"Chapeuzinho no Pelô" evita violência e leva personagem para passeio cultural

"Chapeuzinho no Pelô" evita violência e leva personagem para passeio cultural

Obra da escritora baiana Palmira Heine faz uma releitura do conto clássico para o momento atual

AE

Ilustração do livro "Chapeuzinho no Pelô"

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E se Chapeuzinho Vermelho vivesse nos dias de hoje e resolvesse visitar o Brasil? É exatamente isso que imagina o livro infantil "Chapeuzinho no Pelô", da escritora baiana Palmira Heine, que faz uma releitura do conto clássico para o momento atual. Já lançada pela editora Evangraf, a obra conta com ilustrações de Tiago Sansou. Originalmente, o conto, de origem gaulesa, foi publicado pelo escritor francês Charles Perrault no século 17, em "Contos de Mamãe Gansa".

No novo livro de Heine, a personagem vive numa vila francesa em pleno século 21 e resolve viajar para o Brasil com sua mãe e com a vovozinha, com direito a muitas selfies no trajeto de avião. O primeiro destino das férias é Salvador, na Bahia. Chapeuzinho experimenta a culinária baiana e conhece a cultura local, tudo isso falando um belo português, que aprendeu com as histórias de Monteiro Lobato.

Mas, durante a viagem, nem tudo são flores. Apesar de ter se livrado do Lobo Mau na França, ela agora está sendo perseguida pelo irmão do vilão, o Dom Lobão, que também desembarca em Salvador com um português enrolado, que aprendeu num congresso de vilões, justamente com alguns personagens de Lobato.

Se a história original é cercada de violência por parte do lobo, na nova versão, porém, a questão é retrabalhada e amenizada. "No meu livro, em vez do lobo ser morto por caçadores, há a redenção: ele se rende às comidas deliciosas da culinária baiana e termina se arrependendo de ter perseguido a Chapeuzinho", explica a autora ao jornal O Estado de S. Paulo. "O lobo é retratado com trajes que mostram elementos da cultura baiana: ele usa uma camisa florida, tal qual o que se veste no carnaval de Salvador, coloca um chapéu com tranças e carrega fitinhas do senhor do Bonfim, além de ser um pouco atrapalhado e se envolver no batuque da banda Didá", acrescenta.

Para Heine, doutora em Linguística pela Universidade Federal da Bahia e que há anos tem se dedicado à literatura infantil, foi importante realizar novas mudanças numa história que já vem sendo modificada há vários séculos. "Inicialmente, no conto colhido por Perrault, a história da Chapeuzinho tinha um tom de violência e moralidade próprios ao período. Após as versões dos (irmãos) Grimm e outras releituras, a história do lobo que devorava a menina foi modificada e suavizada, chegando até os dias atuais", analisa a escritora.

"No entanto, ainda em algumas variações da história que circula hoje, vemos os caçadores matando o lobo, colocado como vilão completo da história. Ao fazer a releitura do conto, procurei colocar um tom de diversão e ludicidade", considera. A maneira encontrada por Heine de fazer isso foi fazendo Dom Lobão como um personagem menos vilão e mais atrapalhado, que é ludibriado pela própria Chapeuzinho e também por Zeca Poeira, um outro personagem que aparece na narrativa, que retrata o capoeirista baiano. "Assim, a história passa a ser divertida e engraçada, inserindo a criança em outras zonas de sentido onde os personagens são trazidos a partir de uma releitura prazerosa."

Segundo a autora, a ideia do livro partiu de uma percepção de que as crianças baianas desconhecem sua cultura local. "Como sou baiana e moro em Salvador, fui a um evento literário no Pelourinho e observei que, muitas vezes, os livros infantis produzidos por autores baianos não levavam em conta o contexto geográfico e cultural das crianças baianas", diz. De acordo com ela, muitas dessas crianças, mesmo morando em Salvador, nunca estiveram no Pelourinho, o que a levou a retratar o local em sua obra.

O livro se completa com as ilustrações de Tiago Sansou, um artista baiano que conhece bem a região. "Ele morou durante toda a infância em um local muito próximo ao Pelourinho, e, por isso, conhecia muito bem o local, tendo inclusive representado, através das ilustrações, alguns casarões que efetivamente existem ali", explica Heine. "Os detalhes das roupas dos personagens, das ruas pelas quais o lobo e a Chapeuzinho passam, foram colocados na história, enriquecendo ainda mais a narrativa", conclui.

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