Espetáculo de Claudia Abreu traça um inventário íntimo de Virginia Woolf

Espetáculo de Claudia Abreu traça um inventário íntimo de Virginia Woolf

Atriz assina o texto e protagonismo do solo "Virginia", em cartaz em Porto Alegre neste final de semana

Vera Pinto

Atriz Cláudia Abreu experimenta processo de liberdade criativa, em 35 anos de carreira, ao escrever o próprio monólogo

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As dores da existência e a condição feminina ontem e hoje são os temas centrais de “Virginia”, espetáculo idealizado e escrito por Claudia Abreu, que aborda o aspecto humano, em detrimento do literário, da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Em seu primeiro monólogo, o trabalho marca a estreia da atriz na dramaturgia e o retorno da parceria com o diretor Amir Haddad. As apresentações no Rio Grande do Sul foram realizadas na terça-feira, 4 de outubro, às 20h30min, em Santa Cruz do Sul (Teatro Mauá); nesta quinta-feira, 6, às 20h, em Santa Maria (Theatro Treze de Maio) e seguem neste sábado, 21h, e domingo, às 18h (dias 8 e 9 de outubro), em Porto Alegre (Theatro São Pedro). Os ingressos para as sessões na capital gaúcha, estão no site do teatro

A peça estreou no início de julho, em São Paulo, onde ficou por cinco semanas com ingressos esgotados e fez três apresentações bem sucedidas em Belo Horizonte. Buscando os atravessamentos de Virginia Woolf em sua carreira, Claudia - que atuou em “Orlando” (1989) de Bia Lessa quando tinha 18 anos - levou cinco anos no processo de pesquisa e experimentação. O texto é calcado nos fluxos de consciência da autora, que tanto caracterizaram sua obra. “É um inventário íntimo que ela faz sobre sua vida em seus últimos instantes de consciência, embaixo d’água”, diz a artista sobre a escritora, que se suicidou ao entrar em um rio com os bolsos do casaco cheios de pedras. O grupo de intelectuais de Bloomsbury, do qual fazia parte, a condição feminina, sanidade e loucura são temas apontados. 

Virginia Woolf tinha muitos traumas, pelos abusos sofridos, tragédias familiares e por ser casada com um homem e ter desejo por mulheres. Nunca frequentou a escola, mas formou-se de forma autodidata e se tornou uma das escritoras mais importantes do século XX, apesar das adversidades. Tinha problemas mentais, em diagnósticos que variavam - dependendo de quem a analisava - entre a bipolaridade, a esquizofrenia e a depressão, explica a autora. Seu fascínio pela obra de Woolf se dá pelo dom de escrever de maneira sofisticada, dadas as metáforas e formatos poéticos - e ao mesmo tempo simples. “O que me interessa nela é o sentido profundo da existência, com riqueza de palavras, sem que isto seja hermético. Ela fala do que nos toca: a existência, os sentimentos e as relações”, declara. 

Amir Haddad, que a orientou em “Noite de Reis” (1997), a dirige nesta montagem, que tem a codireção de Malu Valle. A dupla lhe ajudou a descobrir como queria contar esta história, sem cenário, costurada pela luz e a trilha sonora e que virou livro, através da editora Nós. “Virginia - Um inventário íntimo” de Claudia Abreu está disponível para venda nos locais por onde tem passado. Em cartaz com a série “Desalma”, a atriz escrevendo a própria peça pode experimentar pela primeira vez de liberdade criativa, após 35 anos de trajetória artística. “Poder atuar e escrever sozinha foi surpreendente. Estou mostrando o que eu realmente quero falar”, expõe. “Ela ajudou a pensar questões importantes numa época em que as mulheres não tinham voz”, finaliza. 


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