Documentário “Dahomey”, da franco-senegalesa Mati Diop, leva Urso de Ouro em Berlim

Documentário “Dahomey”, da franco-senegalesa Mati Diop, leva Urso de Ouro em Berlim

Obra vencedora da 74ª Berlinale narra a restituição ao Benin, em 2021, de 26 obras saqueadas pelas tropas coloniais francesas em 1892

AFP

Diretora e atriz franco-senegalesa Mati Diop, vencedora do Urso de Ouro com "Dahomey" e a presidente do júri do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Lupita Nyong'o

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A 74ª edição do Festival de Berlim concedeu, neste sábado (24), o Urso de Ouro ao documentário 'Dahomey', da diretora franco-senegalesa Mati Diop, que narra a restituição ao Benin de 26 obras saqueadas pelas tropas coloniais francesas em 1892.O júri, presidido pela atriz mexicano-queniana Lupita Nyongo'o, a primeira pessoa negra a ocupar o prestigioso posto, manteve-se fiel à tradição política desse festival.'Podemos esquecer o passado, um peso desagradável que nos impede de evoluir, ou podemos assumir a responsabilidade, utilizá-lo para avançar', declarou Mati Diop ao receber o prêmio. 'Como franco-senegalesa, cineasta afrodescendente, escolhi estar com quem se nega a esquecer, com quem rejeita a amnésia como método', acrescentou.

"Dahomey” narra a restituição, em novembro de 2021, ao Benin, de 26 obras saqueadas pelas tropas coloniais francesas. Diop já havia recebido o 'Grand Prix' em Cannes em 2019 por seu filme 'Atlantique', que narra a história de um grupo de operários que sai para o mar em busca de uma vida melhor em outro país. A diretoria gostaria de que seu filme fosse 'visto no máximo de países africanos' possíveis, assim como 'nas escolas e nas universidades', disse ela à AFP. Trata-se do segundo filme africano a receber o Urso de Ouro, depois do sul-africano 'Carmen na África', de Mark Dornford-May, em 2005. No ano passado, o cobiçado prêmio foi para o francês Nicolas Philibert por seu documentário 'No Adamant', sobre um centro psiquiátrico que funciona em um barco no rio Sena, em Paris.

O cineasta dominicano Nelson Carlo de Los Santos Arias foi contemplado com o Urso de Prata de melhor diretor por 'Pepe', um enigmático docudrama que invoca o fantasma de um hipopótamo que pertenceu ao chefão do narcotráfico colombiano Pablo Escobar.O júri também reconheceu o romeno-americano Sebastian Stan por sua atuação em 'A Different Man', com o prêmio de melhor atuação principal. O grande prêmio do júri foi para um habitué do festival, o diretor sul-coreano Hong Sang-soo, pelo filme 'A Traveller's Needs', do qual a francesa Isabelle Huppert participa. O longa conta a história de Iris, uma mulher mais velha que faz um bico como professora de francês na Coreia do Sul e se torna alcóolatra. Já o filme 'L'Empire', do francês Bruno Dummont, obteve o prêmio do júri.

De Paris a Cotonou

Para relatar a história das 26 obras saqueadas em 1892 pelas tropas coloniais francesas no reino de Daomé, no centro-sul do atual Benin, composto à época por vários reinos, Mati Diop deu voz à estátua do rei Ghezo. Na língua do Benin, o fon, o rei queixa-se de ter perdido seu nome, passando a ser chamado unicamente por um número, "o 26”, nas reservas do museu etnológico francês de Quai Branly, em Paris. O monarca descreve como o arrancaram de sua terra, sua vida no exílio e sua recente repatriação ao museu de Cotonou, capital do Benim. A restituição ocorreu em 10 de novembro de 2021 e se deu por iniciativa dos presidentes francês, Emmanuel Macron, e do beninês, Patrice Talon, mas eles não aparecem no filme. A diretora insiste em que devolveram apenas 26 obras das 7.000 que seguem cativas no museu de Quai Branly.


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