Cinema negro ganha visibilidade nas telas

Cinema negro ganha visibilidade nas telas

O cineasta Jeferson De recebeu o troféu do 2º Festival Cinema Negro em Ação

Adriana Androvandi

O diretor Jeferson De recebeu o troféu Cinema Negro em Ação em Porto Alegre

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Como parte da programação do 2º Festival Cinema Negro em Ação, o cineasta Jeferson De (SP) recebeu uma homenagem e o troféu do evento na última quinta-feira, em cerimônia no Solar dos Câmara em Porto Alegre. A mostra, com atividades em formato híbrido, integra as comemorações dos 50 anos do Dia da Consciência Negra. A curadoria do festival foi feita pela cineasta Camila de Moraes. 

O diretor recebeu o troféu das mãos do homenageado do ano passado, o ator Sirmar Antunes. O encontro foi um momento de emoção. O homenageado fez um resgate de sua história, enfatizando que o Rio Grande do Sul sempre foi um lugar que o recebeu muito bem. Ele lembrou que seu primeiro curta-metragem, “Distraída para a morte” (2001), foi exibido no Festival de Cinema de Gramado e não ganhou nenhum prêmio. “Saí frustrado. Mas nesse festival conheci um cara, que estava no elenco do filme ‘Neto Perde Sua Alma’ e que me acolheu como se eu fosse alguém da família dele, de uma forma muito carinhosa. Então receber este troféu das mãos dele tem muito significado”, disse Jeferson De sobre Sirmar Antunes.
Na segunda vez que Jeferson levou um curta-metragem para Gramado, saiu com o troféu de Melhor Curta para “Carolina” (2003), em que Zezé Motta interpretou a escritora Carolina Maria de Jesus. “E de novo tinha um homem negro ali, no Festival de Gramado, junto com Sirmar, que era o Paulo Baiano”, disse o diretor ao apontar para o jornalista, escritor e roteirista Paulo Ricardo Moraes, conhecido como Paulo Baiano, que estava no Solar na última quinta-feira. Juarez Ribeiro, também presente, igualmente foi citado pelo homenageado. 
Ainda lembrando da sua relação com o Festival de Gramado, Jeferson levou seu primeiro longa-metragem, “Bróder”, que se passa na periferia de São Paulo, para a competição. E levou cinco Kikitos. Desde então sua carreira em cinema e televisão não parou mais. Por isso, o diretor considera muito especial a sua relação com o Rio Grande do Sul, tendo agora a sua trajetória sendo homenageada pelo 2º Festival Cinema Negro em Ação.
O homenageado ressaltou ainda que o curta-metragem gaúcho “O dia em que Dorival encarou a guarda”, dirigido por Jorge Furtado e José Pedro Goulart (14 min, 1986), o marcou profundamente. E lembrou do ator João Acaiabe, que atuou no filme e faleceu em março deste ano. “Devo muito à confiança deste homem”, falou. 
A secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo, ressaltou que o evento se solidifica como um marco das políticas culturais afirmativas no setor audiovisual. O cineasta agradeceu o trabalho da Secretaria Estadual da Cultura, na pessoa de Beatriz Araujo e do cineasta Zeca Brito (diretor do Iecine), ao realizar o Cinema Negro em Ação. “O meu muito obrigado à secretária, por apoiar este movimento do Sul para o mundo, sobretudo fundado e dirigido por mulheres negras”, destacou. “Camila é um farol, que está lá na frente, iluminando o que o cinema brasileiro pode ser”, disse Jeferson. Ele sugere que as produções consultem as mulheres pretas sobre o futuro do audiovisual, do streaming e da TV aberta no Brasil.
Entre os filmes mais recentes de Jeferson De, está “M8 - Quando a Morte Socorre a Vida” (2019). Acompanha um universitário negro que entra para o curso de Medicina. Em sua primeira aula de anatomia, ele percebe que os únicos corpos negros da sala são o dele e o dos cadáveres. Isso o faz pensar sobre sua identidade e a do corpo, identificado apenas como M8. 
Seu último longa-metragem é “Doutor Gama”, sobre o abolicionista Luiz Gama, homem negro que usou leis para libertar mais de 500 escravos. A programação do festival exibiu os filmes de Jeferson De na Cinemateca Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana, onde ocorreram as sessões presenciais.
Camila de Moraes, diretora do longa “O Caso do Homem Errado”, destaca que o festival recebeu um número significativo de inscrições. Foram 232 inscritos, de estados de todas as regiões do Brasil e de países como Alemanha e Angola. Camila conta que o projeto do festival vem sendo trabalhado desde 2019. A primeira edição, no ano passado, foi on-line. “Nós, enquanto realizadores negros, somos invizibilizados, temos nossas produções invizibilizadas. Muitas pessoas dizem que não há realizadores negros. A proposta do festival é dizer o contrário, que a gente existe e está produzindo muito”, disse. A maior parte das inscrições foi na categoria de curtas-metragens, feita por realizadores independentes, sem patrocínio. “Isso ressalta a importância das políticas públicas para mudar esse cenário”, ressalta a diretora. Outras categorias da mostra contam com videoclipes, videoartes e longas-metragens. Além da mostra competitiva, o festival tem uma parte dedicada à formação. Sofia Ferreira foi a curadora da categoria Mercado & Conteúdos.
O festival, que começou no dia 20 de novembro, termina neste sábado, com a premiação, a ser transmitida a partir das 21h30min pelos canais TVE-RS e Prime Box.
MÚSICA. A Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), realiza neste sábado, mais uma edição do projeto Casa Virtual. A celebração musical fica por conta da gaúcha Andréa Cavalheiro e da carioca Mahmundi. As cantoras prestam uma homenagem à versatilidade e à potência das vozes negras na cena artística do Rio Grande do Sul e do Brasil. O evento virtual, que integra a programação do 2º Festival Cinema Negro em Ação, tem a transmissão ao vivo, a partir das 20h, pelo Instagram @ccmarioquintana.


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