"Au revoir, baguete!": hambúrguer leva franceses à loucura
Fast-food americano superou, pela primeira vez, sanduíche tradicional em vendas
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O hambúrguer está se tornando quase francês, servido com frequência com algum dos famosos queijos locais, como o Roquefort, no lugar do cheddar. A notícia é especialmente relevante para um país que se orgulha de sua cultura gastronômica e que resistiu durante anos ao êxito mundial do hambúrguer. "Falamos de um frenesi em torno dos hambúrgueres há três anos. Este ano não sabemos como descrever este fenômeno. É simplesmente uma loucura", diz o diretor da Gira Conseil, Bernard Boutboul, à AFP. As vendas aumentaram em 9% no ano passado - um "crescimento fenomenal", segundo Boutboul.
Em 2016, as vendas de hambúrgueres igualaram as do "jambon-beurre", que continua sendo o lanche mais popular na França. Em 2017, porém, pela primeira vez, os sanduíches "americanos" superaram amplamente o clássico francês, vendendo 1,2 bilhão de unidades, indicou Boutboul.
"A gente se pergunta até se o hambúrguer não vai conseguir superar o famoso filé com fritas na França", acrescentou. Talvez dessa forma Boutboul já esteja sinalizando um início de resposta para essa questão. Embora considerem sua cultura culinária única, a verdade é que os franceses dão muita importância para a carne, o pão, a salada e as batatas. Então, não é de estranhar que o hambúrguer americano tenha caído no agrado do outro lado do Atlântico.
'Recorde atrás de recorde'
"Onde esse país vai parar?", perguntava um indignado usuário no Twitter, enquanto outro criticava a perspectiva de que "todo mundo acabe usando as orelhas do Mickey Mouse no seu parque temático lixo" - em uma alusão à Disneyland Paris. Para os amantes da gastronomia, o único aspecto positivo é a redução paulatina da fast-food e o crescente número de alternativas de grande qualidade em restaurantes franceses de hambúrgueres gourmet.
Apesar das reclamações de indignados "puristas", as vendas nos restaurantes de fast-food "bateram recorde atrás de recorde" em 2017 com uma receita de 51 bilhões de euros (63 bilhões de dólares), segundo a Gira Conseil. De qualquer modo, a tendência aponta para uma experiência mais gastronômica, com um maior recurso ao amplo leque de ingredientes tradicionais da França, indica a consultoria. O país é, agora, o mercado mais rentável para o McDonald's fora dos Estados Unidos, com mais de 1.400 restaurantes.
'Vendi minha alma'
A companhia americana se adaptou aos gostos franceses, criando hambúrgueres como a McBaguette, com queijo Emmental e mostarda de Dijon, e oferecendo inclusive macarrons para sobremesa. Os clientes também podem beber cerveja com seus pratos.
Jean-Pierre Petit, o homem considerado responsável pelo sucesso do McDonald's na França, é um dos executivos mais influentes da marca e um dos pioneiros na hora de tentar adaptar o cardápio da empresa aos gostos locais. Em seu livro de 2013, "Vendi minha alma para o McDonald's" (em tradução livre), Petit admitiu que tinha 30 anos quando comeu seu primeiro hambúrguer.
Muitos dos locais de fast-food na França oferecem, porém, alta qualidade e preços razoáveis. A cultura dos food trucks, outra moda importada dos Estados Unidos, deu lugar a lugares da moda como Le Camion Qui Fume. "Até os americanos observam o que fazemos no nosso setor de fast-food gastronômica", afirma Boutboul.