Caffè Florian de Veneza corre risco de fechar após 300 anos de funcionamento

Caffè Florian de Veneza corre risco de fechar após 300 anos de funcionamento

"Se morrermos é por problemas econômicos", admitiu Marco Paolini, gerente do estabelecimento veneziano

AFP

O lendário Caffè Florian ameaça fechar após 300 anos de funcionamento

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O lendário Caffè Florian, o mais antigo de Veneza e ponto de encontro de intelectuais, artistas e políticos, ameaça fechar para sempre após 300 anos de funcionamento por causa da crise gerada pela pandemia e pelas inundações de 2019. 

"Se morrermos é por problemas econômicos", admitiu nesta sexta-feira (18) Marco Paolini, gerente do célebre e sofisticado estabelecimento veneziano, que completa este mês três séculos desde a sua fundação, durante uma coletiva de imprensa online com a imprensa estrangeira. 

"O Caffè Florian vai fechar se não tiver as condições técnicas e econômicas para continuar aberto", advertiu. 

Assim como o Florian, na Praça de São Marcos, conhecido por sua ornamentação romântica, seus medalhões, alegorias e concertos ao ar livre, outros cafés históricos venezianos tiveram que fechar as portas, como o Caffè Quadri, o Caffè Lavena e o Caffè Todaro. 

"A covid atingiu o tecido turístico e cultural italiano. Veneza está de joelhos", lamentou Paolini.  

A cidade, que já tinha sofrido um revés importante quando as marés alcançaram níveis históricos, em novembro de 2019, causando graves inundações, começava a se recuperar quando o novo coronavírus começou a se espalhar pela Europa, acertando-lhe um duro golpe.

Desde então, a ausência de turistas, principal fonte de renda da cidade, transformou Veneza em uma cidade fantasma e a mergulhou em um dos anos mais sombrios de sua história recente. 

"Denunciamos a miopia do Etado. Veneza está fechada. Todas as lojas da praça de São Marcos estão fechadas. Temos que pagar aluguéis milionários, parte ao Estado e parte aos particulares. Os particulares os reduziram em 70%, enquanto o Estado e o governo, nada. Querem 100% do pagamento do aluguel!", protestou Paolini. 

Fundado em 29 de dezembro de 1720 por Floriano Francesconi, o Caffè Florian teve entre seus clientes personalidades como Gabriele d'Anunzio, Giacomo Casanova, Richard Wagner, Stendhal, Johann Goethe, Percy Shelley, Lorde Byron, Marcel Proust, Charles Dickens, Friedrich Nietzsche, Charles Chaplin, Andy Warhol e Jean Cocteau, entre muitos outros.

Fechado pela República Veneciana por ser um ponto de encontro dos jacobinos após a Revolução Francesa, em suas mesas conspiraram os patriotas venezianos que enfrentaram o Império Austríaco em 1848. 

Apelo ao governo
"Permaneceremos abertos pelo tempo que pudermos, mas mais do que isso não podemos", explicou o empresário, que representa um grupo de sócios proprietários do café, que tem investimentos no exterior, particularmente em Taiwan.

"Esperamos até hoje, estávamos certos de que o governo nos levaria em consideração. E não só a nós, mas a todos, aos outros cafés e lojas históricas", insistiu Paolini. 

Os cerca de 80 funcionários, entre eles os míticos garçons, vestidos com fraque branco impecável e que atendem em vários idiomas, estão em desemprego técnico. Receberam seus salários, apesar de o dinheiro prometido pelo Estado ainda não ter chegado, explicou o empresário. 

"Deixamos de faturar 7 milhões de euros (8,5 milhões de dólares) este ano. Uma tragédia", disse Paolini. 

Os donos de outros cafés e lojas históricas pedem novas regras para as chamadas "cidades de arte", como Veneza e Florença, que perderam este ano cerca de 34 milhões de turistas estrangeiros por causa da pandemia, segundo um estudo publicado em novembro pela Confesercenti, a associação italiana de comerciantes. 

"Não nos interessa só que o turismo volte como antes, mas que seja um turismo melhor", comentou à AFP Guido Moltedo, ex-assessor de imprensa da prefeitura veneziana e morador há anos na cidade dos canais. 

Para Moltedo, é preciso impulsionar novas iniciativas, aproveitar para reativar um renascimento cultural e tecnológico e, deste modo, descobrir outra forma de viver na cidade de Marco Polo com apenas 50.000 habitantes, abandonando o modelo de turismo em massa de um dia, que é devastador para a cidade. 


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