Aulas de defesa pessoal viram alvo do público feminino

Aulas de defesa pessoal viram alvo do público feminino

Turmas que antes reuniam apenas homens, hoje chegam a ter 40% de mulheres

Eric Raupp

Os movimentos do Hapkido trabalham o equilíbrio e trazem benefícios à saúde

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Na mesma tarde em que a reportagem do Correio do Povo chegava ao Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), em Porto Alegre, para acompanhar uma aula de defesa pessoal, o Hapkido, a estudante de economia Huiwen Hei, de 17 anos também teria o seu primeiro contato com a arte. Ela, que conheceu a modalidade pela internet, explica o interesse: “sou muito sedentária, e a mulher hoje em dia é um alvo muito fácil de ataques”.  

A jovem é apenas o sinal de uma tendência que ganha força em Porto Alegre – e no país. Dados da Associação Brasileira de Academias atestam que, nos últimos três anos, houve um crescimento de 30% na procura feminina pela prática de defesa pessoal. Motivadas pela sensação de insegurança nas ruas e pelos benefícios proporcionados no corpo, elas, as meninas, estão cada vez mais presentes nos treinos.

O coordenador de Hapkido no CETE que, cabe ressaltar, oferece treinamento gratuito para a população, Mestre Itagiba, confirma o aumento. “Essa arte sempre foi desconhecida, mas em 2014 tivemos um recorde de inscritos, muitos deles mulheres. Hoje, elas representam 40% dos 200 alunos que temos”, conta. A instrutora Manoela Bubanz, 17 anos (praticante há sete), reafirma. “Os meninos começaram a trazer as mães e as irmãs para as aulas e isso elevou o número de gurias. Mas até o ano passado, as alunas eram quase inexistentes”.

Um movimento similar também é percebido nas aulas de Krav Maga, na Instituição Hebraica, na Capital. Manuella Toimil, com apenas 13 anos, já é uma veterana. Em 2012, aos nove, ela aprendia os primeiros movimentos da luta de resistência israelense por incentivo dos pais. “Quando iniciei, era só eu na minha turma, mas agora tenho várias colegas. As meninas têm procurado por causa dos recentes casos de estupro e violência”, diz.

Aliás, o medo é o principal motivo quando a pergunta é “por que aulas de defesa pessoal?”. Uma pesquisa divulgada em setembro pela Comissão Permanente Mista de Combate à Violência Contra a Mulher indicou que 43% das 1.102 entrevistadas afirmaram que não se sentem tratadas com respeito no Brasil. Além disso, o Observatório da Violência contra as Mulheres registrou 12.777 casos de agressão e 274 de estupro no Rio Grande do Sul, somente nos seis primeiros meses deste ano.

Entretanto, defesa pessoal não é a busca de justiça com as próprias mãos. A instrução dada aos alunos é a de não reagir a assaltos. Isso só deve acontecer quando houver a certeza de que o agressor não está armado e como último recurso de sobrevivência. A instrutora Manoela ainda explica que os golpes devem ser certeiros e rápidos, porque erros podem agravar a situação. “Se o agressor vê que tu vai fazer alguma coisa, ele pode até ficar mais bravo e fazer algo pior do que o planejado, por isso é importante ter confiança no movimento”, completa.

Benefícios
Os benefícios do Krav Maga e do Hapkido vão além do estímulo no desenvolvimento da coordenação motora, da atenção e da agilidade de raciocínio; eles também são bons amigos de uma vida saudável. A preparação da luta israelense é composta por exercícios de corrida, abdominais, alongamentos e flexões. Em seguida, as atividades se constituem em movimentos curtos e rápidos que buscam os pontos sensíveis do corpo do possível agressor. “Meu físico melhorou bastante. Eu me sinto mais ágil e mais leve”, garante Manuella.

O funcionamento no Hapkido é parecido. Os primeiros minutos são dedicados ao aquecimento corporal e atividades aeróbicas que focam no melhor desempenho respiratório e na postura. A prática dos golpes possui movimentos que visam trabalhar os músculos das pernas e das costas, porque possui ações que se assemelham ao Taekwondo, Judô, Karatê e Jiu-jitsu. Por isso, é uma das artes marciais mais completas.

Carrega, ainda, como base, a educação oriental, inserindo conceitos que fomentam o respeito à hierarquia e aos mais. Quando a instrutora chama os alunos, eles prontamente se voltam para ela e fazem reverência. “Os princípios do Hapkido estão baseados na ideia de ter cortesia, ser íntegro, perseverante e ter autocontrole. Trabalhamos muito a questão de ser cidadão”, declara Manoela.

Quem também seguiu a honra oriental foi Huiwen, cujo nome não esconde a descendência chinesa. A reportagem visitou os treinos novamente uma semana depois e lá estava ela, vestida de preto, praticando sobre o dojo pela segunda vez. “Depois da primeira aula eu não conseguia caminhar direito, fiquei toda dolorida”, comenta. Mas ela não pensa em desistir, porque sabe bem os benefícios que a atividade vai proporcionar.

Confira abaixo alguns movimentos das aulas de Hapkido:



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