Com luxo e nomes consagrados, Cannes aposta alto em seu Festival

Com luxo e nomes consagrados, Cannes aposta alto em seu Festival

Atraindo de Tarantino a Almodóvar, organização quer reafirmar evento como maior do ramo do mundo

AFP

Festival começa na próxima terça-feira

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Com cineastas consagrados e estrelas planetárias, o Festival de Cannes começa na próxima terça-feira com uma grande aposta para se reafirmar como o maior evento de cinema do mundo, atraindo de Quentin Tarantino a Pedro Almodóvar e com a participação de "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho. No olho do furacão por sua queda de braço com a Netflix – excluída das atividades festival desde 2018 – e em parte questionado por competições de menor perfil nas últimas edições, o festival selecionou nesse ano pesos pesados: Terrence Malick, Ken Loach, os irmãos Jean Pierre e Luc Dardenne e Abdellatif Kechiche, que junto a Tarantino somam 7 Palmas de Ouro.

Diego Maradona, Selena Gómez, Iggy Pop e Bono serão protagonistas do tapete vermelho, pelo qual mais um ano vão desfilar as estrelas do cinema mexicano, especialmente o oscarizado diretor Alejandro González Iñárritu, presidente do júri. Um filme de terror-comédia vai abrir a competição: "Os Mortos Não Morrem", do cineasta americano Jim Jarmusch, com Bill Murray, Adam Driver e Tilda Swinton em uma cidade em que os mortos saem das tumbas para atacar os vivos de forma selvagem.

Thierry Fremaux, delegado do Festival de Cannes, quis ressaltar o apoio dos estúdios de Hollywood ao apresentar em abril a programação dos filmes selecionados, com palavras de agradecimento em particular a Jim Gianopolus, chefe da Paramount. Em 2001, como presidente da Fox, Gianopolus permitiu que Cannes fizesse a estreia de "Moulin Rouge". Os estúdios retornavam assim à maior mostra de cinema do mundo depois de vários anos difíceis. Por exemplo, com grandes produções, muitas vezes fora de competição, como "Matrix Reloaded" e o quarto filme de Indiana Jones.

Mas alguns desses filmes deixaram Cannes com um gosto amargo, sendo alvos de críticas ferozes, como foi o caso de "O Código Da Vinci" e "Han Solo: Uma História Star Wars", o spin-off da saga "Star Wars" apresentado no ano passado. Outra dificuldade acrescentada a Hollywood é o fato de Cannes acontecer em maio, muito antes do Oscar no final de fevereiro. Neste sentido, Veneza e Toronto têm a vantagem de acontecerem em setembro, além de serem festivais que têm ganhado peso aos olhos dos produtores e distribuidores americanos, especialmente para filmes autorais.

Almodóvar: de novo aspirante

Recém-finalizado e incluído no último minuto, "Era uma Vez em Hollywood", com Leonardo DiCaprio e Brad Pitt é a volta de Tarantino a Cannes, onde há 25 anos o diretor ganhou a Palma de Ouro com "Pulp Fiction". Outro frequentador do festival, mas de quem o prêmio escapou por cinco vezes das mãos, é Pedro Almodóvar, que tentará ganhar mais uma vez com "Dolor y gloria", seu filme mais autobiográfico protagonizada por Antonio Banderas e com participação de Penélope Cruz.

Também volta à competição o brasileiro Kleber Mendonça Filho, com "Bacurau", codirigido por Juliano Dornelles e interpretado por Sonia Braga. No filme, um diretor viaja para o interior do país para rodar um documentário e se dá conta que os habitantes escondem segredos perigosos. Ao apresentar há três anos "Aquarius", el protagonizou um grande protesto no tapete vermelho contra o então presidente Michel Temer. Curiosamente, Almodóvar e Kleber Mendonça Filho foram os últimos cineastas iberoamericanos a concorrer à Palma de Ouro, ambos em 2016.

Cuarón e García Bernal

No total, 21 títulos competem no festival, entre eles "O Jovem Ahmed" dos irmãos Dardenne e "Sorry we missed you", de Ken Loach. O americano Terrence Malick vai apresentar seu longa ambientado na Segunda Guerra Mundial, "A Hidden Life", e o canadense Xavier Dolan vai competir com o drama "Matthias e Maxime".

Quatro mulheres disputarão o prêmio máximo, todas elas pela primeira vez, como a austríaca Jessica Hausner. À margem da competição, a Croisette vai receber Diego Maradona, personagem de um documentário dirigido pelo britânico Asif Kapadia, diretor do filme sobre a vida de Amy Winehouse. Gael García Bernal vai apresentar "Chicuarotes", catalogado como uma "imersão profunda na sociedade mexicana". Seu compatriota Alfonso Cuarón, triunfante após o sucesso mundial de "Roma", vai apresentar uma versão restaurada de "O Iluminado".

A Argentina podria ganhar uma Palma de Ouro de melhor curta-metragem com seus dois filmes selecionados para a competição: "Monstruo Dios", de Agustina San Martín, e "La siesta", de Federico Luis Tachella. Fora da competição, o argentino Juan Solanas vai apresentar "Que seja lei", documentário sobre o movimento feminista que lutou pela legalização do aborto, e o chileno Patricio Guzmán apresentará "A Cordilheira dos Sonhos", que explora a relação de seus compatriotas com os Andes.

Uma biografia sobre Elton John ("Rocketman"), um documentário sobre mudanças climáticas produzido por Leonardo DiCaprio ("Ice on Fire") e um filme independente protagonizado pela namorada do ator, a argentina Camila Morrone, também estão no programa do festival, que termina em 25 de maio.

Obsessão com o Oscar

Sintoma desta evolução: Veneza acolheu nos últimos anos "Gravidade", "La La Land: Cantando Estações", "A forma da água" e "Roma", todos posteriormente recompensados com o Oscar de melhor filme e/ou diretor. No ano passado, "Infiltrado na Klan" ganhou o Grand Prix de Cannes e, em seguida, o seu diretor, Spike Lee, conquistou o primeiro Oscar de sua carreira. Mas é preciso voltar a 2012 para encontrar outro filme presente na Croisette e recompensado pela Academia: "O Artista", com cinco prêmios Oscar, incluindo de melhor filme e diretor.

Fremaux criticou recentemente em entrevista ao jornal francês Le Monde, a "obsessão generalizada com o Oscar", sublinhando que "o projeto de Cannes é o cinema mundial, a direção e os autores". Cannes também trava uma queda de braço com o Netflix, ausente da competição oficial desde o ano passado, devido a uma nova regra que obriga os filmes selecionados serem exibidos nos cinemas franceses.

Em contrapartida, a Berlinale e Veneza decidiram acolher a plataforma on-line, com o caso emblemático de "Roma", de Alfonso Cuarón, Leão de Ouro na Mostra e vencedor de 3 Oscar, incluindo de melhor diretor e melhor filme estrangeiro. A Netflix também não estará presente no Marché du Film de Cannes, um dos maiores eventos anuais da indústria cinematográfica. Na França, a empresa aparecerá apenas com "Wounds", que será apresentado na seção independente Quinzena dos Realizadores.


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