Chico Buarque encanta plateia em Porto Alegre

Chico Buarque encanta plateia em Porto Alegre

Show especial marca volta do músico aos palcos

Leda Malysz / Correio do Povo

Chico Buarque deixa plateia pasma em Porto Alegre

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Indícios de que a noite era preciosa, chegavam aos poucos, no Teatro do Sesi, nesta segunda-feira, em Porto Alegre. A honra de assistir a Chico Buarque, na turnê do mais recente disco "Chico", lançado em junho deste ano na internet e em julho nas lojas, com mais de 60 mil cópias vendidas – era vivida em mulheres com vestidos eleitos, sapatos especiais, homens trajados com capricho, com ares de privilégio por participar daquele público. Estreado dia 5 de novembro em Belo Horizonte, o show marca a volta de Chico aos palcos depois de quatro anos e cinco meses, quando encerrou a turnê de "Carioca". Ele se apresenta em Porto Alegre até quinta e, na sexta-feira, em Novo Hamburgo

No palco sem cortinas, os músicos parceiros, companheiros e pra lá de sintonizados, dispostos em meia-lua: Luiz Cláudio Ramos (maestro, arranjador e violonista), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Wilson das Neves (bateria), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (contrabaixo) e Marcelo Bernardes (flauta e sopros) aguardam por instantes Chico, que chega pelos fundos depois de três sinais de luz na plateia. Veste blusa de manga comprida e calças pretas.

Para a abertura, "Velho Francisco", de 1987, na qual já dá o tom, que vida é, foi, que vida leva, fica amor. (Hoje é dia de visita/ Vem aí meu grande amor/ Ela vem toda de brinco/Vem todo domingo Tem cheiro de flor/ Quem me vê, vê nem bagaço/ Do que viu quem me enfrentou/ Campeão do mundo/ Em queda de braço/ Vida veio e me levou), seguida de "De Volta ao Samba" e os versos tão ocasionais: "Pensou que eu não vinha mais, pensou/ Cansou de esperar por mim/ Acenda o refletor/ Apure o tamborim/ Aqui é o meu lugar/ Eu vim".

Assim que chegou, Chico trouxe ares e canções de amor e mulher. Num cenário com grandes reproduções em tecido de "Mulher Nua", desenho de Oscar Niemeyer, e duas de Cândido Portinari: "O Bloco Carnavalesco" e "O Circo", colorido por feixes de luzes alaranjados, desfilou a nobre seleção de 28 músicas do show. Destas, 10 do novo CD e outras colhidas entre as mais de 400 canções da carreira de Chico Buarque.

Nesta escolha, venceu a paixão, trazida ao espaço pelas histórias recheadas de personagens femininos, como em "Nina" (2011), na qual ela via que no céu, o destino dele raptava o seu; "Teresinha" seu primeiro, segundo e terceiro amor que chegaram, ou em “Geni e o Zepelin, de 1977, da Ópera do Malandro. Chico nunca a tinha interpretado no palco, e nem se lembrava dela. Mas o público sim, inteiramente, e com todos os sentimentos que ela evocava nos anos 70 e continuam tão atuais. Outra boa nova é a interpretação de “Ana de Amsterdan”, cantada só uma vez ao vivo.

Mais do resgate ou coletânea, o show mostra um Chico amado e amando, que segue leve, sorrindo e cantando. Em suas palavras, divulgadas anteriormente, o assunto é amor, e, “naturalmente quando se fala em amor, tem que se levar isso em conta, você não é mais garoto, é um senhor - um senhor de respeito - e tem que reconhecer a beleza de um amor maduro sem esquecer o possível ridículo, do que há de risível nisso, começa a achar graça de você mesmo, de seus sentimentos juvenis que parecem que não tem cabimento, mas tem, é essa possibilidade, de chegar a esse ponto, assumir o seu tempo, a idade que tem, e não ficar se desesperando por causa disso. Sempre desconfiava que ia ficar velho, desde garotinho, e a melhor coisa é ficar velho”, testemunha o namorado de Thais Gullin.

Assim, algumas referências como em “Se eu Soubesse” ou “Essa Pequena” trazem versos bem entendíveis como “Ah, se eu pudesse não caía na tua/ Conversa mole outra vez/ Não dava mole a tua pessoa,/ Te abandonava prostrado aos meus pés, /Fugia nos braços de um outro rapaz”ou “Meu tempo é curto, o tempo dela sobra/ Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora/ Temo que não dure muito a nossa novela, mas/ Eu sou tão feliz com ela”.

Entre tantos romances cantados em outras canções como “Anos Dourados” ou “Sem Você 2”, em “Todo Sentimento”, a voz e música rezam: “Depois de te perder,/ Te encontro, com certeza, / Talvez num tempo da delicadeza,/Onde não diremos nada;/ Nada aconteceu. Apenas seguirei/ Como encantado ao lado teu.”

Show especial marca a volta de Chico Buarque aos palcos / Foto: Fabiano do Amaral

Em outro momento especial, no final do show, Chico homenageia Criolo, que fez uma versão atualizada de Cálice, com versos como “Pai, afasta de mim a biqueira/ Afasta de mim as ´biate´/ Afasta de mim a ´cocaine´/ Pois na quebrada escorre sangue”. Chico canta os versos e acaba com os seus "Pai, afasta de mim esse cálice/ De vinho tinto de sangue".

Nas palavras, Chico foi econômico. Após a segunda canção, um "muito obrigado, é um prazer Porto Alegre". Pelo meio do show, apresentou a banda. E muita música. Já o público, entre tantas antigas e novas, esteve com sua cumplicidade, cantarolando baixinho, como quem mais ouve e assiste do que participa, talvez um tanto pasmo de toda aquela música estar mesmo naquele palco.

Para o Bis, Chico guardou “Sonho de Um Carnaval”, canção integrante do seu primeiro disco – recentemente interpretada em Porto Alegre por MPB4, e “Futuros Amantes”. O público quis mais. Ganhou “Na Carreira”. Acabou com ela: “Voar, fugir/ Como o rei dos ciganos/ Quando junta os cobres seus/ Chorar, ganir/ Como o mais pobre dos pobres/ Dos pobres dos plebeus/ Ir deixando a pele em cada palco/ E não olhar pra trás/ E nem jamais/ Jamais dizer/ Adeus”.

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