Alcy Cheuiche relança livro que tem ambientação em Porto Alegre pós-golpe de 1964

Alcy Cheuiche relança livro que tem ambientação em Porto Alegre pós-golpe de 1964

Escritor participou de painel da 63ª Feira do Livro na tarde desta terça-feira

Luiz Lopes Gonzaga

Alcy Cheuiche escreveu O Gato e a Revolução, em 1967, e o relançou nesta terça na Feira do Livro

publicidade

Cinquenta anos depois, Alcy Cheuiche, lançou a terceira edição do seu romance “O Gato e a Revolução” (AGE), diante de uma Sala Leste do Santander Cultural lotada no fim da tarde desta terça-feira. A obra foi lançada em primeira edição pela Sulina na 13ª Feira do Livro de Porto Alegre, em 1967, e o romance que foi escrito na Alemanha teve sua primeira edição recolhida pela ditadura militar, e o seu autor foi processado.

A mesa sobre o livro reuniu o autor, Luís Augusto Fischer, Olívio Dutra e Paulo Flávio Ledur. Depois, Alcy teve uma longa fila de autógrafos na Praça Central. O primeiro a falar foi Luís Augusto Fischer, autor da apresentação desta terceira edição. A apresentação da primeira foi de Mozart Pereira Soares e a da segunda, em 1993, foi de Tarso Genro. Fischer leu um trecho do capítulo VII, no qual o caminhoneiro Anselmo e seu auxiliar Catarina conversam sobre ir ou não ao Grenal. “O livro mostra coisas da época, um Grenal com duas torcidas, um namoro no Morro Santa Teresa, o da TV. São marcas de uma época de uma Porto Alegre que não está mais aí”, destacou Fischer, lembrando de três invenções do século XVIII, a era do início do romance moderno: o dinheiro (papel-moeda), o casamento por amor e a ficção.

O ex-governador Olívio Dutra também falou da Porto Alegre que não existe mais, contida no livro. “Quando vim morar aqui em 1970, os bondes haviam sido desativados em 1969, mas ainda na Cristóvão Colombo estavam tirando os trilhos. O livro mostra um mapa afetivo da cidade, a Lima Silva, a Aparício Borges, a rua Avaí, onde era sede do Sindicato dos Trabalhadores em Bares e Restaurantes de Porto Alegre. Cada personagem da obra é um universo carregado de vida. Temos o gato, o praça da Brigada, os estudantes e uma homenagem a um brigadiano morto, que sobrevivia a duras penas. É um grande retrato de uma época.

Entre um integrante da mesa e outra, o acadêmico de Letras, Lucas Zamberlan, falou sobre o artigo que publicou na revista Trama, da Unioeste, intitulado “O Conflito Político-Ideológico em O Gato e a Revolução”. “Uma das grandezas do romance é a partir dos aspectos literários tratar de questões tão importantes quanto a política pós-golpe de 1964”, disse.
Ao final do debate, a fala foi de Alcy Cheuiche que recitou um poema que era atribuído ao personagem estudante de Medicina, Antônio Carlos, “Toque de Silêncio”, no qual critica a guerra do Vietnã. Cheuiche falou da sua primeira prisão por causa de um artigo contra a Guerra do Vietnã e sobre a péssima impressão que teve do Brasil, quando voltou para cá, pós-golpe de 1964 (ele estava estudando em Paris nesta época).

“Na minha pós-graduação na Alemanha, eu estava com uns amigos no meu apartamento, colegas da Escola Berlitz, e ao responder a uma pergunta sobre o por que havia tantos golpes na América do Sul eu disse que a culpa era dos europeus que não nos colonizaram coisa nenhuma. Só foram ao Brasil para ganhar dinheiro e roubar. O clima é de injustiça social e lá se faz revolução até por um gato”. A frase ficou ecoando na cabeça de Cheuiche, que dedica este livro ao seu pai Alcy Vargas Cheuiche, e durante a madrugada ele escreveu o primeiro capítulo tal e qual está nesta edição atual sobre o soldado Ernesto Epaminondas de Araújo, o Nondinho, personagem-chave da história.

Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta terça-feira, dia 23 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895