Esteban: o ídolo do rock platino fala sobre suas expectativas para os shows do final de semana

Esteban: o ídolo do rock platino fala sobre suas expectativas para os shows do final de semana

Esteban Tavares conta sobre sua história, seu processo criativo e sua relação com Fito Páez

Caroline Guarnieri *

“Eu falo brincando, mas é uma grande verdade: eu acho que abandonar a Fresno foi diretamente por causa do Fito Páez”, conta o músico, que faz dois shows em Porto Alegre neste final de semana

publicidade

O compositor, cantor e instrumentista Esteban Tavares encerra a turnê comemorativa dos dez anos do seu disco “Adiós, Esteban” no Bar Opinião (rua José do Patrocínio, 834 - Cidade Baixa, Porto Alegre) neste domingo, 7. Antes disso, o ídolo vai abrir o show do argentino Fito Páez, neste sábado, 6, no Araújo Vianna (av. Osvaldo Aranha 685 - Farroupilha, Porto Alegre).

Em entrevista exclusiva ao Correio do Povo, Tavares fala sobre as suas expectativas para as apresentações e os preparativos para o novo álbum. Ele admite que Páez é uma das suas maiores influências musicais. “Eu nunca tive coragem de falar com ele, é aquela coisa mesmo de fã infantil, né?”, confessa. Ele atribui ao músico parte do motivo pelo qual saiu do posto de baixista da banda Fresno.

Confira abaixo os principais trechos da conversa. O vídeo com a entrevista na íntegra pode ser conferido no canal do Youtube do Correio do Povo, ou no fim desta matéria.

Correio do Povo - Tu começou a tocar bateria aos 11 e guitarra aos 13. Naquela época, tu já imaginava que tu ia chegar onde tu tá hoje?

Esteban - Eu nunca imaginei que ia chegar aqui. Nunca imaginei que ia viajar o Brasil tocando e que eu teria o público meu. Eu sou um bom pessimista, né? Na época também tinha aquele “fantasma” do músico. Eu sou nascido nos anos 80, então todo mundo tinha muito medo. “Ah, o cara quer ser músico”. Minha família sempre me apoiou totalmente, mas eu vi esse esse medo dos meus colegas no colégio, dos nossos professores. O músico sempre carrega com ele essa coisa do “eu acredito que eu posso chegar lá”, mas as pessoas na volta às vezes estão mais preocupadas do que tu quanto a isso. Para mim, quando eu comecei a tocar na noite de Porto Alegre, muito antes de compor minhas músicas e tal, porque foi meu primeiro emprego mesmo como músico, eu já tava extremamente feliz. Eu tava extremamente realizado, aquilo para mim já era tudo.

Quando isso passou ao reconhecimento do meu trabalho, eu vou te dizer que eu não consegui nem aproveitar tanto quanto eu imaginava, porque eu nunca esperei que fosse realmente chegar esse momento. Quando ele chegou, foi uma surpresa tão grande que eu só pensava em trabalhar naquilo para poder continuar vivendo. E estamos aqui 20 anos depois.

CP - O teu nome é Rodrigo. De onde veio o projeto “Esteban”? Sei que tu criou como carreira solo, mas no que ele se diferencia do Rodrigo Tavares?

Esteban - Na verdade, na época quando eu comecei a fazer essas músicas, elas eram músicas que eu continuava escrevendo mas que não tinham muito a ver com o que a Fresno estava fazendo. Então eu fui guardando essas músicas e pensando “despretensiosamente eu vou gravar isso aqui, um dia, quem sabe, eu lance”. Mas eu me lembro que tinha uma música do Engenheiros do Hawaii que era “Anoiteceu em Porto Alegre”, que tinha uma narração do gol do Grêmio do campeonato mundial.
Eu sempre pensei brincando que se o Inter for campeão mundial eu ia fazer uma música com a narração do gol do Inter só pra provocar Humberto. Aí aconteceu de o Inter ser campeão mundial bem quando eu tinha entrado na Fresno, em 2006, então no começo 2007, eu no MySpace uma música que eu tinha gravado com a narração do Inter. 

