"Brasil está sendo escavado", diz Leonardo Froés sobre tragédia de Mariana

"Brasil está sendo escavado", diz Leonardo Froés sobre tragédia de Mariana

Poeta participou de evento na 14ª Festa Literária Internacional de Paraty

AE

Froés afirmou que a tragédia ambiental ocorrida em Mariana foi um crime contra as pessoas e os animais da região

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Um absurdo completo - foi assim que o poeta Leonardo Fróes (cultuado por mais de uma geração de poetas de todo o Brasil) definiu a tragédia/crime ambiental que aconteceu em Mariana (MG), em 2015. Ele participou neste sábado de uma mesa na 14ª Festa Literária Internacional de Paraty, no litoral fluminense.

Com uma ligação intrínseca com a terra, que define sua vida e obra, Fróes afirmou que o ocorrido foi um crime não só contra as pessoas, mas contra o planeta e contra os animais da região. "Foi uma tristeza." A mineração agressiva foi outra questão que o poeta comentou. "O Brasil está sendo escavado. A noção que eu tenho é que a Terra é um organismo vivo", afirmou ele, que vive num sítio em Secretário (na região de Petrópolis, RJ) desde os anos 1970.

"Sentimos isso de uma forma muito forte quando se trabalha para plantar. Uma enxadada passa uma nítida sensação de cortar." Fróes leu diversos poemas, textos curtos que passeiam com lirismo por temas da natureza, do homem e do divino. "Existe uma tradição da poesia ocidental da natureza, muito descritiva, mas esse não é o meu caminho", afirmou. "Mesmo quando há descrição, nos meus poemas sempre existe um substrato filosófico, considerando a condição humana." Em 2015, a Azougue lançou Trilha: Poemas 1968-2015, antologia organizada pelo próprio. O livro sugeriu uma nova onda de evidência para a sua poesia.

Seu trabalho de tradução, igualmente respeitado, vai de Jonathan Swift, passando por William Faulkner e Virginia Woolf, até Jean-Marie Gustave Le Clézio, entre muitos outros. "Quase sempre procurei seguir tanto quanto possível o original", disse, citando sua "escola da fidelidade". "Sempre me senti inferior ao original. Sou um instrumentista seguindo uma partitura. Tenho que tentar ser fiel ao compositor." Flipinha. A colunista do Estado Adriana Carranca levou, na manhã de sábado, 2, seu infantil Malala - A Menina Que Queria ir Para Escola (Companhia das Letras) ao público da Flipinha. A escritora também apresentou o livro, que conta a história de Malala Yousafzai - paquistanesa que sofreu um ataque e desafiou o grupo extremista Taleban - a três escolas da região de Paraty.

Na palestra, a jornalista contou de seu histórico de cobertura de guerras em países como Irã, Afeganistão, Paquistão, Congo e Sudão. Ainda lembrou dos anos em que cobriu violência urbana no Brasil. "A dor da mãe que perde um filho em um tiroteio aqui é a mesma dor da mãe que pede um filho em uma guerra", garantiu, ao relatar sua experiência No fim do papo, Adriana mostrou às crianças os tipos de véus que se usam no mundo muçulmano. Com ajuda de uma voluntária da plateia - que vestiu uma burca -, perguntou: "quem está aí embaixo?" "Lorena", respondeu a menina. "Viu? Não importa o que você veste, você é a Lorena. Estamos acostumadas a ver as mulheres do mundo muçulmano pelo que elas vestem, que são burcas e véus. Mas, por debaixo dessa vestimenta, nos esquecemos que são mulheres como nós", concluiu.

Recuperação. A notícia de que seu romance Você Já Teve Uma Família? havia sido indicado entre os finalistas do Man Booker Prize não caiu para o escritor norte-americano Bill Clegg como a boa novidade que seria normalmente: ela chegou no dia do funeral de seu pai. "Foi o último livro que ele leu antes de morrer, então na verdade foi meio devastador", disse, em uma entrevista coletiva em Paraty. O livro - que a Companhia das Letras lança agora no Brasil - é a primeira ficção publicada de Clegg, um agente literário de sucesso em Nova York.

Antes disso, ele havia lançado dois livros de memórias sobre o período em que foi viciado em drogas e álcool e sobre a recuperação - relatos sinceros e tocantes de quando largou uma trajetória bem sucedida e se afundou num vício em crack. "Eu sabia que o único jeito que um livro daquele seria útil era me inclinar para o que fosse mais difícil de escrever", comentou. A recepção da crítica e do público fez barulho, e Clegg passou a receber, diariamente, segundo o próprio, contato de viciados em busca de recuperação. "A prova de que foi certo publicar aqueles livros é os leitores que vêm me procurar em busca de ajuda. Inclusive aqui do Brasil. Ser viciado é muito solitário." Ele está sóbrio há 12 anos.

O novo romance conta a história de uma mulher que perde parte de sua família em um desastre, e então parte para longe de sua cidade natal em Connecticut em busca de conforto. "Foi um alívio não escrever mais tanto sobre a minha vida", diz Clegg, para quem, mesmo assim, este é seu livro mais íntimo até o momento. "Comecei a revisitar muitas coisas, voltei 20 anos depois para a cidade onde fui criado, houve uma questão de sensibilidade muito forte." Ele conta que cresceu numa cidade de veraneio da região, e que a única diferença marcante que percebia entre as pessoas era um certo ressentimento com aqueles que iam e voltavam de Manhattan. "Tudo isso faz parte da experiência humana, mas somos todos parecidos", diz, fazendo referência ao momento político atual em seu país. "Trump vem cavando um buraco bem profundo para si mesmo, suas reações aos eventos globais são mal recebidas. As coisas não estão boas para ele."

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