode estar cedendo espaço para uma relação muito mais profunda do que o simples vestuário em si. Segundo as amigas Natalia Guasso e Sara Cadore Luz, idealizadoras do Brick de Desapegos – brechó que ocorre mensalmente em Porto Alegre e vem atraindo mais e mais público a cada edição -, a sociedade está caminhando em direção a um ato de compra mais consciente, relacionado à sustentabilidade e que envolve esse sentimento mais independente em relação a se vestir. No entanto, essa percepção ainda evolui a passos lentos, já que as duas observam que o fator determinante para as pessoas procurarem o evento ainda é o combo roupas com identidade + preço muito mais democrático.

O valor baixo, é bem verdade, está fixado na própria ideia dos brechós, defendido por vendedores e consumidores como algo importante já que, bem ou mal, não estamos falando de peças essencialmente novas. Mas, para algumas consumidoras de carteirinha como a Melissa, os preços já foram o principal trunfo das roupas usadas, que agora apostam em mais qualidade e originalidade, o que acaba não deixando tudo tão baratinho assim. “Até por serem antigas, as peças podem agregar um valor a mais”, comenta a guria, que acredita que é preciso garimpar muito e ter certeza que o preço é justo e o custo-benefício vale a pena.

Já para a estreante nesse novo cenário de compras, Eliane Nery, 55 anos, está nítido que a questão do valor está diretamente relacionada ao estado de conservação das roupas – algo que sempre a deixou com o pé atrás em relação a esses locais. “Antes eu não comprava porque sempre achei que era lugar de roupa velha e fedorenta”, conta. A situação começou a mudar justamente quando uma amiga indicou o “Me Gusta Brechó”, que entrou até para a lista de favoritos. Na primeira visita à loja, Eliane já arrematou clutches, casacos, blusas e saiu namorando um vestido festa. “O ambiente é muito organizado e tem muitas opções, variedades”.

Melissa, que revela uma certa influência dos bricks em seu estilo, também define esses locais como boas fontes de peças exclusivas e que ajudam a compor looks diferenciados – tanto que ela guarda com carinho os primeiros artigos adquiridos: um casaco e um colete.“Eu curto porque eu gosto de roupa vintage. Minha mãe guardou muitas peças de quando ela tinha uns 20 e poucos anos, e eu acabei usando muitas. Gosto mesmo! E também há a possibilidade de encontrar coisas que tu não encontra nas lojas. Às vezes eu acho a moda delas muito igual, e no brechó sempre tem algo diferente”, conta. Desses achados fora do comum e que ajudam a compor o estilo original da Melissa está uma jardineira caramelo, que ela comprou, detalhe, sem o ajuste das alças. "Gostei tanto, sabia que não ia ter em lugar nenhum, daí fui numa loja de aviamentos e costurei as alças", revela, orgulhosa do feito.

Peças únicas e com "história", por mais que possa soar romântico, fortalece a relevância dos brechós em um universo de consumismo às cegas. Sara, que neste domingo vai estar à frente do brick – com 70 expositoras abrigadas no Bar Ocidente – defende que todo esse burburinho a favor da proposta é apenas o reflexo de um comportamento que estava só esperando uma movimentação para eclodir. E que tem tudo para aumentar. “A iniciativa veio quando as pessoas notaram que precisavam de novas alternativas ao consumo convencional. Na medida em que vamos crescendo, junto com outros projetos com a mesma vibe, incentivamos mais pessoas ao reúso”, espera a jornalista.

Ficou curioso ou a fim de entrar nessa? Abaixo, as “especialistas” dão dicas para você já chegar de olho:

Tenha paciência: é preciso ter calma e procurar muito em meio a tantas araras com roupas distintas. Então, vá com tempo e se permita prestar muita atenção em cada detalhe das peças, pois eles podem ser decisivos para o ato da compra.

Não crie muitas expectativas: é preciso entender que nem todo dia se acha a roupa dos sonhos em brechós. É fundamental estar descomprometido, com a cabeça aberta e disposto a experimentar tudo. Assim, quando encontrar um produto do seu estilo e do seu tamanho, você vai poder desfrutar de um sentimento de sorte e realização.

Pechinche: os brechós (que já aceitam até cartões de crédito) apresentam grande facilidades quando o assunto é desconto. Por isso, se no meio da garimpada você encontrar um modelito com costura desfeita ou manchas, por exemplo, saiba que isso pode ser usado para conseguir um precinho ainda mais camarada.

Pense na idade da roupa:
é essencial perceber se ela está bem conservada para saber se vale o preço estipulado. Mas, além disso, quem curte roupas antigas tem que ficar ligado porque o estilo retrô nem sempre é original, pode ser que seja só uma peça nova adaptada a esse conceito. Se isso é importante para você, cuide as costuras por dentro: roupas antigas de verdade são geralmente feitas à mão, com costuras simples e sem overlock (aquele acabamento que não deixa desfiar) na barra.

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