Só que eu não tinha um nome pro meu projeto solo, e achava Rodrigo Tavares muito simples, eu era conhecido na Fresno como Tavares, mas achava que não era um bom nome solo, e casualmente uma amiga minha tinha ido para o Uruguai e mandou uma foto de um muro de grafite que no meio dizia “Adiós, Esteban”. Eu falei que era um bom nome para disco, é um nome bom para carreira solo. Mas a intenção não era me chamar Esteban Tavares, a intenção era ser só o nome do projeto solo. Mas ali em 2008 quando eu entrei pro Twitter eu pensei que precisava fazer um @ que mostre que eu sou o Tavares da Fresno pro pessoal me seguir, mas que também eu possa divulgar essa carreira solo. Então veio o @estebantavares e consequentemente eu perdi o meu nome próprio.

CP - Então a identidade dos dois se mescla?

Esteban - É a mesma coisa. Tinha o conceito de blog antigamente, que as pessoas contavam suas vidas, eu sempre falei que os meus discos eram os meus blogs. Eu falo muito da minha vida pessoal nas músicas, claro que às vezes eu tenho que usar as estrelinhas para não ser tão direto, mas é basicamente a minha vida contada em músicas.

CP - Eu sei que tu já se identificou com ritmos platinos. O que isso significa?

E - A Cisplatina. Eu sempre fui muito fã, desde criança, devido ao meu pai, da música do Rio Grande do Sul. Depois mais velho, estudando música, eu fui descobrindo que essa música nossa aqui na verdade vem de uma origem chilena, argentina, uruguaia, como chacarera, milonga e tango. Eu comecei a incorporar muito isso nas minhas músicas, às vezes nem ritmicamente, mas os acordes, os jeitos de compor. Depois de adolescente comecei a ouvir muitos artistas latino-americano, muitas bandas de rock, principalmente da Argentina. Rock gaúcho também, Nenhum de Nós, Cidadão Quem, Engenheiros. Isso com os argentinos, que eles chamam de folclóricos, todo esse liquidificador virou a minha música.

CP - Como tu faz pra fazer essa mistura tão grande ter sentido musicalmente? Ou às vezes nem tem e tudo bem?

Esteban - Eu acho que não ter sentido é o barato. Tem muitas bandas que começam se espelhando em outras bandas, tentando fazer uma coisa igual, esquecendo às vezes que essas bandas já existem. E eu acho que essa mistura, mesmo sem querer, às vezes criativa, porque eu ouço muita coisa, é o grande barato que eu faço. A carreira solo te dá oportunidade de não ter um selo assim dizendo um estilo pré-definido que as músicas são com guitarra, bateria e baixo. Eu usei muito acordeon nas minhas músicas, eu usei muita percussão, usei instrumentos que eu nunca imaginei que ia usar, e eu acho que esse é o grande barato. Eu achava que o pessoal de São Paulo para cima não ia entender no começo. No final das contas não deixa de ser pop também, porque a minha criação de escrita também é pop. Embora as minhas músicas tenham influências de outras culturas, eu tenho um formato de escrever que é baseado na música pop, então acho que isso deu super certo para mim, e isso me dá um grande prazer em fazer música. Cada vez que eu ouço alguma coisa nova de algum artista de outra região ou do próprio Brasil. Eu posso implementar isso na minha música sem ter muita barreira. 

CP - Então é como se fosse uma linguagem acessível, internacional, mas com uma roupagem diferente? 

Esteban - Exatamente. A roupagem é essa coisa que a gente tá muito acostumado no Rio Grande do Sul, do gaúcho, do uruguaio, do argentino, as músicas folclóricas deles - que também os artistas transformaram isso em rock e pop na época. Eu bebo diretamente dessa fonte. 

CP - E como foi que surgiu assim essa tua paixão pelo espanhol e pela América Latina? É uma coisa que vem contigo desde a infância ou da família? 

