Construção de memória em livro premiado

Construção de memória em livro premiado

Gaúcha Taiane Santi Martins lança "Mikaia", romance vencedor do Prêmio Sesc de Literatura, nesta quarta-feira no Agulha

Luiz Gonzaga Lopes

Taiane Santi Martins estuda literaturas africanas desde 2010 e ambientou romance entre o Brasil e Mocambique

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Uma amnésia traumática de uma personagem presa em dois mundos, países, línguas, entre Moçambique e Brasil. Um bailarina negra que esquece quem é em meio à estreia de um espetáculo de ballet e vai reconstruindo sua memória a partir da irmã, da avó, do retorno a Moçambique e das lembranças dos conflitos ocorridos quando ela fugiu do país aos nove anos de idade. Em linhas gerais, esta seria a sinopse de “Mikaia” (Record), romance da autora gaúcha Taiane Santi Martins, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2022, que será lançado hoje às 19h no Bar Agulha (Conselheiro Camargo, 300, no bairro São Geraldo), com um bate-papo mediado pela jornalista e livreira Nanni Rios, um coquetel e sessão de autógrafos. Haverá comercialização do livro no local, que tem entrada franca e estará aberto ao público.

“Mikaia” narra a história de três gerações de mulheres que viveram e fugiram da guerra civil moçambicana. O livro joga com as diferentes maneiras de se lidar com o passado traumático. Enquanto Mikaia, sofre uma amnésia repentina, quer lembrar, sua irmã Simi quer esquecer e sua avó Shaira decide silenciar. O desenrolar da trama se dá no embate entre as tentativas de Mikaia em recuperar um passado roubado e a resistência de Simi em renunciar a uma infância inventada e cultivada por vinte anos às custas do esquecimento. Taiane é natural de Vacaria e, desde 2010, estuda as literaturas africanas.

Ao definir a sinopse do livro, Taiane trabalha com o mote da construção da memória como guia da narrativa “Mikaia é a história de uma bailarina, que está na coxia esperando para entrar em uma grande apresentação, e naquele momento ela perde completamente a memória. O caminho da história e da personagem é um caminho de construção de memória. Este foi meu primeiro objetivo com o livro, entender as memórias, o quanto há de ficção e de verdade e as formas de lidar com este passado traumático”, destaca. 


A autora lembra que ao falar de uma bailarina e de violência contra a mulher ela acaba trazendo o corpo para a narrativa. “Falando do corpo e da violência contra a mulher em vários sentidos, não só na violência física. A minha proposta com estas várias personagens era pensar este punhado de violência que infelizmente é inerente ao ser mulher. Aí é pensar em como eu trago o corpo para dentro da narrativa, em como eu falo de violência de uma forma respeitosa. Pensando que sou uma escritora branca. Tendo noção de como o corpo da mulher negra foi olhado e a resposta foi a dança, nomeando as partes do corpo na coreografia e que não fosse sensualizado”, comenta Taiane, que morou quase três meses em Moçambique e que coloca dezenas de palavras em emakhuwa-enahara, variante regional falada na província de Nampula, ao norte de Moçambique, fazendo um glossário dos vocábulos ao final do livro. 

A edição 2023 do Prêmio Sesc de Literatura teve 1.495 inscritos: 770 em Romance e 725 em Conto. Os novos vencedores serão conhecidos em maio e terão obras publicadas e distribuídas pela Editora Record, em 2024.

 


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