Fundação Iberê fecha 2021 com um recorte de esculturas de José Resende

Fundação Iberê fecha 2021 com um recorte de esculturas de José Resende

Exposição "Na Membrana do Mundo" abre hoje, às 14h, no dia em que será reativado o famoso mirante suspenso no ar "Olhos Atentos", às 11h, na orla do Guaíba e que estava fechado ao público desde 2019

Correio do Povo

"Na Membrana do Mundo" expõe 18 obras misturam diversos materiais, como parafina, feltro, aço, ferro, chumbo, latão, cobre, madeira, pedra, borracha

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Neste sábado, à 14h, a Fundação Iberê Camargo (Padre Cacique, 2000) abre a 9ª e última exposição de 2021, "Na Membrana do Mundo", que reúne 18 esculturas em grandes dimensões do paulista José Resende. Esta é a primeira vez que Porto Alegre recebe um conjunto significativo de obras – produzidas entre 1974 e 2018 –, que marca a trajetória do artista. 

Em mais de 50 anos dedicados às artes plásticas, uma das principais características de Resende é a apropriação de materiais comuns e sua ressignificação em instalações com uma forte densidade poética e grande potência visual. As obras misturam diversos materiais, como parafina, feltro, aço, ferro, chumbo, latão, cobre, madeira, pedra, borracha e têm ao mesmo tempo o desafio de fazer um trabalho com humor, tensão, oposições de sentido e movimento latente.

“Os materiais encontrados nas obras são aqueles que habitam de forma anônima o dia a dia dos espaços urbanos. Aqui, estão sempre em contato um com o outro, instaurando uma cadeia de vizinhanças fecundas: quente/frio, líquido/sólido, rígido/mole, opaco/transparente, liso/áspero. Articulados, formam esculturas que possuem uma natureza construtiva capaz de endereçar perguntas para o olhar. Se na vida diária as nossas retinas são inundadas por imagens que parecem aportar mais certezas do que dúvidas, com cada trabalho de Resende ocorre o inverso. Diante deles uma espécie de desconcerto nos atravessa e somos interrogados por aquela forma que não encontra paralelo no mundo, pois fruto de um ato poético que inaugura um imaginário singular a partir do que se encontrava até então adormecido no prosaico cotidiano”, destaca a curadora Luisa Duarte, que tem entre seus trabalhos as exposições “Adriana Varejão – Por uma Retórica Canibal”, no Museu de Arte Moderna da Bahia, e "Tunga - o Rigor da Distração", a primeira grande mostra no Museu de Arte do Rio após a morte do artista, em 2016, além do livro "ABC – Arte Brasileira Contemporânea", organizado com Adriano Pedrosa.

Obra "Olhos Atentos"
Se, por um lado, a capital gaúcha não havia recebido uma exposição ampla de Resende, por outro, uma obra de sua autoria tem lugar de destaque no coração da cidade: a escultura "Olhos Atentos", o famoso mirante localizado na orla do Guaíba. Em 2005, José Resende foi um dos artistas convidados pela 5ª Bienal do Mercosul para produzir obras permanentes para Porto Alegre. Segundo o curador-geral na época, Paulo Sérgio Duarte – pai de Luísa –, “as intervenções foram pensadas como obras de arte para serem usadas pelo público, para que ele passeasse sobre elas, olhasse a paisagem a partir delas ou simplesmente descansasse sobre elas". 

Após três anos fechada, a Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, reabre "Olhos Atentos" também neste sábado, às 11h. Para garantir a segurança dos visitantes, a GAM3 Parks, concessionária responsável pelo trecho da orla, instalou um regulador de público.

Sobre José Resende
Formado em Arquitetura pela Universidade Mackenzie (SP), em 1963 começou a cursar gravura na FAAP e a estudar com Wesley Duke Lee. Enquanto estagiava no escritório do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em 1966, fundou com os artistas Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo e Frederico Nasser a Rex Gallery and Sons. Em 1970, fundou com Fajardo, Nasser e Luís Baravelli o centro de experimentação artística Escola Brasil, onde lecionou por quatro anos.

Ao longo de sua carreira, desenvolveu uma atuação pungente dentro do debate da arte e da cultura no Brasil, sobretudo entre 1960 e 1980, época em que o país estava sob o jugo da ditadura militar. A partir da década de 1990, criou inúmeros projetos, permanentes e temporários, especialmente para espaços urbanos. Destacam-se: a ação efêmera em que orquestra o empilhamento de blocos de granito em uma edição do Arte/Cidade em 1994, em São Paulo; o Marco dos 100 milhões de toneladas em 1997, em Volta Redonda; a peça Centopeia, inicialmente concebida para Avenida Paulista e que atualmente reside no Parque Ibirapuera; os três pares de vagões suspensos às margens da Radial Leste, em São Paulo, para a edição de 2002 do Arte/Cidade e o mirante de 23m que avança sobre o Guaíba, em Porto Alegre, produzido na V Bienal do Mercosul e intitulado "Olhos Atentos".

Assumindo diferentes dimensões e formas através dos tempos e trabalhando com materiais de natureza distintas, como a parafina, o concreto, o vidro e o aço, o próprio artista identifica três tendências marcantes em sua produção: entre 1970 e 1980, trabalhos constituídos de materiais como placas de metal, pedra, tubos, fios ou cabos que traçavam linhas, vetores e construíam planos a fim de desafiar a geometria do espaço expositivo; nos anos seguintes, trabalhos com materiais que assumem diferentes funções a partir da transformação de seus estados, como materiais líquidos que, ao se solidificarem, ganham outra forma e maleabilidade; e, por fim, um terceiro momento, em que substitui a forma obtida pelo acaso através de uma maior intencionalidade em seu desenho, o que em alguns casos estabelece, inclusive, uma espécie de retomada ao teor figurativo presente nos seus primeiros trabalhos. Se considerarmos as obras presentes na sua maior individual, realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2015 - como "Duas vênus deitadas" (2015), "Dobras" (2015) e "Sorriso" (2015) - esse último momento apontado pelo artista parece ainda estar em curso.

Além de expor diversas vezes na Bienal Internacional de São Paulo (9ª, 17ª, 20ª e 24ª) e em importantes instituições nacionais e internacionais ao longo dos seus quase 60 anos de carreira, seus trabalhos figuram em importantes coleções públicas como MoMA (Museum of Modern Art), Museu de Arte Moderna de São Paulo e Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 


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