Carnaval do Porto Seco se aproxima com estrutura inacabada e promessas de investimento na região

Carnaval do Porto Seco se aproxima com estrutura inacabada e promessas de investimento na região

Criado em 2004, sambódromo de Porto Alegre ainda não possui arquibancadas permanentes

Rafael Rangel Winch

Além da pista inacabada e arquibancadas colocadas a cada edição do carnaval, complexo também não possui segurança, conforme integrantes das agremiações relatam

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Palco dos desfiles das escolas de samba de Porto Alegre desde 2004, o Complexo Cultural do Porto Seco volta a ser destaque em mais um carnaval das agremiações da capital e região Metropolitana. Na sexta-feira e no sábado, 20 escolas dos grupos prata e ouro passarão pelo sambódromo. Apesar da animação para a folia deste ano, representantes das escolas apontam o descaso com o local desde que ele foi construído e sugerem melhorias na estrutura do espaço.

As condições do sambódromo levantam debates há anos, sobretudo, dentro das escolas de samba. Com 80 mil metros quadrados, num primeiro momento, se imaginou que a área teria arquibancadas com auditórios, salas para espetáculos, um museu do carnaval, departamento da prefeitura, além de unidades de saúde, da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros. Todavia, quase duas décadas após a criação do local, o que ainda se vê por lá são apenas os chamados barracões, 15 pavilhões onde as escolas produzem e guardam, principalmente, suas alegorias.

Pessoas que trabalham no local também relatam que devido à ausência de segurança, prostituição e consumo de drogas são práticas frequentes no espaço. Nos últimos anos também há vários registros de roubos, inclusive, de materiais do complexo, como disjuntores e cercas. O presidente da Samba Puro, Allyson dos Santos, aponta medidas para melhorar a estrutura do local e, consequentemente, o carnaval do Porto Seco. "O que a gente sonha, o que é o esperado são as arquibancadas fixas, trazer mais recursos para as escolas e assim fazer um espetáculo ainda maior".

O presidente da Samba Puro, Allyson dos Santos, sonha com arquibancadas fixas, entre outras melhorias na estutura do local | Foto: Mauro Schaefer

O compositor da Acadêmicos da Orgia, Mamau de Castro, enfatiza o descaso histórico do poder público com o local. "O nosso maior sonho é esse local funcionar o ano todo, não só de dezembro à março, no período que atualmente abrem os barracões. Aqui ainda não é um complexo e sim um depósito de carros alegóricos. A estrutura daqui ainda não é adequada e falta segurança. Pela localização do sambódromo, temos potencial para ser referência no Brasil todo. Eu frequento muito o carnaval no Rio de Janeiro e eles me falam que têm inveja do espaço que temos aqui, pois nossos barracões estão na ponta da pista. Lá eles têm a cidade do samba, mas não fica próximo da avenida dos desfiles. O investimento aqui deveria ser, portanto, anual. Além disso, essa região precisa ser socializada, ter atrativos. Aqui ainda não temos nem mesmo um bom acesso para transporte público, isso sem falar nos serviços bancários e de saúde. Não temos isso aqui", considera Mamau, um dos responsáveis pelo enredo da escola.

Em setembro do ano passado, o Prefeito Sebastião Melo sancionou a lei que permite a venda de terrenos para desenvolver a região do Porto Seco. A medida tem por objetivo estimular o desenvolvimento econômico do local, incentivar a regularização fundiária, inibir possíveis invasores, aumentar a segurança e melhorar a mobilidade urbana. Tais ações são partes das reivindicações não apenas dos integrantes das agremiações, mas dos empreendedores locais e da comunidade. A prefeitura espera começar a venda dos terrenos ainda em 2023. Este processo será encabeçado pela Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC), com o auxílio da Secretaria Municipal de Parcerias (SMP), visto que a proposta inclui a participação da iniciativa privada como principal responsável pelas obras no local. Espera-se que, entre outras melhorias, a estrutura definitiva do espaço traga arquibancadas fixas. Atualmente, elas possuem capacidade de pouco mais de 5.000 pessoas por noite, sendo montadas a cada edição dos desfiles.

Para Melo, a região do Porto Seco apresenta um enorme potencial logístico que deverá ser explorado com a parceria entre os poderes públicos e privados. Contudo, ele pondera ao reconhecer que colocar em prática o projeto não é algo tão simples e imediato. "A atratividade do setor privado na região tem sido difícil. Nós sempre achamos que se encontrasse uma parceria que ali fizesse um grande complexo e preservasse as datas do carnaval esse assunto estaria resolvido, mas isso não é assim tão singelo", frisa o prefeito. O secretário de cultura da cidade, Henry Ventura, é otimista com a venda dos lotes no Porto Seco e com toda contrapartida que poderá ser gerada para concluir as obras no complexo. "A ideia da prefeitura é que a gente tenha uma atividade cultural permanente lá, não apenas no carnaval. Os eventos culturais em um espaço valioso para a cidade, bem localizado, além de serviços na prefeitura na área social", comenta.

Conforme a coordenadora do Comitê de Carnaval da prefeitura de Porto Alegre, Liliana Cardoso Duarte, a gestão municipal irá se reunir no dia 08 de março para avaliar os desfiles do Porto Seco, colocando em discussão, inclusive, as melhorias necessários no local para além do período de festas. "É claro, precisa ser o ano todo. Mas essa estruturação no governo Melo vem agora com muita força e eficácia para que a gente possa fazer as arquibancadas definitivas, mas essa reestruturação tem que ser com muita responsabilidade pautada ponto a ponto, junto com as ligas e escolas e também dando esse acesso plurilateral, da transversalidade com a comunidade porto-alegrense e também do Rio Grande do Sul. É um sonho a gente ver o sambódromo realmente pronto num futuro muito próximo.", destaca. Ela também ressalta que para os desfiles deste ano a prefeitura está tratando seriamente aspectos como mobilidade, iluminação, limpeza e saúde.

Para além da pausa pela pandemia, nos anos anteriores, as agremiações também sofreram com o baixo apoio do último governo municipal. Em 2018, o então prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr., deixou de passar recursos para as escolas, cancelando os desfiles naquele ano. Com a mudança de gestão da prefeitura e diminuição dos casos de Covid-19, o carnaval no Porto Seco retornou no passado, sendo realizado na primeira semana de maio.

Dentre as novidades para os desfiles de 2023, está a distribuição de mais de 10 mil ingressos gratuitos. A iniciativa da gratuidade foi um acordo entre a prefeitura e as Ligas Carnavalescas – União das Escolas de Samba de Porto Alegre (Uespa) e União das Entidades Carnavalescas de Todos os Grupos e Abrangentes de Porto Alegre (Uecgapa). A ação foi comemorada pelas escolas. "É uma forma de aproximar o povo do carnaval, deixando os nossos desfiles menos elitizados", comenta Mamau.


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