Guitarrista do The National transforma poemas de Alfonsina Storni em música

Guitarrista do The National transforma poemas de Alfonsina Storni em música

Bryce Dessner compôs ciclo para a partir dos trabalhos da autora argentina morta em 1938

AFP

Obra foi composta para a mezzo-soprano Kelley O´Connor

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Alfonsina Storni, uma feminista do início do século XX, é uma das poetisas modernas mais celebradas da Argentina - mas está longe de ser um nome familiar fora do mundo de língua espanhola. Agora, Bryce Dessner, o compositor e guitarrista da banda indie The National, quer popularizar o trabalho da escritora, cujos versos eram sobretudo melancólicos e amorosos. Ele transformou em música vários poemas da autora: um ciclo de canções foi composto para a mezzo-soprano Kelley O'Connor e leva como título "Voy a Dormir", a poesia final da argentina, enviada a um jornal antes dela se jogar no mar em 1938, quando tinha 46 anos.

"Suas palavras me parecem eternas, realmente, elas são tão atraentes e poderosas agora quanto provalvelmente eram antes", disse Dessner, de 41 anos. A Orquestra de St. Luke tocou com Kelley na estreia mundial da peça na quinta-feira, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, sob a direção de Robert Spano, diretor musical da Orquestra Sinfônica de Atlanta e defensor da música contemporânea. Dessner escreveu a peça depois de ouvir a intérprete cantar outra adaptação musical de poesias em espanhol, "Canciones de Neruda", do compositor Peter Lieberson, uma apresentação que ele classificou como "incrivelmente bela".

Dessner, que estudou espanhol na Universidade de Yale, onde também obteve o mestrado em música, conheceu os poetas da geração de 1927 muito bem, especialmente Federico García Lorca, mas ele percebeu que as mulheres, antes e agora, eram mal representadas. "Eu estava lendo poesia em espanhol e fiquei impressionado com quanto o que ouvimos dessa época é muito masculino, até mesmo a própria poesia tem uma espécie de machismo. Pensando em Kelley, e também onde estamos no mundo, eu realmente queria trabalhar com as palavras de uma poeta feminina", comentou.

O músico foi atraído para a figura de Alfonsina em parte pela canção "Alfonsina y el o Mar" da estrela Mercedes Sosa. Enquanto expressa modéstia sobre o quanto sua peça pode realizar, Dessner disse que não havia nenhuma razão para que ela fosse menos conhecida internacionalmente do que Lorca. Ela nasceu na Suíça e emigrou para a Argentina como uma criança. Foi mãe solteira, tinha câncer de mama e trabalhava em uma variedade de empregos para sustentar a si mesma e a seu filho. Tudo isso alimentou sua alma e serviu como seiva para suas produções.

O ciclo de canções de Dessner abre caminho etéreo com o poema "Yo en el Fondo del Mar", antes da mais românticas "Dulce Tortura" e "Faro en la Noche". Cordas e percussão crescem no poema de fechamento, criando um clima aquático e nebuloso quando Kelley interepreta dolorosamente "Voy a dormir". A cantora, uma norte-americana que encontrou nova expressão musical em espanhol, disse que era "libertador" participar desta iniciativa. "Eu respondi ao seu tormento pessoal e também a rendição em sua poesia. Há uma dor requintada e uma aceitação impressionante", analisou.

Para Dessner, a estreia vem menos de um mês depois da banda The National - formada em Cincinnati há quase duas décadas e conhecida por acordes sombrios de guitarra - ganhar o Grammy de Melhor Álbum de Música Alternativa por "Sleep Well Beast". O compositor, que mora em Paris e venceu um Grammy há dois anos por conta própria em uma categoria de música de câmara, disse que o grupo apreciou, mas não esperava o prêmio. "É engraçado que esses marcos de carreira geralmente cheguem ao ponto em que você não está realmente à beira do seu lugar esperando por ele", comentou ele com uma risada.

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