Esteban - Não, na verdade foi muito sem querer. Eu me lembro, acho que foi em 94, por aí, o Fito Páez tinha feito um grande sucesso com “El Amor Después Del Amor”, então aqui no Rio Grande do Sul algumas rádios começaram a tocar músicas dele e eu acabei assistindo um show dele e fiquei encantadíssimo. Eu tava num festival de rock e daqui a pouco chega um cara com uma banda de 11 pessoas no palco misturando tudo isso que eu já gostava também desde a infância. Na época eu pelo menos não tinha internet, então eu comecei a fazer um certo trabalho de formiguinha, de procurar quem eram os outros, quem eram as pessoas que vieram antes dele. 

Todo ano eu viajo pra Argentina e eu nunca fui para lá como turista, eu sempre fui para lá atrás dos músicos, de conhecer a história deles, de saber como eles formaram aquele movimento do rock argentino. Mas eu sempre falo que eu sou brasileiro. Não tenho intenção nenhuma de fazer carreira em espanhol. Não é nada disso, mas sim beber dessa fonte musical que eu acho até que eles perdem por não beber da nossa fonte musical, porque o Brasil é riquíssimo ritmicamente a gente perde muito de estar tão perto dessa galera e também não usar isso a nosso favor.

O músico se apresenta no sábado, 6, no Araújo Vianna, e no domingo, 7, no Bar Opinião | Foto: Guilherme Almeida / CP

CP - Sobre o Fito, tu vai abrir o show dele amanhã, no Araújo Vianna. Já tiveram outras colaborações antes?

Esteban - Sim, eu abri em 2018. Iria abrir em 2020, mas aí teve a pandemia. Eu vou te dizer que eu conheço toda a equipe do Fito, toda a banda, conheço a esposa dele, mas eu nunca tive coragem de falar com ele. É aquela coisa mesmo de fã infantil, né? A última vez que ele esteve aqui, eu me lembro de pedir para tirar uma foto e de pedir pra ele autografar os livros dele. Depois eu fui embora, não consegui nem dizer “ah, eu abri o show hoje”. Eu tenho para mim que ele realmente tem uma imagem muito grande para mim, assim como Humberto tem aqui no Brasil. Também eu sempre digo que eu vou abrir o show dele, vai ser importantíssimo para mim, e dividir um cartaz com ele para mim isso já é o máximo. Mas brincando ou não, a minha felicidade na verdade é saber que eu não vou pagar ingresso e vou poder assistir o show do lado do palco assim bem pertinho. Isso já me deixa numa felicidade absurda assim de poder ver ele mais uma vez.

CP - Tu é fã do Fito há muito tempo. O que tu acha que tu mais aprendeu com ele? Como ele te inspira criativamente? 

Esteban - Eu falo brincando, mas é uma grande verdade: eu acho que abandonar a Fresno foi diretamente por causa do Fito Páez, porque essa ideia de compor de maneiras diferentes, volta lá naquilo que a gente tava falando quando tinha 15 anos, aquilo lá mudou minha vida. Eu quis aprender a tocar piano por causa do Fito Páez, quis começar a escrever desse jeito por causa dele.

Se hoje eu tenho uma vida e vivo da música, claro que existiram pessoas. A Fresno foi importantíssima, foi quem me levou pra São Paulo, me levou a conhecer o Brasil. O Humberto me deu a oportunidade de fazer uma turnê com ele sendo meu grande ídolo. Mas a forma de escrita, a forma estética, vem do Fito. Ele não sabe disso, mas eu devo quase tudo ao Fito.

CP - Tu vai tocar nesse final de semana no Opinião também, com a turnê de dez anos do “Adiós, Esteban”. Por que tu escolheu encerrar a turnê em Porto Alegre?

