Drama sócio-histórico e intimista, "Guerra Fria" coloca Polônia em destaque no Oscar

Drama sócio-histórico e intimista, "Guerra Fria" coloca Polônia em destaque no Oscar

Filme de Pawel Pawlikowski concorre em três categorias na principal premiação do cinema mundial

Eric Raupp

Drama sócio-histórico e intimista, "Guerra Fria" coloca Polônia em destaque no Oscar

publicidade

A revelação dos indicados ao Oscar, na manhã de terça, coroou "Roma" como o grande cinematográfico da temporada. A sensação da Netflix, dirigida por Alfonso Cuarón, já fez história na premiação, mas outro filme em preto e branco e em língua estrangeira também ganhou proeminência. "Guera Fria", o drama romântico de Pawel Pawlikowski que vai representar a Polônia na disputada, recebeu três nomeações, o maior número já registrado pelo país na competição da Academia.

Além de concorrer na categoria de melhor filme estrangeiro, a cooprodução polonesa-britânica-francesa também está na disputa pelo troféu de melhor fotografia e direção. O recorde anterior era justamente de Pawlikowski, com duas indicações por "Ida", que venceu a categoria dedicada a produções em língua não-inglesa. A outra nomeação era em fotografia, com direção de Lukasz Zal, que também comandou o concorrente polaco neste ano.

Em uma coincidência, tanto “Guerra Fria” quanto “Roma” são vagamente baseados nas vidas das próprias famílias dos diretores. O longa europeu se inspira na história dos pais de Pawlikowski, músicos que se conheceram na Polônia pós-Segunda Mundial. Falando sobre seus genitores após receber o prêmio de melhor diretor em Cannes pela obra, ele disse que "são os personagens dramáticos mais interessantes que já vi... pessoas fortes e maravilhosas, mas como um casal, um desastre sem fim".

Sobre as indicações ao Oscar, ele afirmou à revista Variety que seus pais "estariam na lua", acrescentando: "Há sempre uma nota de tristeza em momentos como este. Eles morreram pensando que eu era um anarquista inútil". O autor disse que ficou surpreso e atribuiu o sucesso do filme à representação do amor no centro do enredo e do contexto geopolítico em que se desenrolou. "Parecia que era a combinação da estória, a história, a imagem, a música e como tudo funcionava em conjunto", disse Pawlikowski.

Nas telas, os personagens principais compartilham nomes e traços de caráter com a mãe e o pai do cineasta, suas narrativas individuais são fictícias e alusivas, e fazem o espectador viajar por diferentes cenários, do interior da Polônia para as ruas de Berlim Oriental, de Paris à Iugoslávia, por mais de 15 anos a partir de 1949.

É neste período turbulento, no qual a Polônia está chegando a um acordo com o comunismo forçado do pós-guerra, que os protagonistas Zula, uma aspirante a cantora que faz um teste para uma trupe, e Wiktor, o diretor do grupo que a contrata, iniciam um relacionamento inquietante. A Guerra Fria, como o título indica, é claramente uma referência aos eventos geopolíticos que marcaram gerações inteiras na Europa Oriental, mas também à relação entre os dois. Sua paixão instantânea e química logo se transformam em uma guerra fria própria.

Abrir-se para o mundo era o objetivo dos cineastas poloneses na era da Guerra Fria, que efetivamente romperam as barreiras da censura no país depois de 1956. A mais recente produção de Pawlikowski é uma expressão simbólica dessa busca. A história da família do diretor adquire a dimensão de um mito europeu do pós-guerra. É uma parábola do grande melodrama, do amor mais forte que a traição, de viver num continente dividido onde a ira e a mentira se tornaram uma compulsão, a razão de ser.

Celebrações às indicações

Lukasz Zal contou ao jornal Gazeta Wyborcza, publicado em Varsóvia, que suas pernas ficaram bambas com as nomeações, mais especificamente àquela de melhor fotografia, pela qual foi responsável. "Todos me perguntam o que eu pensava quando ouvi meu nome ser lido na cena, mas, para ser sincero, se eu fosse citar meus pensamentos, provavelmente teria palavras que eram obscenas. Foi apenas um momento lindo, senti pura alegria. É ótimo ser notado, estar entre esses criadores", comentou.

Zal ainda revelou que conversou com o diretor após o anúncio e eles se felicitaram. "Havia poucas palavras nessa conversa, e elas eram muitos gritos de alegria. Não penso no prêmio, assim como tentei não pensar em nomeações. Eu tento desistir das minhas expectativas. Quando parei de esperar pelo sucesso, eles começaram a vir para mim", completou

A produtora do longa, Ewa Puszczynska, disse ao jornal Gazeta Wyborcza, publicado em Varsóvia, que está "emocionada e feliz". "Gostaria de enfatizar que, mesmo que as indicações não estivessem lá, isso não mudaria o fato de termos feito um filme absolutamente excelente. Continuaremos a promovê-lo e espero ter um final feliz em todas as três categorias. Qualquer um que assiste a 'Guerra Fria' fica encantado com este filme, e é por isso que tentamos alcançar um público amplo", analisou.

Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta deste domingo, dia 28 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895