Colegas do teatro lamentam a morte de Michel Fernandes

Colegas do teatro lamentam a morte de Michel Fernandes

Dramaturgos, professores, críticos e atores exaltam qualidades do ator e crítico, criador do Prêmio Aplauso Brasil, falecido no domingo

Vera Pinto

Ator, produtor, crítico e dramaturgo Michel Fernandes morreu aos 45 anos, vítima de parada cardíaca

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O teatro brasileiro perdeu, no domingo, um de seus admiradores mais apaixonados: o crítico teatral Michel Fernandes, de uma parada cardíaca, aos 45 anos. Natural de Santo André e residente na capital paulista, ele se formou em Teatro na Escola Célia Helena (1994) e em Jornalismo na FMU (1999). Foi colaborador da Último Segundo/IG, crítico teatral e colunista do jornal Diário de São Paulo e lançou, em 2002, o site Aplauso Brasil, responsável pela premiação homônima, uma das mais celebradas pela classe teatral de São Paulo (SP). 

 

O dramaturgo gaúcho Luís Francisco Wasilewski conheceu Michel em 2007, pelo jornalista cultural Hélio Barcellos Jr. Iniciou amizade virtual com o crítico e depois pessoalmente, em SP. Escreveu para o seu site por 13 anos, orgulhando-se de ser o colaborador mais longevo. “É uma perda irreparável para o teatro. O Michel acompanhou e escreveu sobre a cena brasileira das duas últimas décadas. Não se limitava a São Paulo. Era convidado por vários festivais”, diz. “Ele foi lutando contra todas as adversidades físicas”, acrescentou, referindo-se a uma doença degenerativa e ataxia a partir de 2015.

 

Michel era muito grato a sua professora Célia Helena, que insistia que a imobilidade física não deveria fazê-lo desistir do sonho de ser ator. Sobre sua morte, ela escreveu nas redes sociais: “Era dia de seleção de futuros alunos, quando ele chegou ao Teatro Celia Helena, no início da década de 90. Um garoto pequeno, ansioso e com um sorriso muito, muito grande no rosto. Um sorriso permanente, aberto que acompanhou toda a sua vida. A sinceridade dele foi extrema e cativante. Na entrevista, ele contou com enorme tranquilidade que era portador de uma doença degenerativa, mas desejava profundamente fazer teatro enquanto pudesse. E pôde, como pôde. Cativados pela delicadeza e docilidade do Michel, acompanhamos toda a sua trajetória de formação e também sua trajetória profissional. Com paixão vimos ele crescer por dentro e enfrentar com coragem todas as dificuldades cada vez maiores. Quando não pôde mais estar no palco, fez Pós-Gradução em Direção no Celia e continuou aplaudindo, aplaudindo”.

 

Afiliado à Associação Paulista de Críticos de Arte, Michel recebeu o Prêmio Pesquisador 2008 do Arquivo Multimeios do Centro Cultural SP, e o Pesquisa em Dança 2006, da Secretaria de Estado da Cultura de SP. Escreveu poesias e crônicas para os sites Mixbrasil, Casa da Poesia e KadeiraSutra. Em 2005/06, atuou como dançarino em “Via Sem Regra”, da companhia alemã DIN A 13 Tanzcompany, de Gerda König. Em 2007, foi a Paris para registrar seus passos sobre rodas no vídeo-dança-documentário “Michel”, de Rosário Caltabiano.

 

Para o coordenador do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, Jorge Vermelho, “sua contribuição para o teatro foi ímpar. Um profissional conectado com a cena contemporânea e muito cuidadoso e delicado em fazer qualquer tratamento crítico que pudesse contribuir com a obra artística”. No FIT, Michel esteve presente em quase todas as edições. “ O Teatro perde um homem de Teatro”, disse. A atriz Grace Gianoukas, da “Terça Insana”, viu Michel como um grande entusiasta do projeto, apoiando e divulgando, sempre valorizando sua importância para a comédia contemporânea. “Nos últimos tempos ele não estava bem, muito debilitado, parece que a alma dele não cabia mais naquele corpo. A doença foi piorando, agora a alma dele está livre”, disse.

 

“Seja na cobertura de festivais ou em entrevistas coletivas, o Michel sempre transmitia uma presença espirituosa. Era evidente seu amor às artes da cena, espectador proativo. A doença degenerativa e a condição de cadeirante não o demoviam de ir aonde o espetáculo estivesse, cruzando fronteiras, superando obstáculos de toda ordem, ressignificando a vida. Fica o legado do artista e crítico que foi um dos pioneiros no espaço noticioso e de recepção crítica na internet. O site Aplauso Brasil, o prêmio de mesmo nome e a equipe de colaboradores que reuniu refletem ainda seu importante papel de empreendedor cultural”, declarou o jornalista Valmir Santos, editor do site Teatrojornal – Leituras de Cena.

 

Ilana Kaplan, que apresentou o Prêmio em 2019, acredita que Michel foi uma das pessoas que conheceu que mais amava o teatro. “Com todas as limitações da doença, ele conseguiu fazer o Prêmio na raça.” E completou: “Lamento ele ter falecido no período de pandemia, em que a gente não pode sair de casa, porque a classe gostaria muito de ir neste velório e homenagear ele como merecia”, afirmou a atriz, que ganhou o Aplauso Brasil em 2018, por “Baixa Terapia”.

 


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