Esteban - Eu acho que primeiro Porto Alegre foi quem me botou na música. Meu primeiro emprego que eu tive carregando coisa foi com a Cidadão Quem, sou um fã muito grande do Duca Leindecker. Quando eu era adolescente eu ia nos shows no Opinião e tinha uma vontade imensa de um dia poder dizer que toquei no Opinião. Eu criei uma amizade muito grande com o pessoal de lá desde então. Eu queria ter começado também por aqui, mas eu comecei em Belém do Pará, e pensei que seria justo terminar isso em Porto Alegre. Quem sabe Freud explica, mas é um sonho meio infantil mesmo, de estar no Opinião e poder dizer que tô acabando uma turnê aqui, principalmente um dia depois de abrir o show do Fito.

CP - O que tu acha que mudou nos últimos 10 anos, desde que tu lançou o álbum, musicalmente, liricamente e pessoalmente?

Esteban - Musicalmente, a gente vai sempre aprendendo. Eu acho que a gente vai morrer aprendendo porque a gente vai absorver coisas novas. E a vida mudou muito, conheci muitos artistas novos que me levaram a ter interesse para outras coisas, e acho que liricamente hoje, com 41 anos, eu eu não escrevo mais do jeito que eu escrevia sobre os problemas da vida, que na época para mim eram grandes problemas. Quando se está com uns 20 e poucos anos, o amor é uma coisa que tu romantiza de uma maneira absurda, sofre de verdade. Hoje, eu escrevo mais sobre outras coisas que me incomodam na vida, embora eu ainda ache que escrever sobre relações humanas é muito bacana, eu acho que é o melhor material.

CP - Tu comentou várias vezes que tu é uma pessoa pessimista. Como que tu se vê agora, 10 anos depois desse álbum, fazendo sucesso e em turnê com ele de novo? Tu esperava por isso? 

Esteban - Eu acho que o pessimista é maravilhoso por isso, porque quando a gente não espera que nada dê certo, quando dá certo a gente estoura um champanhe pra vida. Acho que se eu fosse um otimista e não tivesse dado certo eu teria tomado um tombo violentíssimo. Até hoje eu sou extremamente pessimista, qualquer trabalho que eu faço. Eu não me sinto um cara confiante na carreira, acho que a partir de quando tu começa a se sentir seguro numa carreira aí tu começa a cometer erros. Eu acho que tem que estar sempre preocupado. 

CP - Tu comentou que está trabalhando em um novo álbum. Pode falar um pouquinho pra gente sobre quais são os teus planos pro futuro?

Esteban - Em outubro eu vou fazer esse disco com o Nicolas Btesh na Argentina, que vai ter bastante participações de artistas da América Latina. Eu vou cantar em português, eu não tenho pretensão de fazer uma carreira lá cantando espanhol nem nada disso, mas eu consegui nesse disco artistas que eu gosto muito e que aceitaram participar. A ideia é fazer um disco realmente latino-americano juntando um brasileiro que gosta muito de artistas uruguaios e argentinos e botar tudo isso junto. Se chama “Dale Gracias”. Eu acredito que esse disco saia em dezembro ou no verão

CP - Pra gente encerrar falando um pouco sobre a tua agenda do final de semana, tu vai abrir pro Fito amanhã no Araújo Vianna e fazer o teu show solo no domingo no Bar Opinião. Tu comentou que está ansioso. Quais são as tuas expectativas para os shows?

Esteban - Rever os amigos, reencontrar as pessoas, poder assistir o show do Fito do lado do palco. Porque eu sou muito fã e ele tem uma carreira linda, agora acabou de sair a série sobre a vida dele que é linda também. É mais uma oportunidade que eu tenho de botar no meu currículo que eu estive lá. E domingo é aquela grande festa, somos amigos dos fãs de Porto Alegre que vão estar lá, vai ter a minha família também. Espero poder fazer uma turnê de 20 anos, porque eu acho muito legal essas turnês comemorativas, as pessoas poderem voltar um pouco no tempo e ver que as pessoas lá estão se sentindo como 10 anos atrás.

* Sob supervisão de Luiz Gonzaga Lopes


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta deste domingo, dia 28 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895