Documentário analisa carreira, alegria e a imagem deixada por Jair Rodrigues

Documentário analisa carreira, alegria e a imagem deixada por Jair Rodrigues

Filme entra em cartaz nesta quinta-feira, dia 27

AE

Documentário resgata a trajetória de Jair Rodrigues

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Se o cantor Jair Rodrigues (1939-2014) tivesse apenas protagonizado a interpretação da canção "Disparada" no 2º Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, já seria um grande feito para um rapaz negro, nascido no interior de São Paulo, que aprendeu a cantar na igreja e burilou sua técnica em boates e dancings da capital antes de vencer um festival - o equivalente, à época, a uma final de campeonato de futebol.

No entanto, Jair foi muito mais além daquela noite de 1966 - e mais longe ainda do que qualquer estripulia que fazia nos palcos. É justamente o que pretende mostrar o documentário "Jair Rodrigues - Deixem Que Digam", que chega aos cinemas nesta quinta, 27 de abril.

Dirigido por Rubens Rewald, professor da ECA/USP na área de Dramaturgia Audiovisual, o documentário conta com imagens de arquivos e depoimentos de familiares, colegas de trabalho, especialistas em música e historiadores para construir o perfil musical e social do cantor.

ATOR

Rewald se aproximou de Jair quando o convidou para participar, como ator, do longa de ficção "Super Nada", de 2012. Ao final das gravações, Jair disse ao diretor "e aí, quando você fará um filme sobre mim?".

A produção não começou a tempo de ter Jair vivo para contar sua própria história. Porém, no documentário, ele revive, ou melhor, o músico Jair de Oliveira, seu primogênito, o interpreta com maestria para narrar trechos que não estão documentados em imagens. "A ficção, dentro do documentário, é mais uma camada na narrativa. A ideia era levar o espectador para dentro de um show de Jair, mostrar o jeito descontraído como ele contava fatos de sua vida", explica o diretor.

Para Jairzinho, representar o pai reforça algo que o cantor sempre prezou fora dos palcos. "Ele era um cara essencialmente família", diz o músico.

O diretor tomou cuidado para que a alegria de Jair - expressa em cenas em que ele planta bananeira no palco ou literalmente se joga no meio do público durante uma apresentação em Salvador - não lhe confira, para as novas gerações, o título de mero cantor bufão. A discussão ocupa longos minutos do documentário.

MARCO

O disco "Festa Para Um Rei Negro", de 1971, mesmo nome de um dos maiores sucesso da carreira de Jair, é apontado como um marco em sua carreira pelo educador Salloma Salomão, um dos ouvidos por Rewald para o longa.

"Esse disco está relacionado a uma tentativa de Jair de construir para si o diferencial de um artista negro dentro da música brasileira. São canções que bebem em práticas negras que antes eram vistas como folclore", explica Salomão no documentário. Por isso, mais do que ver Jair, é preciso ouvi-lo com atenção.

Uma ausência sentida entre os convidados a falar ao documentário - ou nome a ser citado - é a do produtor Manoel Barenbein. Ele trabalhou com Jair entre 1967 e 1971, período crucial na carreira do cantor, quando o programa O Fino da Bossa chegou ao fim e Jair e Elis Regina, sua parceria de televisão, tiveram de, separadamente, procurar suas respectivas turmas dentro da música.

Barenbein, atualmente com 80 anos, produziu o disco que traz "Festa Para Um Rei Negro", e recolheu canções inéditas para o repertório de Jair.


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