Flip anuncia demissão de curadora

Flip anuncia demissão de curadora

Fernanda Diamant afirma que "a Flip agora precisa de uma curadora negra para reinventá-la nesse mundo pós-pandemia"

Arte & Agenda

Fernanda Diamant deixa o cargo com uma nota de agradecimento e apontando caminhos para a Flip

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Fernanda Diamant decidiu deixar o cargo de curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Em nota, ela afirma que "a Flip agora precisa de uma curadora negra para reinventá-la nesse mundo pós-pandemia".

A organização da Flip disse que anunciará um novo titular para o cargo em breve e agradeceu a agora ex-curadora por seu "brilhante trabalho curatorial".

Fernanda esteve à frente da última edição da festa no ano passado, quando o evento homenageou o escritor Euclides da Cunha, e foi confirmada para a edição deste ano, que aconteceria entre os dias 29 de julho e 2 de agosto e foi adiada para novembro por causa da pandemia de coronavírus.

A escritora escolhida como a homenageada nesta edição é a norte-americana Elizabeth Bishop. A opção por uma autora estrangeira gerou polêmica na época do anúncio, contrariando a expectativa por um nome nacional. A indicação de Bishop recebeu critícas por ela ter sido simpática ao golpe militar de 1964 no Brasil e feito comentários ácidos sobre a arte brasileira.

Trechos da nota de Fernanda Diamant:

Uma das insatisfações de Fernanda aparece na parte:

“Eu havia decidido que pelo menos metade dos convidados de 2020 seriam autoras e autores negros, o que também seria inédito. Eu já tinha a maior parte dos convites confirmados quando veio a Covid-19. Desde o princípio defendi que não se poderia definir prematuramente uma nova data para o evento. À minha revelia, a Flip foi postergada para novembro. A pandemia se agravou, a condução genocida que o governo federal fez da crise sanitária deixou tudo muito sombrio. Cada vez mais me parecia que a celebração desenhada previamente pertencia a uma outra época e tinha perdido sentido. Não havia nada a ser comemorado. Ainda não há. Era preciso repensar a curadoria e até mesmo o próprio evento –virtual ou não– à luz dos acontecimentos”.

O momento de mudança apontado por ela:

[..].  “Esses dias mais intensos de levante antirracista me fizeram entender que precisamos lutar mais ativamente, agir da forma mais contundente possível. Mais que uma programação com autoras e autores negros, a Flip agora precisa de uma curadora negra para reinventá-la nesse mundo pós pandemia. Uma mulher negra, na minha opinião, é a renovação que o evento mais importante da literatura do país precisa. Ao longo de 18 anos, a curadoria da Flip jamais foi ocupada por uma pessoa negra. Passou da hora disso mudar. Como curadora, entendo que é meu papel levar em conta questões artísticas e políticas (sendo que a arte, por sua vez, é sempre política). Por essa razão, decidi pedir demissão e declarar meu desejo de ceder esse espaço de privilégio de forma pública. A direção da Flip reagiu positivamente à minha ideia, o que me deixa esperançosa. Sou sinceramente grata à Flip por tudo que pude aprender e criar nesse trabalho, que é acima de tudo coletivo”.


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