Companhia de Ópera do RS apresenta ‘Suor Angelica', de Puccini

Companhia de Ópera do RS apresenta ‘Suor Angelica', de Puccini

A montagem composta totalmente por mulheres ganha sessões somente neste sábado e domingo no Theatro São Pedro

Leticia Pasuch*

Companhia de Ópera do RS conta com elenco de mulheres

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Pela primeira vez, é apresentada em Porto Alegre a ópera "Suor Angelica" (Irmã Angélica, em português), ato do compositor italiano Giacomo Puccini, com a temática relacionada à repressão da mulher. A montagem abre a temporada da Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul (CORS), no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro s/n), neste sábado, dia 11, às 20h, e no domingo, dia 12, às 18h.

A produção é inteiramente feminina: 30 mulheres compõem as vozes solistas e funções técnicas e criativas. Para Eiko Senda, diretora musical, pianista e soprano, esse protagonismo tem um importante significado. “O mundo da ópera, da música clássica, é basicamente o mundo dos homens", diz. “Estamos quebrando, de certa forma, um paradigma, que é tradicionalmente e muitos anos somente de homens dirigindo, e deixando um caminho diferente daqui para frente”.

No libreto da ópera, a ação se passa dentro de um convento na Toscana, região italiana, no final do século XVII. Angélica, uma das irmãs, por ter tido um filho fora do matrimônio, foi enclausurada no lugar por sua família para expiar a culpa e desonra. Certa vez, a freira recebe uma visita da sua tia, uma princesa, que traz a revelação que seu filho, retirado dos seus braços no momento do nascimento, morreu. A notícia acaba desencadeando um final trágico para Angélica. 

Camila Bauer, diretora cênica, destaca como a montagem reflete sobre o contexto histórico de repressão da mulher, reproduzido até hoje. “O machismo ainda é estrutural na nossa sociedade e a gente percebe ele em muitos níveis. No trabalho, na família, nas relações afetivas, nas relações sociais e institucionais. Trazer esse questionamento parece ainda bastante pertinente e válido, são questões ainda não resolvidas”, salienta.

Conheça a ópera 

"Suor Angelica", "Il Tabarro" e "Gianni Schicchi" são três breves obras da última fase da vida do compositor, reunidas no ato nomeado Il Trittico. O conjunto estreou em 14 de dezembro de 1918, no Metropolitan Opera House, Nova York. Inicialmente, a ópera foi pouco conhecida e ficou fora dos palcos por muitos anos. Recentemente, foi redescoberta e passou a integrar o repertório de companhias de ópera por todo o mundo.

Embora a montagem não sofra nenhum tipo de adaptação, a encenação é levada para um contexto contemporâneo, que, segundo Camila, “busca aproximar das espectadoras e espectadores de hoje em dia essa violência e repressão que as mulheres sofreram e sofrem”. São aspectos que perpassam a roupagem do espetáculo, como linguagem da encenação, o cenário, figurino de luz, de desenho de cena e coreografia.

Na composição de Puccini, geralmente ao final podem ser escutadas vozes masculinas no coro de anjos. Não é o caso da ópera da CORS. “Entre direção cênica e musical, a gente percebeu a importância, dentro desse contexto da apresentação, de trazer tudo para as vozes femininas”, revela Camila.

Camila reflete que ainda é incomum ver mulheres em cargos de liderança dentro do mundo da ópera e da música, com uma força maior em posições exercidas pelos homens. “No instinto da CORS, nesse momento, há uma costura mais igualitária dentro da criação, deixando bastante espaço para essas figuras femininas ocuparem”. Eiko completa: “Para sairmos deste lugar, a única maneira é ocuparmos nosso espaço”.

A Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul lançou-se de forma independente em maio de 2022. Quase completando um ano, já teve 11 espetáculos apresentados. Neste ano, estreiam três novas montagens. Eiko, também uma das cofundadoras da Companhia, projeta um ano de circulação, planejando levar óperas para municípios do estado que não alcançam. “Seguimos fazendo essa construção, reflexão e introspecção sobre a Companhia e podendo trabalhar junto com a sociedade e as orquestras”, diz.

No dia da estreia, às 18h, haverá também bate-papo com a cantora, compositora, musicóloga e dramaturgista Ligiana Costa. Mais informações sobre ingressos da ópera no site do Theatro São Pedro.

* Supervisão Luiz G. Lopes


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